Seca, nunca mais! Seca, nunca mais!...
A escassez de chuva no semiárido do Nordeste, que se arrasta desde 2012,
comprometeu a produção deste ano na região e pode prejudicar a produção do
próximo ano. A situação de calamidade contribuiu para a drástica diminuição do rebanho
de gado, cabras e ovelhas, principalmente pela inevitável morte dos animais. Os
municípios do interior da Paraíba foram afetados pela seca, causando terrível
dificuldade para alimentação das pessoas e dos animais de criação e para o
abastecimento de água, tendo consequência o desespero da população e a perda de
peso dos animais, quando conseguem sobreviver, em meio à catástrofe. O impacto
da seca tem sido arrasador, deixando os açudes sem água e a terra e a caatinga
devastadas pela secura, além das rachaduras do solo, constituindo o quadro
sociogeográfico mais desanimador e triste da face da terra. A destruição tem
sido dolorosa e muitas revelações impensáveis já estão acontecendo, a exemplo
da morte das árvores de algaroba, uma das mais resistentes da região e tidas
como símbolo da seca, por sua consistência sempre verde, dando sinal de vida,
enquanto as outras árvores secam ou morrem. Em muitas localidades, os animais
ainda vivem porque estão sendo alimentadas com o único arbusto que ainda resta
na caatinga: o xiquexique, que pode também ser extinto, ante a impossibilidade
do seu replantio. A dramática situação do Nordeste chama a atenção pelo sofrimento
generalizado, que parece não ter fim, sem perspectiva de alívio em curto prazo,
porquanto as chuvas somente virão no início do próximo ano. A seca prolongada foi
agravada pela maior duração da estiagem começada em 2013, com extensão no presente
exercício, dificultando o nascimento de alguma vegetação, que logo desapareceu.
A realidade ainda se transformou em algo ainda mais crítica em razão da falta
de atenção e de cuidados das autoridades públicas, que muito pouco têm se
empenhado para solucionar a comovente situação dos nordestinos, que são
obrigados à submissão dos piores tratamentos humanos para sobreviver entre o
caos e o rastro de maldade deixado pela seca. O fato é que, entra e
sai ano, mas a insistente seca não arreda por motivo algum da vida do sofrido
povo do Nordeste, que continua sendo castigado de forma impiedosa pela falta de
água e principalmente pelo incompreensível descaso dos governantes e dos
políticos, que não demonstram a menor preocupação com a cáustica tragédia que
perdura de longa data, dando a entender que o paciente sertanejo já está
calejado com o martírio e não carece de assistência. É realmente
incompreensível a evidente insensibilidade das autoridades públicas para com a situação
calamitosa que dizima, de maneira inclemente, o bravo povo do Nordeste, os
animais de estimação e a natureza, com a destruição do esplendor das matas, da
vegetação e dos recursos hídricos, representados pelos açudes, lagos, rios etc.
Não se pode inferir com segurança, mas é provável que o conforto dos palácios,
sempre muito bem servidos e atendidos com nababescas mordomias e regalias da
melhor qualidade, com fartura, abundância e incomparável presteza, pode
explicar a cruel irracionalidade e a insensibilidade dos governantes e dos
políticos, que, como se vê, não têm como sentir na pele o extremo sentimento de
ser protagonista de profundo sofrimento, que penetra no âmago da sua alma ao
perceber que o quadro tende a piorar ainda mais, ante a indiferença e o descaso
das autoridades públicas, que se acentuam com o passar do tempo. O desprezo se
torna ainda mais revoltante quando a ajuda necessária depende justamente dos
homens públicos que se elegeram com os votos do povo nordestino, cujas medidas
saneadoras seriam custeadas com recursos públicos oriundos dos brasileiros. É de
se lamentável que o país, tão grande e capacitado para a construção de estádios
megalomaníacos, não tenha responsabilidade e competência para priorizar a solução
de causa tão clamorosa e chocante, por massacrar imensa e importante região do
país, que não merece passar por situação tão desesperadora e indigna, graças ao
desgoverno e ao descaso de quem, na campanha eleitoral, confessa juras de
fidelidade às causas do povo nordestino e agora não tem a dignidade de destinar
os meios necessários ao estudo e à formulação de políticas públicas capazes da
implantação definitiva de medidas para a solução dessa grave tragédia nacional.
A sociedade anseia por que, aos ouvidos dos governantes e homens públicos, esteja
presente permanentemente o slogan: “Seca, nunca mais!”, “Seca, nunca mais!”, “Seca,
nunca mais!”, como forma de sensibilizá-los sobre a urgente necessidade da
implementação de efetivas medidas capazes de solucionar a grave calamidade que
martiriza e inferniza o sofrido povo nordestino.
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 03 de outubro de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário