sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Atos promíscuos


A presidente da República decidiu entregar ao PDT o comando dos Correios, uma das principais estatais brasileiras, como tentativa de reconstruir a base aliada no Congresso Nacional. Para tanto, o governo nomeou um ex-deputado pedetista para a presidência dessa empresa, que vinha sendo dirigida por um petista da proximidade do ex-presidente da República petista.
A exemplo do que já havia ocorrido na recente reforma ministerial, o PT tem sido obrigado a ceder espaço também no segundo escalão, diante das inescrupulosas exigências dos partidos da base de sustentação do governo por cargos em ministérios, empresas, fundações e autarquias vinculadas. Na última reforma, o PDT já havia sido contemplado com o Ministério das Comunicações e agora fica também com os Correios, a ele vinculado.
Como se sabe, foi nos Correios que surgiram as primeiras denúncias que resultaram no famigerado mensalão e, mais recentemente, nas eleições passadas, a mesma empresa foi denunciada por favorecer a campanha da presidente petista, com a distribuição graciosa de propaganda eleitoral da candidata do PT. O ex-presidente da estatal é um dos representados na Ação de Investigação Judicial Eleitoral que pode resultar na cassação do diploma da presidente e de seu vice.
A presidente do país, dando seguimento à espúria e indecente utilização da máquina pública para a satisfação da base aliada, resolveu entregar os cargos prometidos aos participantes da aliança em meio à votação de projetos que integram o pacote de ajuste fiscal no Parlamento, que consistem na desvinculação de receitas e na repatriação de dinheiro depositado no exterior, além da ameaça da abertura de processo do impeachment dela.
Impende se verificar que a relatoria da Comissão Mista de Orçamento é conduzida por um pedessista, na qual se encontram sob exame as contas do governo, referentes ao exercício de 2014, onde consta a rejeição pelo Tribunal de Contas da União, por força das famigeradas pedaladas fiscais, que tiveram por escopo maquiar os resultados das contas públicas, com resultados fictícios, distorcidos da realidade contábil.
Não há menor dúvida de que o loteamento de ministérios e empresas estatais entre os partidos da aliança, em clara reafirmação e demonstração do indigno processo do “toma lá, dá cá”, constitui medida da pior mediocridade na administração pública, por representar a confiança da execução dos serviços públicos a pessoas sem a menor qualificação profissional, totalmente desvinculada da obrigação de cumprir as políticas públicas para as quais se destinam os ministérios sob a direção dos partidos, que estão muito mais interessados em satisfazer suas ideologias e seus interesses pessoais e partidários, com a possibilidade de assegurar empregos para seus filiados, apadrinhados, em lastimável compadrio que envergonham as republiquetas, que seriam capazes de adotar sistema como esse da maior falta de escrúpulo e zelo para com a res publica.
Sem dúvida, trata-se de ato indefensável e passível de questionamento, por se verificar que a mandatária do país negocia a máquina pública e transfere o comando de órgãos públicos para partidos políticos, em troca de apoio no Congresso, incluindo a sua blindagem, no caso dos pedidos de abertura de processo de impeachment, o que caracteriza defesa de interesse pessoal da presidente, com o envolvimento de recursos públicos.
Em um país com o mínimo de seriedade, os atos representados pelo degradante processo do “toma lá, dá cá” constituem clara afronta aos salutares princípios da transparência, legalidade, dignidade e nobreza que devem prevalecer na administração do país.
Urge que os órgãos de controle e fiscalização cumpram, com fidelidade, suas funções institucionais de exigir a fiel observância dos princípios da ética, da moral, da legalidade e do decoro, representando nos Tribunais Superiores competentes a mandatária do país, por quebra do seu juramento de posse de cumprir e fazer cumprir a Constituição e as leis da República, ante a caracterização de negociata ilegítima com partidos políticos envolvendo a máquina pública, com o loteamento entre eles de ministérios e empresas estatais, em troca de apoio no Congresso Nacional, incluída a defesa de causa particular da presidente do país, em claro afronta aos interesses da sociedade. Acorda, Brasil!    
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 13 de novembro de 2015

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