Já não é nenhuma novidade que a Copa do Mundo foi um
rio por onde rolou ondas de desperdícios de verbas públicas, em todos os
sentidos, com exageradas contratações pelo Estado, que não teve limite para
promover evento absolutamente dispensável, em que pese a realidade brasileira
de enormes carências sociais.
A revista Época
publica reportagem dando conta de que o Fuleco, o tatu-bola que virou mascote da Fifa, tinha salário de
craque nas ações de marketing pagas pela Apex, agência de promoção
do comércio exterior ligada ao Ministério
do Desenvolvimento.
Segundo a revista, a diária do mascote, incluída a
pessoa que se fantasiava de Fuleco, teve o custo de R$ 6 mil para a agência,
totalizando, caso fosse salário mensal, o valor de R$ 180 mil, caracterizando
indiscutível desperdício de verba pública.
O Fuleco funcionava como uma das ações de marketing da
Apex, por ocasião do mundial, que tinha a função de receber empresários nos
hotéis reservados para os parceiros comerciais. Foi planejada a ideia de se aproveitar
o chamariz da Copa para convidar empresários do mundo para investir no Brasil, que
foi intitulado de marketing de
relacionamento. Segundo a Apex,
o projeto Coa do Mundo
pode ter rendido, no período de um ano, até R$ 6 bilhões em negócios para o
país.
Com a finalidade de atrair negócios, a Apex contratou
uma agência de marketing, ao custo de R$ 5 milhões, para realizar as ações estratégicas
e especiais para o evento, que incluía a distribuição de brindes, no custo de
R$ 1 milhão, ingressos e hospedagem.
Além do Fuleco, a R$ 6 mil por dia, a lista de brindes,
além do Fuleco, incluía mochilas, miniaturas de estádios e até carregadores de
celular, tudo com o escopo de agradar os empresários estrangeiros, na tentativa
de convencê-los a fazer negócios no Brasil. Somente no quesito malas e
mochilas foram gastos quase meio milhão de reais.
Se de 2015 vem se caracterizando como o ano que exige
economia de gastos, embora isso, na prática, ainda não tenha se efetivado, o
ano passado tinha dinheiro de sobra e até saindo pelos ralos, tanto que até
houve fartura de distribuição de brindes para empresários, na Copa do Mundo,
tudo no contexto denominado marketing de relacionamento, no qual se incluía o
Fuleco para receber os convidados e a injustificável entrega de diversos mimos.
A fartura de brinde foi distribuída da seguinte forma:
a) na Copa das Confederações: 1.165 malas (R$ 436.208,40); 1.165 toalhas (R$
25.740,00); 1.650 bonecos de pelúcia do Fuleco (R$ 58.660,80); 1.050 cachecóis
(R$ 19.950,00); 7 mascotes (R$ 40.229,90); e b) na Copa do Mundo: 2.016
miniaturas de estádios da copa ((R$ 100.800,00); 2.100 mochilas (R$ 98.807,50);
12 diárias do mascote Fuleco (R$ 73.057,00); 1.950 carregadores de celular (R$
184.479,75); 1.950 canetas da Fifa (R$ 9.460,00); e 1.950 pins do Fuleco (R$
7.441,20).
As atividades da Apex foram classificadas como
verdadeiras operações caixa-preta, principalmente no que se refere à compra de ingressos para os
empresários parceiros, porque a agência não informou a quantidade
de ingressos comprados nem a sua destinação. Embora os ingressos tivessem sido
adquiridos com recursos públicos, nem mesmo foi informado o nome da empresa de
marketing contratada pela Apex.
A Controladoria Geral da União tentou, por três vezes,
obter informações da Apex sobre a compra de ingressos, alertando sobre a
possibilidade de conflito de interesses e questionamentos legais, mas os
alertas foram ignorados, sabendo-se apenas que os convites foram entregues a políticos
brasileiros e estrangeiros.
A CGU ressaltou que “... Avaliamos que a relação entre empresas privadas e servidores públicos
estrangeiros, como apoiada pela Apex-Brasil, pode vir a ser considerada oferecimento
de vantagem indevida às autoridades estrangeiras”, ou seja, em português
popular, vantagem
indevida significa corrupção.
A CGU descobriu falhas e irregularidades,
principalmente com a aquisição de ingressos, tanto para a Copa das
Confederações como para a Copa do Mundo, cuja destinação deles não foi possível
ser identificada, dando a entender que houve abuso, farra e desperdício de recursos,
diante da falta de controle quanto à distribuição deles, cujos órgãos gestores
simplesmente tentam driblar as reiteradas recomendações e determinações da CGU,
inclusive com relação à proibição da compra de ingressos.
A revelação desses fatos demonstra apenas a ponta do
iceberg com relação aos gastos na Copa do Mundo, porque o rombo nas contas
públicas, com a gastança no aludido evento deve ser algo extraordinário e
assombroso, diante da falta de controle e da insensibilidade na aplicação de
recursos públicos, porque não há a mínima justificativa para distribuição de brindes
e convites para gente rica, políticos e empresários, em clara evidência com a
falta de prioridade com os gastos públicos, diante das carências de
investimentos em serviços e obras públicos.
Essa gastança irresponsável,
mostrando claramente o enorme desperdício do suado dinheiro do contribuinte,
sem o menor pudor, por não ter tido o menor interesse na parcimônia com
recursos públicos, “justifica”, de forma incontestável, a recriação do
famigerado "imposto do cheque", a desprezível CPMF, obviamente para
assegurar a continuidade da farra com o dinheiro alheio, em demonstração de
abuso e desmazelo para com a res publica.
Urge que os brasileiros se
conscientizem sobre a necessidade de se exigir que os governantes deem basta à
corrupção, incompetência e irresponsabilidade na aplicação dos recursos
públicos, adotando medidas capazes de eliminar, em definitivo, as sistemáticas
enganações ao povo, no sentido de não reduzir as despesas públicas, mas criar
abusivamente tributos para se permitir que a indignidade permeie na
administração pública, a exemplo das despesas realizadas na Copa do Mundo,
cujos envolvidos não foram sequer responsabilizados pelos abusos verificados e
ainda evitam esclarecer os fatos inquinados de irregulares. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de novembro de
2015
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