O primeiro dia de
trabalho de um médico cubano, na comunidade Olho D’Água, cidade de Cocal,
Litoral do Piauí, aconteceu numa escola que foi provisoriamente transformada em
unidade de saúde, permitindo que, pelo menos, 20 pessoas fossem atendidas. Para
tanto, numa sala, a aula foi suspensa para dar lugar ao atendimento médico. O profissional
foi acomodado na mesa do professor para atender os pacientes e a medicação foi colocada
num depósito, enquanto as carteiras escolares foram usadas pela comunidade
durante a espera, ou seja, tudo como todo mundo já sabia, na base no improviso,
sem a digna e devida estrutura que se exige para o atendimento médico à
população. O atendimento pelo médico cubano foi feito, em boa parte, mediante diálogo
por meio de gestos. Uma paciente usou expressão regional para se referir à dor
na coluna e somente foi compreendida após apontar para a região do corpo. Durante
o atendimento, o médico contou com o auxílio da enfermeira do Programa Saúde da
Família, que o ajudou na comunicação com os pacientes. Outra médica cubana
também precisou recorrer à ajuda de um enfermeiro da equipe para se comunicar
com os pacientes e escrever em português os receituários. Ela disse: “Acredito que, com o tempo, a língua não seja
a maior dificuldade. Estou feliz em ajudar as pessoas carentes e melhorar os índices
de saúde da comunidade” e “Consigo
entender perfeitamente o que os pacientes relatam, desde que a fala seja
pausada e, além disso, conto com a colaboração da enfermeira“. Ao implantar
o programa Mais Médico, o governo almejava tão somente concretizar seu sonho de
contratar médicos para as regiões remotas do país, como forma de mostrar que é possível
a capacitação de atender à carência essencial da saúde pública, não importando
a forma atrapalhada e desastrosa como tudo foi e vem sendo implementado, inclusive
não tendo sequer condições normas e estruturação física para acomodação dos
profissionais e muito menos dos medicamentos, além da inexistência de
equipamentos básicos para os exames essenciais. Tudo vem sendo feito de forma
improvisada, inclusive em prejuízo de outros serviços públicos essenciais, como
a educação, que passa a ceder dependência, mediante a suspensão de aula para possibilitar
o atendimento médico. O episódio em comento evidencia o despreparo, a
incapacidade e a desorganização do governo em pretender funcionar, sem a
indispensável estrutura, o serviço médico que descortina visivelmente como
mecanismo de marketing meramente eleitoreiro e prejudicial aos interesses da
sociedade, ante aos elevados dispêndios comprometidos, que poderiam contribuir
para o atingimento de melhores resultados caso as medidas pertinentes fossem
implementadas em atendimento aos princípios racionais e eficientes, com
embargos dos métodos empíricos e precipitados empregados até o momento. Esse
Mais Médico não passa de mais um programa governamental com cunho eminentemente
eleitoreiro, por ter sido implantado às pressas, sem as devidas condições de
apoio técnico-especializado para respaldar o atendimento dos profissionais
contratados igualmente de maneira precipitada, sem os cuidados previstos na
Constituição Federal, quanto à obrigatoriedade da realização de concurso
público para a contratação de pessoal, além do esdrúxulo e imoral ajuste
firmado com uma organização para intermediar a vinda de médicos cubanos, que
não têm nenhum vínculo empregatício com o governo brasileiro. Os métodos estabanados
empregados na contratação dos médicos não condizem com a seriedade e a
competência que devem ser observadas em programa eficientes e capazes de solucionar
situação importante da sociedade, sobre o qual não devem pairar dúvidas nem suscitar
questionamentos e suspeições quanto à sua legitimidade. Não há dúvida de que a
população brasileira merece tratamento médico de qualidade, principalmente em
razão da excelência das arrecadações e dos seus constantes recordes, graças aos
extorsivos tributos impostos aos sacrificados contribuintes. Bastavam interesse
e vontade política para que o atendimento à saúde pública fosse realizado de
forma organizada, competente e eficiente, mediante a implantação de quadros
próprios de pessoal e a estruturação de adequados postos e unidades de saúde no
país, de modo que a população pudesse ter atendimento com decência e dignidade.
A sociedade repudia a forma espúria, incompetente, ineficiente e desastrosa
como o programa Mais Médicos foi e está sendo implantado e exige que o governo
tenha sensibilidade e bom sendo para rever os métodos equivocados e prejudiciais
ao interesse público, ante o desprezo aos comezinhos princípios constitucionais,
legais, racionais, econômicos, isonômicos, de transparência e de eficiência,
quanto às medidas pertinentes ao programa em apreço. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 07 de outubro de 2013
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