Mais uma vez, a presidente da República foi vaiada
por plateia, em cerimônia realizada na cidade de Ceará-Mirim (região
metropolitana de Natal), ao defender a governadora do Rio Grande do Norte,
que havia sido vaiada durante seu discurso. A veemência das vaias à governadora
causou mal-estar aos presentes na inauguração pela presidente da República de
três institutos federais. A governadora foi obrigada a interromper seu discurso,
em virtude de ruidoso barulho das vaias protagonizadas por estudantes, que
indicavam o polegar para baixo, em tom de reprovação à sua gestão, que foi
complementada com gritos de “fora, fora”. Comovida com o lamentável episódio, a
mandatária do país pediu “respeito” à governadora, dizendo que “A gente pode discordar delas (das
pessoas), mas a gente tem que deixá-las
dizer o que pensam. Vamos respeitar a governadora que está aqui”, afirmando
que “Isso é feio”, no que também foi
atendida com vaias. A presidente argumentou, em defesa da governadora, que “Cidadania é respeito, ninguém respeita quem
não te respeita”. Em razão das crises econômica e administrativa da sua
gestão, a governadora tem sido avaliada com as piores notas, tendo desaprovação
que atinge 83% da população do seu estado. As vaias, tanto
para a governadora quanto para a presidente da República, são certamente
motivadas, no caso, porque as suas atuações representam o descaso, a
desconsideração, o desprezo e a eterna falta de competência à frente das suas
administrações nos governos estadual e federal. A presidente ressaltou que é
feito vaiar autoridades de corpo presente, o que não deixa de ser grande
assertiva e pura verdade quando elas se dão o respeito perante a sociedade, ao
demonstrarem esforço e dedicação no desempenho dos seus mandatos eletivos, que
parece não ser o caso das autoridades presentes ao palanque, que estão à frente
de governos fragilizados pela pífia gestão, deixando de priorizar as políticas
públicas e atender de maneira satisfatória as necessidades básicas da
sociedade. Enquanto os governantes não demonstrarem preparo, dignidade e
competência no exercício dos seus cargos, o povo tem todo direito de reprovar
seus atos que não condizem com os anseios sociais, porque esse sentimento é
próprio da identidade do brasileiro, que tem obrigação de se manifestar contra
a mentalidade mesquinha do poder, que é incapaz de captar a real angústia da
população, ante a falta de realizações mínimas em seu benefício. No Estado
Democrático de Direito, onde o poder emana do povo, é inadmissível que alguém
não tenha a sensibilidade de reconhecer e entender que a população tem todo
direito de dizer o quanto não está satisfeita com as pessoas públicas eleitas
com seu voto, para representá-la. Diante das conquistas da humanidade, em
consonância com a modernidade e o desenvolvimento alcançados em todas as áreas
do conhecimento, inclusive abrangendo o aperfeiçoamento da democracia, já
passou do tempo de o povo decidir soberanamente sobre a avaliação do desempenho
dos seus representantes políticos, desde o ocupante do menor ao mais elevado
cargo público eletivo, com vistas a decidir pelo afastamento definitivo daquele
que não corresponder em competência o seu desempenho no exercício do cargo,
como, ao que demonstra o caso da governadora do Estado do Rio Grande do Norte,
que conseguiu a inédita desaprovação de mais de 80% da população do seu estado.
No caso, meras vaias não correspondem exatamente ao que ela realmente merece,
porque a permanência dela no cargo é extremamente prejudicial aos interesses da
população. Urge que a legislação político-eleitoral seja reformulada e
aperfeiçoada, de modo a possibilitar que administradores públicos e ocupantes
de cargos públicos eletivos em geral possam ser afastados deles à medida que a
sua atuação gerencial comprometa seriamente a capacidade mínima de atendimento
das causas de interesse público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 04 de outubro de 2013
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