sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Seca, nunca mais! Seca, nunca mais!...

A escassez de chuva no semiárido do Nordeste, que se arrasta desde 2012, comprometeu a produção deste ano na região e pode prejudicar a produção do próximo ano. A situação de calamidade contribuiu para a drástica diminuição do rebanho de gado, cabras e ovelhas, principalmente pela inevitável morte dos animais. Os municípios do interior da Paraíba foram afetados pela seca, causando terrível dificuldade para alimentação das pessoas e dos animais de criação e para o abastecimento de água, tendo consequência o desespero da população e a perda de peso dos animais, quando conseguem sobreviver, em meio à catástrofe. O impacto da seca tem sido arrasador, deixando os açudes sem água e a terra e a caatinga devastadas pela secura, além das rachaduras do solo, constituindo o quadro sociogeográfico mais desanimador e triste da face da terra. A destruição tem sido dolorosa e muitas revelações impensáveis já estão acontecendo, a exemplo da morte das árvores de algaroba, uma das mais resistentes da região e tidas como símbolo da seca, por sua consistência sempre verde, dando sinal de vida, enquanto as outras árvores secam ou morrem. Em muitas localidades, os animais ainda vivem porque estão sendo alimentadas com o único arbusto que ainda resta na caatinga: o xiquexique, que pode também ser extinto, ante a impossibilidade do seu replantio. A dramática situação do Nordeste chama a atenção pelo sofrimento generalizado, que parece não ter fim, sem perspectiva de alívio em curto prazo, porquanto as chuvas somente virão no início do próximo ano. A seca prolongada foi agravada pela maior duração da estiagem começada em 2013, com extensão no presente exercício, dificultando o nascimento de alguma vegetação, que logo desapareceu. A realidade ainda se transformou em algo ainda mais crítica em razão da falta de atenção e de cuidados das autoridades públicas, que muito pouco têm se empenhado para solucionar a comovente situação dos nordestinos, que são obrigados à submissão dos piores tratamentos humanos para sobreviver entre o caos e o rastro de maldade deixado pela seca. O fato é que, entra e sai ano, mas a insistente seca não arreda por motivo algum da vida do sofrido povo do Nordeste, que continua sendo castigado de forma impiedosa pela falta de água e principalmente pelo incompreensível descaso dos governantes e dos políticos, que não demonstram a menor preocupação com a cáustica tragédia que perdura de longa data, dando a entender que o paciente sertanejo já está calejado com o martírio e não carece de assistência. É realmente incompreensível a evidente insensibilidade das autoridades públicas para com a situação calamitosa que dizima, de maneira inclemente, o bravo povo do Nordeste, os animais de estimação e a natureza, com a destruição do esplendor das matas, da vegetação e dos recursos hídricos, representados pelos açudes, lagos, rios etc. Não se pode inferir com segurança, mas é provável que o conforto dos palácios, sempre muito bem servidos e atendidos com nababescas mordomias e regalias da melhor qualidade, com fartura, abundância e incomparável presteza, pode explicar a cruel irracionalidade e a insensibilidade dos governantes e dos políticos, que, como se vê, não têm como sentir na pele o extremo sentimento de ser protagonista de profundo sofrimento, que penetra no âmago da sua alma ao perceber que o quadro tende a piorar ainda mais, ante a indiferença e o descaso das autoridades públicas, que se acentuam com o passar do tempo. O desprezo se torna ainda mais revoltante quando a ajuda necessária depende justamente dos homens públicos que se elegeram com os votos do povo nordestino, cujas medidas saneadoras seriam custeadas com recursos públicos oriundos dos brasileiros. É de se lamentável que o país, tão grande e capacitado para a construção de estádios megalomaníacos, não tenha responsabilidade e competência para priorizar a solução de causa tão clamorosa e chocante, por massacrar imensa e importante região do país, que não merece passar por situação tão desesperadora e indigna, graças ao desgoverno e ao descaso de quem, na campanha eleitoral, confessa juras de fidelidade às causas do povo nordestino e agora não tem a dignidade de destinar os meios necessários ao estudo e à formulação de políticas públicas capazes da implantação definitiva de medidas para a solução dessa grave tragédia nacional. A sociedade anseia por que, aos ouvidos dos governantes e homens públicos, esteja presente permanentemente o slogan: “Seca, nunca mais!”, “Seca, nunca mais!”, “Seca, nunca mais!”, como forma de sensibilizá-los sobre a urgente necessidade da implementação de efetivas medidas capazes de solucionar a grave calamidade que martiriza e inferniza o sofrido povo nordestino.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

 

Brasília, em 03 de outubro de 2013

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