quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O descompasso tecnológico

A presidente da República afirmou na Assembleia-Geral das Nações Unidas que as ações de espionagem dos Estados Unidos no Brasil “ferem” o Direito Internacional e “afrontam” os princípios que regem a relação entre os países: "Quero trazer à consideração das delegações uma questão à qual atribuo a maior relevância e gravidade. Recentes revelações sobre as atividades de uma rede global de espionagem eletrônica provocaram indignação e repúdio em amplos setores da opinião pública mundial. Imiscuir-se dessa forma na vida dos outros países fere o direito internacional e afronta os princípios que devem reger as relações entre eles, sobretudo, entre nações amigas. Dados pessoais de cidadãos foram indiscriminadamente objeto de interceptação. Informações empresariais – muitas vezes com alto valor econômico e mesmo estratégico – estiveram na mira da espionagem. Também representações diplomáticas brasileiras, entre elas a Missão Permanente junto às Nações Unidas e a própria Presidência da República do Brasil tiveram suas comunicações interceptadas". A invasão de privacidade deveria ser tratada com as devidas cautelas e na extensão da importância que ela exige, tendo em conta principalmente os interesses da nação, que devem prevalecer sobre as causas pessoais, que, no caso, podem ter sido transformadas em matéria de cunho populista, com a finalidade tendenciosa para desviar o foco de problemas agudos, com implicação na efetividade do gerenciamento do país. Não há dúvida de que a política externa brasileira demonstra verdadeira fragilidade, por concluir de forma precipitada e prematura sobre os casos de interesse do Estado, quando a sua condução e solução exigem pormenorizados e indispensáveis estudos quanto às implicações das relações entre as nações. No caso da espionagem pelos americanos, caberia, em primeiro momento, a discussão no plano do relacionamento diplomático, como determina a praxe em casos que tais, de modo a não haver precipitação sobre a melhor solução desejada para o episódio. Nessa intromissão norte-americana, quem saiu chamuscado foi o Brasil, por ter deixado a diplomacia de lado e partido para resolver o imbróglio no grito, na pior das hipóteses, estabelecendo a forma e o prazo para os esclarecimentos sobre o ocorrido. O resultado foi mais um estrondoso fiasco do governo, que imaginava que os Estados Unidos iriam se intimidar com a arrogância da mandatária tupiniquim, que exigiu minudentes informações, mas não foi atendida nas suas vãs pretensões de pressionar os americanos. O mais que o episódio rendeu ao Brasil foi a certeza de que urge a implantação de mecanismos de combate às invasões na área das comunicações, com vistas a bloquear a espionagem que é banalizada nas terras do Tio Sam. Como a espionagem não é novidade desde a origem do mundo, o governo brasileiro jamais poderia ignorar que as suas comunicações estariam sendo bisbilhotadas. É provável que as escaramuças presidenciais protagonizadas contra os americanos tiveram a tentativa de se eximir do vexame diante da opinião pública brasileira e internacional, pelo fato deprimente de não ter investido o suficiente em tecnologia de ponta, de modo a acompanhar a evolução e a modernidade da infraestrutura das comunicações, inclusive quanto à proteção das informações oficiais e particulares, como é do dever do Estado. No Estado Democrático de Direito, assiste inteira pertinência à presidente do Brasil, em face da indiferença dos Estados Unidos, reclamar e pedir socorro às Nações Unidas, no sentido de proteger a incompetência de não ter investido na avançada tecnologia, fato que permitiu que a privacidade dos negócios e das informações pertinentes ao Estado pudesse ser devassada sem nenhuma dificuldade. A sociedade aspira por que o governo brasileiro, reconhecendo a sua incapacidade gerencial no episódio da espionagem norte-americana, evite implorar por solidariedade internacional sobre matéria que diz respeito à soberania nacional, que foi violada em razão da falta de cuidados da competência do Estado brasileiro, e adote efetivas e eficientes medidas com vistas a evitar futuras incursões estrangeiras nas suas comunicações, de modo a preservar a integridade do sigilo das informações, com a responsabilidade que o caso exige. Acorda, Brasil!
 
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
 
 
Brasília, em 23 de outubro de 2013

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