terça-feira, 3 de novembro de 2015

Os desperdícios do Bolsa Família


O Ministério Público Federal denunciou cinco pessoas pelo crime de estelionato, por causa do recebimento indevido de benefícios do programa Bolsa Família, tendo também ajuizado duas denúncias contra beneficiárias que omitiram parte da renda para se enquadrar nos critérios para aceitação no programa.
Em ambos os casos, a gestora do Bolsa Família também foi denunciada pelo referido órgão, por deixar de adotar as providências necessárias ao cancelamento dos benefícios, principalmente por ela ter pleno conhecimento sobre as fraudes em causa.
Uma beneficiária, que teria declarado que não tinha nenhuma renda familiar, recebeu o benefício no período de agosto de 2011 e outubro de 2012, por ter sido enquadrada na condição de extrema pobreza e fazia jus a benefício maior, que, à época, equivalia a R$ 134,00 por mês. No entanto, foi constatado que ela exercia função remunerada na prefeitura como estagiária e ainda recebia auxílio financeiro de parentes, indicando a extrapolação da renda limite de ingresso no programa.
Em outra denúncia, outras duas beneficiárias receberam valores indevidamente desde 2011, porque uma era professora municipal e a outra empresária e professora, recebendo, ambas, remuneração superior à permitida pela legislação de regência. Neste caso, a gestora municipal do programa também foi denunciada, por ter conhecimento das rendas superiores aos limites legais do Bolsa Família e deixado de providenciar a exclusão das referidas beneficiárias do programa.
Os fatos acima são pequenas amostragens de como o programa tão decantado pelo governo não resiste ao mínimo controle de eficiência e de efetividade, não sendo nenhuma novidade que esculhambação semelhante aos casos supracitados seja evidenciada no cotidiano, abrangendo o sistema Bolsa Família, evidentemente com o beneplácito dos próprios gestores, que deixam de adotar as medidas pertinentes ao cancelamento dos cadastrados que não se enquadram no seu principal requisito de renda mínima e ao ressarcimento dos valores pagos indevidamente.  
Não há a menor dúvida de que se trata de programa de suma importância, por ter a finalidade de ajudar famílias carentes, com recursos dos tributos dos brasileiros, mas a sua execução precisa ser submetida a rigorosos controle, acompanhamento e fiscalização, com a seriedade e a responsabilidade que se exigem na realização de recursos dos contribuintes, conceitos que estão longe de ser constatados por parte do governo, que demonstra total apatia pela efetividade dos fins colimados pelo programa, a exemplo dos casos em comento, dando a entender que a bagunça e a desorganização são mais proveitosos e benéficos para as conveniências da classe política dominante, principalmente porque maior contingente cadastrado contribui para aumentar o colégio de eleitores simpatizantes ao governo, que sempre pode contar com forte trunfo nos períodos eleitorais, como foi evidenciado no último pleito presidencial, quando a candidata oficial obteve estrondosa vantagem sobre os demais candidatos.
É evidente que os indiscutíveis descontrole e desorganização do cadastramento do Bolsa Família causa desperdício de dinheiro, que vai faltar para a execução de outros programas, mas a incompetência e a ganância tributária do governo não têm condições para enxergar essas graves deficiências de planejamento, preferindo utilizar a simplista lei do menor esforço e dos meios próprios da sua incumbência, para propor a recriação da famigerada CPMF, como forma absurda de tapar os rombos criados com as abusivas gastanças, com consequentes descontrole das contas públicas, em cristalina demonstração de irresponsabilidade e falta de seriedade na execução dos recursos públicos.
O governo precisa entender, com urgência, que o formato desse programa se exauriu há bastante tempo, estando agora carecendo de aperfeiçoamento e modernização de suas estruturas, para acompanhar a evolução da humanidade, mas principalmente a realidade dos orçamentos públicos, com a mentalidade mais atualizada, tendo por princípios a efetividade e a eficácia das finalidades precípuas que serviram de base para a ajuda às famílias carentes.
O programa também se mostra exaurido pelo fato de ter sido transformado, por conveniência eleitoreira, em braço forte de apoio aos projetos petistas, servindo os beneficiários como espécie de militância partidária, a partir do momento em que as lideranças da agremiação bradam, a exemplo do que foi constatado no último pleito eleitoral, que os candidatos da oposição ao governo iriam acabar com o Bolsa Família, enquanto a candidata à reeleição seria a única a garantir a manutenção desse importante instrumento de ajuda aos carentes, quase como exigindo que os beneficiários tivessem a obrigação de cerrar fileira em torno dela, como verdadeiros filiados ao partido, e de defender sistematicamente a permanência da presidente no poder.
Tal procedimento se caracteriza absolutamente contrário aos princípios da ética, moralidade e legalidade, por haver prática abusiva de sedução e convencimento do eleitorado fazendo uso de programa que é estritamente de Estado e não de governo, como dá a entender a sempre estridente propagando governista.
Não há dúvida de que se trata do emprego de ardiloso esquema de convencimento sobre fatos inverossímeis, por se tratar de programa custeado com recursos públicos, mas dando a ideia que eles sejam de fontes partidárias, ou seja, somente o partido do governo tem condições de manter o Bolsa Família em atividade, cujos beneficiários seriam prejudicados caso a candidata oficial não fosse reeleita, sob pena de não haver continuidade do programa, caso outro candidato fosse eleito.
Este fato tem significativa importância na concepção da grande maioria dos beneficiários, que é composta por pessoas humildes, simples, destituídas de informações suficientes para avaliar e compreender as artimanhas maquiavelicamente arquitetadas por espertos marqueteiros, que tudo planejam para garantir êxito na eleição, normalmente fazendo uso, de forma inescrupulosa, de fatos que não refletem a realidade dos acontecimentos, como é o caso da propaganda do governo sobre a verdade acerca da real finalidade do Bolsa Família, que tem vinculação a programa assistencial de natureza estatal, ou seja, estruturado e mantido com recursos do Estado, e não de partido político.
Com essa filosofia de programa de ajuda, os beneficiários precisam de aprimoramento no sentido mais específico de amparo, porém por tempo bem mais curto que 17 anos, somente o necessário para que os beneficiários sejam devidamente preparados para o trabalho normal, como os demais brasileiros, depois de passar, obrigatoriamente, por processo de reciclagem e aprendizagem para a obtenção de profissão da sua vocação ou predileção, em menor tempo possível, até o momento em que o próprio governo os encaminhe para o trabalho regular, com carteira assinada e em condições dignas de manter diretamente a sua família.
          O processo atual não passa de medidas indiscutivelmente que contribuem para a regressão da capacidade do ser humano de trabalhar e produzir normalmente, por ter sido considerado pelo governo ser desprezível, sem condições de participar da sociedade como gente útil, porque não há a menor possiblidade de estímulo para o beneficiário se envolver em atividade digna como responsável pelo sustento da sua família, uma vez que ele fica à mercê da migalha repassada pelo governo, que não tem a menor iniciativa de mudar essa terrível situação de desqualificação do ser humano, que tende a permanecer por século nas mesmas condições de precariedades, sem a menor possiblidade de valorização humanitária.  
          O programa que o governo se vangloria de manter em benefício social não resiste, minimamente que seja, a qualquer teste de eficiência e segurança quanto ao cadastro dos beneficiários efetivamente carentes, na forma prevista na legislação de regência, à vista dos fatos que estão vindo à lume, repetidas vezes.  
A própria Corregedoria Geral da União, em auditorias localizadas, já constatou a precariedade de controle sobre os pagamentos realizados pelo Bolsa Família, atestando muitas falhas que aconselham, no mínimo, o seu urgente recadastramento, para que sejam escoimadas do programa as famílias que não preencham os requisitos exigidos por lei, o qual já deveria ter sido promovido há bastante tempo, mas a incompetência governamental é culpada pela omissão no cumprimento da norma legal, quanto à necessidade da regularidade no cadastramento dos beneficiários que realmente se enquadrem nas finalidades institucionais do programa em apreço.
Diante da inépcia do governo, certamente montanhas de recursos, que poderiam ser aplicados em benefício da sociedade, são jogadas pelo ralo da incompetência e da irresponsabilidade, cujos desperdícios poderiam ser evitados, caso houvesse interesse do governo em enxugar o cadastro com a exclusão das famílias que não fazem jus nem têm direito aos benefícios.
O Brasil precisa evoluir muito para que a sociedade possa atingir a conscientização do mundo civilizado, onde os partidos políticos sejam obrigados a atuar sob os preceitos da honestidade e da grandeza quanto à forma de praticar as atividades político-partidárias, sempre fazendo uso de expediente à luz dos princípios transparentes, éticos, morais, legais etc., em harmonia com a evolução da humanidade e a valorização dos sentimentos de honestidade e dignidade, em todos os sentidos.
Os órgãos de controle e fiscalização, inclusive o Congresso Nacional, que tem a incumbência constitucional também de fiscalizar as contas públicas, são obrigados a exigir que o governo promova, com a máxima urgência, o recadastramento dos beneficiários do Bolsa Família, sob pena da perniciosa continuidade da indecência e da irresponsabilidade quanto à falta de controle, acompanhamento e fiscalização sobre a execução do importante programa, gerando descomunal desperdício de recursos públicos, pelos indevidos pagamentos aos beneficiários ilicitamente inscritos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 03 de outubro de 2015

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