quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Lipoaspiração no Bolsa Família?


Relator-geral do Orçamento de 2016 disse que o corte de R$ 10 bilhões no Bolsa Família, por ele projetado, só afetará as distorções do programa de transferência de renda do governo, à vista da existência de muita fraude que precisa ser corrigida.
Ele acha muito difícil o atingimento do equilíbrio do Orçamento do próximo ano sem novas fontes de arrecadação, ou seja, sem novo tributo e aprovação do pacote de ajuste em tramitação no Congresso Nacional.
Para o relator, “O defeso é um problema, muita fraude. O Bolsa Família também é um problema, muita fraude. O que o governo precisa é gastar bem o dinheiro que arrecada porque como está sendo exigido um grande sacrifício da sociedade para viabilizar essa arrecadação e o equilíbrio fiscal é preciso que o governo também tenha mão de ferro na gestão dos recursos e é desses excessos que estamos falando nos cortes”. O relator defende a construção de “Orçamento crível” para recuperar a credibilidade do país.
O parlamentar ressaltou, em clara queda de braço que mantém com a presidente do país, via mídia, que "Precisamos de uma lipoaspiração no Bolsa Família, que não vai prejudicar quem realmente precisa”, opinião que contraria diametralmente o Palácio do Planalto.
Como não poderia ser diferente, diante da situação claramente favorável a ela, a presidente do país vem defendendo a ideia de não aceitar cortes no Bolsa Família, mas o relator do orçamento tem convicção de que “Estou propondo baseado numa auditoria da Controladoria Geral da União que determina que só 61% fiscalizadas tinha renda compatível com o que a lei autoriza. Então, se há um excesso de cartões, pessoas que não estão enquadradas na lei, é natural que elas sejam excluídas do programa”.
O relator faz crítica à previsão de receitas do governo, afirmando que “não há nenhuma área que não vá ser cortada. Todas precisarão de ajustes porque a falta de recursos é muito acentuada. Proporei um orçamento com mais receitas do que despesas. A LDO aprovada agora determina R$ 34 bilhões de superávit. Portanto, o corte vai ter de ser muito profundo porque a queda de arrecadação é muito acentuada.”.
O Bolsa Família não deveria ser um programa para a satisfação de oportunistas, como parece que está ocorrendo, ante a constatação de inúmeras irregularidades com o seu pagamento, mas sim apenas programa essencialmente assistencial para o atendimento de situação de caráter emergencial de famílias comprovadamente carentes, que teriam a sua passagem nele por tempo limitado, o suficiente para a profissionalização, reciclagem ou aperfeiçoamento técnico-especializado dos beneficiários e o seu posterior encaminhamento ao emprego, em condições de sustentar a sua família, como reafirmação da valorização e dignificação dos seres humanos, que podem de orgulhar de trabalhar, produzir e contribuir para o desenvolvimento do país.
É absolutamente inadmissível que o Brasil mantenha, anos a fio e de forma permanente, a ideia de que existem mais de 56 milhões de pessoas vivendo em condições de pobreza extrema, somente na dependência dos recursos do Bolsa Família, sem que ninguém mova uma pena para auditar e checar tamanho disparate que somente deve acontecer em um país com a administração paupérrima e completamente ineficiente, que menospreza os princípios da eficiência e da efetividade dos recursos públicos.
Tudo tem o seu momento e o do Bolsa Família pode ter chegado para ser moralizada, por meio do recadastramento dos beneficiários, deixando nele somente aqueles que realmente satisfaçam os requisitos de pobreza e preencham as finalidades de extrema necessidade da ajuda de auxílio do Estado.
Não é novidade que o governo tem conhecimento das fraudes e das maracutaias existentes no pagamento do benefício em apreço, mas dá a entender que se acomoda diante da terrível situação, possivelmente em face do impacto eleitoreiro das próximas eleições, fato que o ajuda a fazer vista grossa quanto à premência sobre o saneamento das irregularidades, diante do estrondoso prejuízo causados nas urnas, com a significativa perda dos votos daqueles que seriam afastados por não atenderem as exigências de pobreza absoluta.
Em todo país, há pessoas que trabalham, até mesmo com empregado doméstico, mas preferem não ter carteira assinada porque já são beneficiários do Bolsa Família, que também é o caso de pessoas cadastradas como pescadores, que recebem o auxílio defeso, sem que haja, para tanto, qualquer espécie de controle sobre tais benefícios e muito mais ainda sobre os respectivos cadastramentos.
O governo, que jamais admite falha no cadastramento dos beneficiários do Bolsa Família, defende com unhas e dentes a manutenção do status quo desse programa, tendo em vista que a sua essencialidade foi devidamente comprovada na última eleição, onde as regiões mais beneficiadas com essa distribuição de renda votaram maciçamente na candidata oficial, em demonstração de eterna recompensa pelo esforço que o governo faz para não haver qualquer alteração na relação dos beneficiados, apesar de até mesmo a Controladoria Geral da União já ter comprovado as irregularidades de pagamentos a pessoas que não atendem aos requisitos previstos na legislação de regência.
O objetivo de assegurar o caráter populista e o viés eleitoreiro do Bolsa Família ganha força justamente pela terrível resistência do governo de se permitir o enxugamento da massa de beneficiários, em razão de sua conveniência política, que não se conscientiza que a finalidade precípua dessa política de distribuição de renda deve ser o atendimento do interesse público e não à satisfação de causas pessoais e partidárias, como tem sido com relação ao programa em apreço, quando na última campanha eleitoral a candidata oficial dizia que somente ela seria capaz de manter o Bolsa Família, porquanto os demais candidatos iriam acabar com ele, dando a entender o seu fim exclusivamente eleitoreiro e populista, quando, na forma legal, ele deveria ser tratado como política de Estado, para beneficiar exclusivamente as família comprovadamente pobres.
A sociedade precisa se conscientizar sobre a real finalidade do Bolsa Família, que jamais poderia servir de mecanismo para beneficiar políticos inescrupulosos, à vista do emprego de recursos dos contribuintes, que devem se destinar estritamente à satisfação do interesse público, mediante a manutenção de programa bem administrado, sob a rigorosa observância dos princípios da eficiência e efetividade dos recursos públicos, com embargo da sua vinculação a pessoas ou partidos políticos. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 19 de novembro de 2015

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