quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Fragilidade de argumentos?


Segundo reportagem publicada pela revista Época, o empresário filho do ex-presidente da República petista e o lobista da consultoria Marcondes & Mautoni, em depoimento à Polícia Federal, não conseguiram esclarecer os contratos por eles celebrados entre a empresa do filho do ex-presidente e a consultoria. A revista conclui a situação como inusitada, porque "é como se um não soubesse por que pagou e outro não soubesse por que recebeu".  
Na Polícia Federal, o lobista optou por ficar em silêncio em boa parte de seu depoimento e não soube explicar como escolheu a empresa do filho do petista, embora ele tivesse admitido que o valor pago pelo serviço fosse "absurdo", à vista de resultado de pesquisa "superficial" de preços, realizada antes da contratação do empresário. 
Em que pese a constatação de valores "absurdos", estranhamente a empresa do lobista repassou à LFT Marketing Esportivo o expressivo valor de R$ 2,4 milhões, fato que mostra a possível configuração de falta de lisura, em se tratando que o cerne da contratação envolvia lobby junto ao governo.
Segundo a revista, o empresário não teria apresentado, por ocasião do seu depoimento, relatórios comprovando a prestação dos serviços contratados, embora, à Polícia Federal, ele tivesse dito que os teriam produzido, cujas cópias em poder dele havia sido entregues a seus advogados, depois da revelação sobre as suspeições sobre a “compra” de medidas provisórias editadas entre 2009 e 2013, para favorecimento de montadoras, por meio de expressivos incentivos fiscais, evidentemente com a efetiva redução de receitas.
O advogado do filho do ex-presidente reafirmou a experiência de seu cliente na área esportiva, tendo criticado o vazamento de documentos pela revista, afirmando que ela "manipula as informações contidas no depoimento".
Segundo o advogado, o filho do ex-presidente esclareceu, em seu depoimento, que todos os serviços foram realmente prestados à Marcondes & Mautoni e, no dia seguinte, ele teria entregue à Polícia Federal os contratos firmados com tal empresa, juntamente com os materiais relativos aos trabalhos realizados, atestados pelos relatórios produzidos, na forma prevista no contrato e no plano da contabilidade da empresa, que se encontram disponíveis aos órgãos competentes.
O mencionado advogado reafirmou o seguinte: "Reiteramos nosso repúdio a qualquer tentativa de manipulação de documentos vazados de uma investigação policial na qual Luís Cláudio já prestou todos os esclarecimentos e afastou qualquer ligação com os possíveis ilícitos investigados".
À luz dos fatos vindos à lume, não se pode concluir quem realmente está com a razão, ante a fragilidade dos elementos de avaliação, o que se exige que as investigações sejam realmente aprofundadas, de modo que a verdade sobre mais esse escândalo envolvendo filho de autoridade venha à tona, uma vez que caberia ao próprio denunciado mostrar a licitude de seus atos, não permitindo que a revista nem ninguém ponham dúvida quanto ao seu trabalho como empresário.
A sociedade espera que a Polícia Federal, na sua larga experiência, seja capaz de avaliar os fatos exclusivamente sob o prisma da verdade e da regularidade, com base tão somente nos elementos de convicção, não admitindo que a indesejável e poderosa influência das autoridades políticas, que já foi bastante incômoda para tentar mudar os rumos das investigações e dos resultados acerca desse clamoroso affaire, possa ter interferência no resultado das apurações, em que pesem os próprios fatos já revelarem o que não há tanta dúvida sobre o que realmente pode ter acontecido, ante a revelação da fragilidade dos argumentos apresentados quanto aos valores e o objeto da contratação.
É bastante lamentável que, em pleno século XXI, o país ainda esteja passando por processo lamentável de involução quanto à aplicação dos princípios éticos e morais, por sempre suscitarem eternas dúvidas sobre a licitude de ajustes, públicos ou privados, exigindo que a polícia e/ou a Justiça precisem intervir para, enfim, dizer sobre a sua regularidade, diante da possibilidade de ilações sobre os fatos as mais diversas por parte da sociedade.
Compete à sociedade se conscientizar sobre a atuação dos homens públicos, promovendo as devidas avaliações sobre a sua imprescindibilidade à frente das questões de interesse nacional, à vista de seus reiterados envolvimentos em fatos que têm exigido o indispensável esclarecimento, como forma de justificar a sua atuação na vida pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 26 de novembro de 2015

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