sábado, 5 de outubro de 2013

Merecimento além das vaias

Mais uma vez, a presidente da República foi vaiada por plateia, em cerimônia realizada na cidade de Ceará-Mirim (região metropolitana de Natal), ao defender a governadora do Rio Grande do Norte, que havia sido vaiada durante seu discurso. A veemência das vaias à governadora causou mal-estar aos presentes na inauguração pela presidente da República de três institutos federais. A governadora foi obrigada a interromper seu discurso, em virtude de ruidoso barulho das vaias protagonizadas por estudantes, que indicavam o polegar para baixo, em tom de reprovação à sua gestão, que foi complementada com gritos de “fora, fora”. Comovida com o lamentável episódio, a mandatária do país pediu “respeito” à governadora, dizendo que “A gente pode discordar delas (das pessoas), mas a gente tem que deixá-las dizer o que pensam. Vamos respeitar a governadora que está aqui”, afirmando que “Isso é feio”, no que também foi atendida com vaias. A presidente argumentou, em defesa da governadora, que “Cidadania é respeito, ninguém respeita quem não te respeita”. Em razão das crises econômica e administrativa da sua gestão, a governadora tem sido avaliada com as piores notas, tendo desaprovação que atinge 83% da população do seu estado. As vaias, tanto para a governadora quanto para a presidente da República, são certamente motivadas, no caso, porque as suas atuações representam o descaso, a desconsideração, o desprezo e a eterna falta de competência à frente das suas administrações nos governos estadual e federal. A presidente ressaltou que é feito vaiar autoridades de corpo presente, o que não deixa de ser grande assertiva e pura verdade quando elas se dão o respeito perante a sociedade, ao demonstrarem esforço e dedicação no desempenho dos seus mandatos eletivos, que parece não ser o caso das autoridades presentes ao palanque, que estão à frente de governos fragilizados pela pífia gestão, deixando de priorizar as políticas públicas e atender de maneira satisfatória as necessidades básicas da sociedade. Enquanto os governantes não demonstrarem preparo, dignidade e competência no exercício dos seus cargos, o povo tem todo direito de reprovar seus atos que não condizem com os anseios sociais, porque esse sentimento é próprio da identidade do brasileiro, que tem obrigação de se manifestar contra a mentalidade mesquinha do poder, que é incapaz de captar a real angústia da população, ante a falta de realizações mínimas em seu benefício. No Estado Democrático de Direito, onde o poder emana do povo, é inadmissível que alguém não tenha a sensibilidade de reconhecer e entender que a população tem todo direito de dizer o quanto não está satisfeita com as pessoas públicas eleitas com seu voto, para representá-la. Diante das conquistas da humanidade, em consonância com a modernidade e o desenvolvimento alcançados em todas as áreas do conhecimento, inclusive abrangendo o aperfeiçoamento da democracia, já passou do tempo de o povo decidir soberanamente sobre a avaliação do desempenho dos seus representantes políticos, desde o ocupante do menor ao mais elevado cargo público eletivo, com vistas a decidir pelo afastamento definitivo daquele que não corresponder em competência o seu desempenho no exercício do cargo, como, ao que demonstra o caso da governadora do Estado do Rio Grande do Norte, que conseguiu a inédita desaprovação de mais de 80% da população do seu estado. No caso, meras vaias não correspondem exatamente ao que ela realmente merece, porque a permanência dela no cargo é extremamente prejudicial aos interesses da população. Urge que a legislação político-eleitoral seja reformulada e aperfeiçoada, de modo a possibilitar que administradores públicos e ocupantes de cargos públicos eletivos em geral possam ser afastados deles à medida que a sua atuação gerencial comprometa seriamente a capacidade mínima de atendimento das causas de interesse público. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 04 de outubro de 2013

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