sábado, 21 de novembro de 2015

Necessidade de evolução política


O vice-presidente da República, anteriormente contrário, de forma convicta, à recriação da abominável CPMF, agora se mostra menos resistente à medida, sob a alegação de que a criação de mais tributos nunca é a melhor solução, mas esse é caminho para reequilibrar as contas do governo, desde que a taxação seja temporária.
Ele acredita na aprovação da medida no Congresso Nacional, ante a articulação que o Palácio do Planalto vem fazendo com governadores e prefeitos, que aumentou a chance de o novo tributo receber o aval dos parlamentares.
Agora, o vice também disse que nunca foi contra a volta do tributo, mas sim contra a maneira que a presidente decidiu, sem consultá-lo, que iria recriá-lo.
O vice ainda estava à frente da articulação política quando ficou sabendo, pela imprensa, que o governo pensava na recriação da CPMF, tendo procurado a presidente do país para alertá-la que a medida não passaria pela Câmara dos Deputados nem pelo Senado Federal e se recusou a fazer a intermediação com o Congresso.
O déficit bilionário no Orçamento de 2016 encorajou o Palácio do Planalto a insistir na ideia da recriação da abominável CPMF e na negociação com governadores e prefeitos, com vistas ao apoio à medida, para que os recursos pertinentes sejam divididos entre União, Estados e municípios e possam cobrir o rombo da Previdência e ainda investir em saúde e outras áreas de seguridade social.
O vice-presidente mostrou a sua verdadeira face de homem público tupiniquim, de extremo oportunismo, que soube com enorme maestria enganar a ingenuidade e a credulidade das pessoas, que até acreditaram que ele falava com a convicção de gente séria, quando afirmou ser contrário à famigerada contribuição, de triste memória, por ter sido utilizada para atender às mais diversas despesas, menor para a sua real finalidade, no caso, a eterna desprezada saúde pública.
Causa perplexidade que o país em plena convulsão, estagnado e sangrando em trágica recessão econômica, fruto da crônica deficiência gerencial, e ainda padecendo pelo descrédito da população e dos investidores, diante dos desmandos e da desmoralização imperantes na administração pública, que foi capaz de extrapolar os limites prudenciais das contas públicas, num arroubo de gastança nunca vista na história republicana, eis que o vice-presidente associa-se à ideia do governo, embora ele não levasse fé na aprovação de mais tributo, para anunciar, candidamente, que agora é favorável à medida, desde que ela não seja permanente.
Essa mudança posição evidencia clara demonstração da insensibilidade e da falta de seriedade e de vontade política para se exigir que o governo, com vistas à eficiência na gestão de recursos públicos, ao invés de tentar a criação de tributo, promova drásticos cortes na paquidérmica e obsoleta máquina pública, que funciona com o peso da sobrecarga da incompetência e da incapacidade da prestação de serviços de qualidade, tudo em detrimento do interesse público.
A classe política, cada vez mais, mostra-se sem o menor escrúpulo para escancarar a Caixa de Pandora e liberar pragas, escândalos e corrupção, não permitindo que a esperança do povo se realize, ante a insensibilidade e o desinteresse na aprovação de medidas que antes passem por estudos quanto seus reflexos no âmbito da sociedade, levando em consideração, no caso, a capacidade contributiva, existência da carga tributária, a contraprestação por parte do Estado, entre outras considerações relevantes, para que a medida possa ser baseada em elementos consistentes e realmente capazes de satisfazer o interesse púbico e não apenas para tapar o lastimável rombo das contas púbicas, devido à má gestão, fruto da irresponsável gastança de governo que descurou do indispensável zelo com a res publica.  
          A mudança de posição do vice-presidente sobre a CPMF é extremamente compreensível, porque ela condiz exatamente com a absoluta falta de coerência dos políticos tupiniquins, que mudam de lado igualmente como fazem as nuvens, com a diferença de que elas alteram de posição sob os efeitos naturais, enquanto os homens públicos mudam de opinião e posição ao sabor das conveniências políticas, em atendimento aos interesses pessoais ou partidários, sem a menor preocupação com os reflexos de suas atitudes com o interesse público.
No caso, o vice alegou que seria para tapar o rombo das contas públicas, que não foi causado pela sociedade, mas sim pela desastrada e incompetente gestão pública que, de forma temerária e irresponsável, gastou além do permitido pelas normas de administração orçamentária e financeira, com infringência dos limites de que tratam as Leis de Responsabilidade Fiscal e de Diretrizes Orçamentárias, em evidente configuração de crime de responsabilidade fiscal, que os políticos, também de forma irresponsável, fazem vista grossa, ao livrar a responsabilidade da presidente do país dessa gravíssima infração, ao estender o limite para que a presidente fique livre do enquadramento no citado crime, que implicaria o seu impeachment.
Tudo isso demonstra que o país precisa evoluir, de forma extraordinária, para se atingir, ao menos, nível mínimo de racionalidade e civilidade, porque é absolutamente inadmissível que o resto do mundo passe por processo evolutivo quanto aos seus procedimentos cívicos e patrióticos e o Brasil apenas insiste em permanecer com os mesmos mecanismos obsoletos de se privilegiar as absurdas práticas visando à satisfação de interesses da classe política dominante e ao atendimento das conveniências pessoais e/ou partidárias, em evidente detrimento das causas da sociedade, que já é onerada e sacrificada com pesadíssima carga tributária e ainda é obrigada a assumir os erros cometidos pela administração temerária e visivelmente improdutiva para o desenvolvimento nacional. Acorda, Brasil!
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 21 de novembro de 2015

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