quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A balela do imenso carinho...

A presidente da República sancionou a lei que institui o Mais Médicos, programa do governo federal que se destina a levar profissionais brasileiros e estrangeiros para atender a população em áreas carentes das periferias de grandes cidades e do interior do país. Na ocasião, ela disse: "É um programa que eu considero dos mais importantes do meu governo...". Na solenidade, ela pediu desculpas ao médico cubano, presente à cerimônia, que foi hostilizado em Fortaleza durante ato contra o Mais Médicos, com xingamentos de “escravos” e “incompetentes”, por manifestantes contrários ao programa, dizendo: "Primeiro eu quero cumprimentar o Juan, não apenas pelo fato de ele ter sofrido um imenso constrangimento quando chegou ao Brasil, porque do ponto de vista pessoal e em nome do governo, eu tenho certeza, do povo brasileiro, eu peço nossas desculpas a ele". Ela agradeceu aos profissionais que vieram de fora do país, pela demonstração, em sua opinião, de "imenso carinho" com o povo brasileiro. Em conclusão, ela afirmou: "Mais uma vez finalizo agradecendo àqueles que não trouxeram sua família, que estão com saudade e que demonstram imenso carinho ao povo brasileiro. Eles vieram nos apoiar, nos ajudar. Esse país vai ficar eternamente grato a vocês. Talvez essa participação de vocês seja a mais perfeita, a mais completa, não só forma de integração da América Latina e dos outros países, mas também é um atestado de cidadania brasileira". Até quando a sociedade vai aceitar que o governo a iluda com a construção da sua popularidade à base do marketing em tudo que executa, como no caso desse programa Mais Médicos, que foi concebido com finalidades exclusivamente eleitoreiras e implementado, a toque de caixa, em consequência das manifestações de protestos das ruas, denunciando o desgoverno do país e exigindo políticas públicas decentes e de qualidade, em represália às faraônicas e injustificáveis obras para a Copa do Mundo, que não resultarão benefícios para a sociedade, em que pesem os elevadíssimos dispêndios custeados com recursos públicos. Ademais, sobreleva sublinhar que a celebração do famigerado e esdrúxulo ajuste com a ditadura cubana é verdadeira afronta aos princípios constitucionais e legais, por não primar pelo cumprimento das normas do Direito do Trabalho, uma vez que os profissionais da ilha não têm qualquer vínculo empregatício com o governo brasileiro, que ainda vai pagar ao governo da ilha os valores equivalentes aos salários que, de direito, deveriam ser entregues aos próprios médicos cubanos. O governo, isto sim, deve desculpas ao povo brasileiro, por não ter mostrado competência para o planejamento e a estruturação adequada do Sistema Único de Saúde - SUS, de modo a possibilitar a criação de quadro de pessoal próprio, com remuneração compatível às dificuldades e insalubridades das regiões do interior. O governo não teve a preocupação de cuidar da infraestrutura básica para o atendimento da saúde pública nas regiões mais carentes, mediante a preparação de instalações e de equipamentos técnico-especializados nos hospitais e nas unidades de atendimento, além do abastecimento de medicamentos. No caso, é preciso eficiente infraestrutura, não somente a presença do médico, que pouco poderá fazer somente com o seu conhecimento. O povo brasileiro sabe que os cubanos nãos acompanhem, mas a presidente aproveitou o ensejo para agradecer “... aqueles que não trouxeram suas famílias, que estão com saudade e que demonstram imenso carinho ao povo brasileiro. Eles vieram nos apoiar, nos ajudar...”. Isso soa como pura demagogia, por não representar exatamente a verdade dos fatos. Por sua vez, não há demonstração de carinho coisa alguma, porque os profissionais cubanos são obrigados a prestar serviços médicos nos países que firmaram acordo para o fornecimento desses profissionais, sob a forma esdrúxula de pagamento ao regime cubano. A sociedade percebe, com nitidez, que o programa Mais Médicos é estrategicamente importante para as pretensões eleitoreiras do governo e que a sua implementação poderia ter sido sem açodamento nem precipitação, mas, ao contrário, em estrita observância aos princípios constitucionais e legais, segundo os preceitos da administração pública de transparência, legalidade e eficiência, à luz dos ensinamentos republicanos da democracia. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 29 de outubro de 2013

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