domingo, 29 de novembro de 2015

Sentimentos humanitários?


O senador petista, que se encontra preso, disse, em depoimento à Polícia Federal, que queria a soltura do ex-diretor da Petrobras, estritamente, por "questões humanitárias", de vez que seu amigo se encontra no maior sofrimento na prisão, no Paraná, por ter sido apanhado na Operação Lava-Jato.
Na gravação que serviu de base para a sua prisão, o petista fala que procuraria políticos e membros da Justiça, entre eles o vice-presidente da República e ministros do Supremo Tribunal Federal, para tentar influir no caso de seu amigo ex-diretor da Petrobras, também preso.
A conversa gravada ainda mostra que a bondade do senador abrangia o oferecimento do valor de R$ 50 mil mensais para a família do ex-diretor e do espetacular plano de fuga para o amigo, que passaria pelo Paraguai, com destino à Espanha, em troca da garantia dele de, em depoimento de delação premiada, não mencionar o nome do petista.
O senador declarou aos policiais que tinha interesse na soltura do amigo ex-diretor da Petrobras, substancialmente, por motivos pessoais, em especial, por conhecer a família dele e ter trabalhado com ele, fato que acentuava seu sentimento quanto ao sofrimento dele e, em razão disso, gostaria de contribuir para a sua soltura, evidentemente por questões humanitárias.
O senador disse que procuraria ministros do STF, para tratar sobre o padecimento do amigo, como forma de "confortar" o filho dele, embora o petista entendesse que isso não era possível, por entender que se tratava de medida infrutífera.
Causa enorme perplexidade como o mundo do crime é pródigo em imaginar justificativas infundadas e ridículas, como nesse caso de se pretender ajudar, sem o menor sentimento de plausibilidade, um amigo, estritamente por razões de bondade e amor ao ser humano, quando, na verdade, só Deus sabe a verdadeira intenção imaginada na cabeça do petista.
Na realidade, a vida do amigo ex-diretor não estava valendo nem um centavo de dólar furado para o senador, diante da possibilidade de ele poder revelar o muito que sabe sobre a podridão envolvendo os esquemas criminosos na Petrobras e isso ficou muito bem delineado com a gravação da fita e a sua revelação junto às autoridades, que agiram imediatamente para proteger, não somente o amigo do senador, mas a família dele, certamente porque ambos corriam sérios riscos de vida.
Infelizmente, as questões humanitárias não foram efetivamente executadas porque o filho do ex-diretor da Petrobras deve ter desconfiado do gesto "bondoso" do senador petista de oferecer plano de fuga dele para o exterior, num clima de muita benevolência altamente desconfiável.
Pode até ser compreensível que o senador assimilava o terrível sofrimento do ex-diretor e, por isso, imaginava que poderia contribuir para acabar “em definitivo” com o padecimento dele, porém nas plagas do Paraguai, onde ele seria incumbido de executar a sua última missão terrena, em lealdade ao senador "ultra-humanitário", que até tem cara de bom anjo protetor.
Essa miraculosa ideia de apoio humanitário desperta extrema preocupação quanto à urgente necessidade de proteção não somente do ex-diretor da Petrobras, mas de sua família, com vistas a se proteger a integridade física de todos, tendo em conta que o sentimento de humanidade, nesse caso, que envolve reputações enxovalhadas de lamas pútridas, poderia ter tido efeito exatamente contrário ao que se pode imaginar de bondade e de assistência social.  
É muito engraçado partir de petista a preocupação com a questão humanitária de amigo profundamente envolvido no submundo do crime, em demonstração, em sentido contrário, de falta de pudor no que diz respeito à questão relacionada com o interesse público, tratando-se de alguém fidelíssimo escudeiro da presidente da República, na qualidade de até então competente líder do governo, em evidente indicação da falta de dignidade, personalidade e caráter, por imaginar infantilmente que a Justiça é alienada e inepta, em condições de ser levada a acreditar em artimanha absurda sem a menor plausibilidade, como o invocado sentimento pseudo-humanitário.
Urge que os brasileiros se despertem para a realidade, à vista dos fatos do cotidiano, como o país vem sendo administrado, totalmente à mercê do “talento” de pessoais com a índole demolidora dos princípios democrático e republicano, onde prevalecem a vontade e a dominação da desavergonhada classe política com propósitos destinados à satisfação de interesses pessoais e partidários, sem o menor apelo às causas nacionais, que estão sendo vilipendiadas de forma inescrupulosa e progressiva. Acorda, Brasil!            
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 29 de novembro de 2015

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