terça-feira, 8 de outubro de 2013

O empirismo administrativo

O primeiro dia de trabalho de um médico cubano, na comunidade Olho D’Água, cidade de Cocal, Litoral do Piauí, aconteceu numa escola que foi provisoriamente transformada em unidade de saúde, permitindo que, pelo menos, 20 pessoas fossem atendidas. Para tanto, numa sala, a aula foi suspensa para dar lugar ao atendimento médico. O profissional foi acomodado na mesa do professor para atender os pacientes e a medicação foi colocada num depósito, enquanto as carteiras escolares foram usadas pela comunidade durante a espera, ou seja, tudo como todo mundo já sabia, na base no improviso, sem a digna e devida estrutura que se exige para o atendimento médico à população. O atendimento pelo médico cubano foi feito, em boa parte, mediante diálogo por meio de gestos. Uma paciente usou expressão regional para se referir à dor na coluna e somente foi compreendida após apontar para a região do corpo. Durante o atendimento, o médico contou com o auxílio da enfermeira do Programa Saúde da Família, que o ajudou na comunicação com os pacientes. Outra médica cubana também precisou recorrer à ajuda de um enfermeiro da equipe para se comunicar com os pacientes e escrever em português os receituários. Ela disse: “Acredito que, com o tempo, a língua não seja a maior dificuldade. Estou feliz em ajudar as pessoas carentes e melhorar os índices de saúde da comunidade” e “Consigo entender perfeitamente o que os pacientes relatam, desde que a fala seja pausada e, além disso, conto com a colaboração da enfermeira“. Ao implantar o programa Mais Médico, o governo almejava tão somente concretizar seu sonho de contratar médicos para as regiões remotas do país, como forma de mostrar que é possível a capacitação de atender à carência essencial da saúde pública, não importando a forma atrapalhada e desastrosa como tudo foi e vem sendo implementado, inclusive não tendo sequer condições normas e estruturação física para acomodação dos profissionais e muito menos dos medicamentos, além da inexistência de equipamentos básicos para os exames essenciais. Tudo vem sendo feito de forma improvisada, inclusive em prejuízo de outros serviços públicos essenciais, como a educação, que passa a ceder dependência, mediante a suspensão de aula para possibilitar o atendimento médico. O episódio em comento evidencia o despreparo, a incapacidade e a desorganização do governo em pretender funcionar, sem a indispensável estrutura, o serviço médico que descortina visivelmente como mecanismo de marketing meramente eleitoreiro e prejudicial aos interesses da sociedade, ante aos elevados dispêndios comprometidos, que poderiam contribuir para o atingimento de melhores resultados caso as medidas pertinentes fossem implementadas em atendimento aos princípios racionais e eficientes, com embargos dos métodos empíricos e precipitados empregados até o momento. Esse Mais Médico não passa de mais um programa governamental com cunho eminentemente eleitoreiro, por ter sido implantado às pressas, sem as devidas condições de apoio técnico-especializado para respaldar o atendimento dos profissionais contratados igualmente de maneira precipitada, sem os cuidados previstos na Constituição Federal, quanto à obrigatoriedade da realização de concurso público para a contratação de pessoal, além do esdrúxulo e imoral ajuste firmado com uma organização para intermediar a vinda de médicos cubanos, que não têm nenhum vínculo empregatício com o governo brasileiro. Os métodos estabanados empregados na contratação dos médicos não condizem com a seriedade e a competência que devem ser observadas em programa eficientes e capazes de solucionar situação importante da sociedade, sobre o qual não devem pairar dúvidas nem suscitar questionamentos e suspeições quanto à sua legitimidade. Não há dúvida de que a população brasileira merece tratamento médico de qualidade, principalmente em razão da excelência das arrecadações e dos seus constantes recordes, graças aos extorsivos tributos impostos aos sacrificados contribuintes. Bastavam interesse e vontade política para que o atendimento à saúde pública fosse realizado de forma organizada, competente e eficiente, mediante a implantação de quadros próprios de pessoal e a estruturação de adequados postos e unidades de saúde no país, de modo que a população pudesse ter atendimento com decência e dignidade. A sociedade repudia a forma espúria, incompetente, ineficiente e desastrosa como o programa Mais Médicos foi e está sendo implantado e exige que o governo tenha sensibilidade e bom sendo para rever os métodos equivocados e prejudiciais ao interesse público, ante o desprezo aos comezinhos princípios constitucionais, legais, racionais, econômicos, isonômicos, de transparência e de eficiência, quanto às medidas pertinentes ao programa em apreço. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 07 de outubro de 2013

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