sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Privatização ou partilha, eis a questão?

Como se estivesse em plena campanha eleitoral, a presidente da República comemorou, de forma eufórica, o leilão do Campo de Libra, o primeiro da camada pré-sal sob o regime de partilha, e negou peremptoriamente que essa medida governamental represente privatização, preferindo denominá-la com o título pomposo de partilha. Em pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão, a presidente disse que 85% da renda gerada pela exploração pertinente pertencerão à União ou à Petrobras e que os lucros das demais empresas do consórcio serão compatíveis com os riscos do negócio. Ao negar que a privatização feita pelo governo, em razão da transferência de patrimônio da sociedade para a iniciativa privada não se trata de privatização, talvez a mandatária do país esteja agora remoendo as suas célebres tiradas enfaticamente reiteradas na campanha presidencial, com a exclusiva finalidade de mostrar ao país a sua face nada autêntica, que fazia questão de dizer, in verbis: “Desde já, eu afirmo a minha posição: ‘É um crime privatizar a Petrobras ou o pré-sal. Isso será um crime contra o Brasil, porque o pré-sal é o grande passaporte para o futuro’”. À época, a candidata petista se referia ao candidato tucano - que não negava ser privatista, por ideologia partidária - em forma de menosprezo, na tentativa de indispô-lo contra o eleitorado, dessa forma: “Eles só pensam em vender o patrimônio público”. Ora, se a própria presidente considerou, de forma enfática, que privatizar o pré-sal é crime, então, agora, ela deve ser incriminada por ter chancelado a venda do Campo de Livra, que é a mais importante reserva de petróleo do país, próxima do pré-sal, ficando translúcida a sua culpa. Certamente que mão fosse o temor da implicação com os compromissos da próxima campanha eleitoral, seguramente os marqueteiros e o assessoramento palaciana já teriam convencido a presidente da República a demover a ideia fixa de que a participação de recursos privados no patrimônio público, ou seja, a transferência de patrimônio público para a iniciativa privada não tem outra denominação diferente de privatização, que é a forma natural e elegante de se reconhecer que o Estado tem, à toda evidência, notória deficiência econômico-financeira para executar programas de sua competência e que necessita privatizar o patrimônio da sociedade, como forma inteligente e eficiente de haver investimento indispensável ao crescimento do país, nos moldes como fazem as nações desenvolvidas. Não há demérito algum em haver privatização quando seu objeto atende o interesse público e sua implementação transcorre de maneira transparente e benéfica para a sociedade. É bastante estranho que a presidente da República se apresente à nação para defender a legitimidade do leilão, como se o caso estivesse revestido de algo pecaminoso, ilegal e lesivo aos interesses nacionais, quando ela reconhece a importância do capital privado para investir na exploração da reserva do pré-sal, o que vale dizer que o Estado não tinha condições de fazê-la por conta própria, ou seja, com recursos públicos. Nesse caso, qualquer analfabeto tem consciência de que houve privatização, embora os “intelectuais” e marqueteiros do governo insistam em incutir na cabeça da mandatária que isso é diferente de privatização. Na verdade, caso o PT não tivesse contribuído, mediante deficiente e deletério gerenciamento, para a quebra da Petrobras, a exploração do petróleo do pré-sal seria feita por ela, que, antes de ter sido falida, era empresa poderosa tanto técnica como economicamente e teria plenas condições de investir sozinha na extração do nosso ouro negro e não seria obrigada a submeter o partido a tamanho constrangimento, de tentar negar o inegável. Com a participação do capital privado, investindo no negócio que não se viabilizaria somente com recursos públicos, seria muito mais digno e elegante que o leilão em apreço fosse assumido e considerado como efetiva privatização, pois não fica bem para autoridade da maior relevância do país utilizar meios termos ou eufemismos para tentar descaracterizar a verdade que o país inteiro não tem dúvida alguma sobre o que ela realmente significa. A sociedade anseia por que o país seja administrado com responsabilidade, competência, eficiência e transparência, em estrita observância aos princípios democráticos da moralidade e da coerência na administração dos interesses públicos. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 24 de outubro de 2013

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