segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Promiscuidade com recursos públicos

Tão logo as autoridades brasileiras foram admoestadas pelo secretário-geral da Fifa, de que "Nós deveríamos ter recebido este documento (Lei Geral da Copa) assinado em 2007, estamos em 2012. Você tem que dar um empurrão, tem que receber um chute no traseiro e entregar a Copa do Mundo", para que os cofres públicos fossem abertos em generosas quantias de recursos para a rápida implementação das obras dos estádios para o Mundial, superando tranquilamente a cifra de R$ 8 bilhões, em contraposição à estimativa inicial de apenas R$ 2,6 bilhões, valor este mais do que triplicado. Os orçamentos iniciais foram para o espaço justamente pelo eterno atraso das obras, em razão da falta de projetos completos e definidos, fazendo com que os preços fugissem do controle. Em junho, em meio às ondas de protestos também contra os elevados gastos da Copa, a presidente do país teve a insensatez de dizer que "o dinheiro do governo federal gasto com arenas é fruto de financiamento", e que seria "devidamente devolvido". Na realidade, a maior parte do financiamento - 53% - se destina a Estados e municípios, cujo pagamento será feito com recursos públicos. Trata-se de elevado gasto de dinheiro público de maneira frívola e irresponsável, sem levar em contar que metade ou mais da população do país não possui, entre outros, saúde, educação, segurança, esgoto, água encanada, em clara demonstração de falta de compromisso com a legitimidade na aplicação dos recursos públicos, que deveriam ser destinados primordialmente à satisfação das causas da populaçãoEsse projeto megalomaníaco da Copa evidencia patente irresponsabilidade do governo, por gastar sem a menor preocupação com as prioridades orçamentárias e ainda imaginar que o povo não tem senso de avaliação nem capacidade para mensurar o real tamanho da incompetência no gerenciamento dos recursos públicos, que são gastos de forma perdulária, sem a preocupação com as causas primárias da sociedade, quanto à satisfação das suas carências, evidenciadas, em especial, na péssima qualidade do ensino público, na falência e no caos da saúde pública, onde a precariedade contribui para aumentar as estatísticas de mortalidade, e na segurança pública, fazendo com que a sociedade seja refém da bandidagem, tudo isso em contraposição à grandeza do país e à abundância de suas riquezas naturais. A má administração e a visível incompetência ficam consignadas, de forma indelével, na cega decisão de realizar a Copa do Mundo, em meio aos meros oportunismos inconsequentes protagonizados pelos mandatários do país, ante ao menosprezo às causas nacionais. A realização desse evento vem merecendo especial empenho apenas para satisfazer o ego e o capricho do ex-presidente da República, que se esforçou ao máximo para ter contemplado o brilho de seus olhos com a realização da Copa no país. À toda evidência, as inúteis obras pertinentes não trarão benefício para o país nem para a sociedade, à vista dos elevados gastos na sua implementação, cujos recursos teriam real benefício social se aplicados em obras públicas, levando-se em conta o clamor da população e não as exigências de organismo responsável pelo futebol internacional. Na verdade, o expressivo volume de recursos despendidos nas obras dos estádios e das estruturas de mobilidade teria aproveitamento se ele fosse aplicado nas melhorias da segurança pública, na ampliação de hospitais e de escolas, no saneamento básico etc. O certo é que o “todo-poderoso”, então presidente da República, atropelou os manuais de administração dos recursos públicos, na obrigatória padronização de que os administradores públicos devem priorizar as causas nacionais, com vistas à solução das questões urgentes da população. Somente após o saneamento dos problemas emergenciais e ainda restando condições financeiras, eles poderiam incursionar em eventos que não prejudiquem os interesses públicos. Não há dúvida de que a Copa do Mundo e a Olimpíada de 2016 são a realização do sonho político do administrador tupiniquim, contaminado pelo vírus da vaidade e pela obsessão de mostrar ao mundo a grandeza de estadista que não se conforma com as limitações e qualificações técnico-administrativas que sequer são capazes de satisfazer as carências do país. A sociedade protesta contra a falta de responsabilidade e de escrúpulo dos governantes que, destituídos de critérios técnico-especializados e de razões de Estado, elegem causas pessoais na sua gestão, em evidentes desrespeito e prejuízo às prioridades nacionais e aos preceitos normativos sobre a administração financeira e orçamentária do país. Acorda, Brasil!  
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 06 de outubro de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário