quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Injustificáveis privilégios aos parlamentares

Em 2013, o Senado Federal terá dispêndio de R$ 375 mil somente com a aquisição de itens do “cafezinho da Casa”. Os lanchinhos ficam à disposição na proximidade do plenário e são servidos aos senadores, assessores e convidados. A compra é composta, entre outros produtos, de 2.000 pacotes de biscoito, mais de 8.000 frascos de adoçantes, 4.800 quilos de presunto e queijo. O valor deste ano, conforme o edital pertinente, é de R$ 163 mil superior ao do ano passado. Como não poderia ser diferente, a mordomia corre por conta da verba pública e engrossa a lista das regalias às quais os senadores têm acesso. Na forma legal, cada senador tem direito ao reembolso, por ano, de até R$ 180 mil, em decorrência de gastos com gasolina, alimentação, aluguel de imóvel ou veículo, hospedagem, consultoria e comunicação. No ano passado, foi gasta, somente com as verbas indenizatórias no Senado, a cifra de R$ 21 milhões, que daria para equipar mais de 230 leitos de UTI. Outros gastos são realizados pelos senadores à custa dos bestas dos contribuintes, a exemplo da conta do celular, sem limites de uso, e do telefone residencial, com despesas limitadas a R$ 500,00. As mordomias dos senadores são amplas, com direito à assinatura, para cada parlamentar, de duas revistas de sua escolha — a assinatura anual de uma revista pode ultrapassar R$ 500 — e quatro jornais, sendo um de Brasília, um do Rio de Janeiro, um de São Paulo e um do Estado representado. Tudo isso para que eles fiquem bem informados. Os senadores têm direito a despesas médicas sem limitação de valor, cujo benefício abrange o cônjuge e os dependentes com até 21 anos — ou até 24, se universitários. No caso das despesas odontológicas e psicoterápicas, o gasto é limitado até R$ 25,9 mil. Ainda há outras despesas pagas com verba pública, como os Correios, cuja cota mínima mensal é de 4.000 correspondências, as publicações dos senadores, estimadas, individualmente, por mês, de R$ 8.500, a cota diária de combustível de 25 litros de gasolina ou 36 litros de álcool, de segunda a sexta-feira. Tudo isso sem contar o direito à moradia, ao transporte, com motorista, e ao gabinete com mais de vinte assessores, que não devem ter tanto trabalho para executar, porque o próprio senador pouco produz ou nada faz, uma vez que, regimentalmente, ele tem a obrigação de comparecer ao Senado somente de terça-feira a quinta-feira, quando comparece. Numa análise fria, pode-se concluir que se trata de exercício de função pública bastante humilhante e desrespeitosa para o povo brasileiro, que, por ironia, é obrigado a pagar essa pletora de privilégios totalmente injustificáveis, à luz do negativo resultado do legislativo. Com absoluta certeza, em sã consciência, ninguém neste país concorda com tanta falta de sensibilidade em relação às abusivas mordomias, em se tratando de servidores que já têm altíssimos salários e a realidade do povo brasileiro não tem condição de respaldar tamanha ignominiosa, insustentável e injustificável situação. Os congressistas brasileiros são os maiores beneficiados do mundo com recursos públicos, no que tange à remuneração e às mordomias, que consistem no pagamento de ajudas diversas, auxílios variados, verbas de gabinete e de representação. Mesmo se tratando de servidores públicos eletivos, somente se justifica a percepção do vencimento de RS 26.723,12, como ocorre com os demais servidores públicos, que têm única remuneração, com a qual custeiam suas despesas de moradia, transporte, saúde, alimentação, diversão, escola dos filhos etc., sem mais nenhum indecente penduricalho nos vencimentos. Esse tipo de privilégio concedido aos parlamentares precisa acabar, com urgência, como forma de pôr fim à vergonhosa farra com dinheiro dos otários dos contribuintes, que dão um duro terrível para sustentar o Congresso desacreditado, desmoralizado, indecoroso e ineficiente, exemplo de pouca produtividade e quase nada preocupado com os altíssimos gastos supérfluos. O mais grave é que os congressistas não fazem por onde justificar a sua existência, em termos de produtividade em benefício da sociedade. É injusto que, no alto da sua inteligência de homens públicos, os congressistas não se conscientizem sobre a real necessidade de ajustar suas altíssimas despesas à verdadeira situação de precariedade da maioria absoluta dos brasileiros, que fazem verdadeiros milagres para sobreviver com o salário mínimo de R$ 678,00, quando estão trabalhando, ou ainda com o benefício do Bolsa Família. É lamentável que nenhuma voz se levante em favor da justa causa da moralização desses gastos abusivos e vergonhosos, quando é notória a carência de recursos para o atendimento de políticas públicas prioritárias. Como essa indignidade não será saneada por iniciativa dos congressistas, cabe à sociedade se mobilizar em esforço nacional, no sentido de exigir que as humilhantes, indevidas e injustificáveis regalias e mordomias existentes no Congresso Nacional sejam definitivamente extintas, estabelecendo que somente seja paga ao parlamentar a remuneração básica, a exemplo do que acontecem com os vencimentos dos demais servidores efetivos da administração pública, como forma da urgente e imprescindível moralização que se impõe na realização das despesas públicas. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 1º de outubro de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário