sábado, 28 de novembro de 2015

Inconformismo com mais uma prisão?


O presidente nacional do PT afirmou, em nota, que está perplexo diante dos fatos que embasaram a prisão pelo Supremo Tribunal Federal do líder do governo no Senado Federal, por entender que “Nenhuma das tratativas atribuídas ao senador têm qualquer relação com sua atividade partidária, seja como parlamentar ou como simples filiado. Por isso mesmo, o PT não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade.”.
Finalizando, o presidente do PT ressaltou que irá convocar “em curto espaço de tempo” reunião da Comissão Executiva Nacional para adotar as medidas que a direção da legenda julgar “cabíveis”, em relação ao senador.
          O senador petista foi preso pela Polícia Federal sob a alegação, segundo os investigadores da operação, por tentar ter atrapalhado as apurações em curso na Operação Lava-Jato.
De acordo com ministro do Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria Geral da República afirmou, em documento enviado à corte, que o senador teria oferecido o valor de R$ 50 mil mensais a um ex-diretor da Petrobras, que se encontra preso, para ele não fechar acordo de delação premiada ou, se o fizesse, não citasse o nome do senador, além de ter fornecido opção de rota de fuga para o ex-diretor fugir para a Espanha, via Paraguai.
Embora coerente com a sua índole de não assumir publicamente seus erros e suas falhas, é extremamente lamentável que o PT demonstre total desprezo com relação a um de seus expoentes filiados, numa atitude de completo abandono e irresponsabilidade, dando a entender que o fato em si é problema do senador e, por isso mesmo, ele se vire e procure se explicar, evidentemente sem comprometer o partido, que já se encontra encalacrado até o talo e não tem mais espaço para mais complicação.
É evidente que o senador cometeu crime grave, tanto que a sua prisão, além de preventiva, foi considerada inafiançável, fato que caracteriza violação da legislação pátria, mas o PT poderia ter demonstrado, ao menos, um pouquinho de compreensão por pessoa que até então gozava de excelente conceito no âmbito do partido e do governo, tanto que era líder dele e ainda desempenhava seu mandato com reconhecida dedicação.
A nota do PT foi verdadeira lição de incompreensão para com grande “cumpanhero” que teria sido muito mais importante para o partido se ele apenas tivesse o mínimo de coerência de proceder como tem feito normalmente com os demais criminosos do partido, que estão presos, a exemplo do último ex-tesoureiro, que, mesmo encalacrado com a corrupção até o talo, foi defendido pelo partido.
Por seu turno, causa perplexidade a defesa do senador ter manifestado inconformismo em relação à prisão em causa, tendo questionado, pasmem, o fato de que as denúncias tenham sido originárias de um delator já condenado, como se isso fosse motivo capaz de invalidar verdades sobre fatos irregulares efetivamente acontecidos, e também a imposição de prisão a senador da República, que sequer teria sido acusado formalmente.
É verdade que a Carta Magna não ampara a prisão de detentor de mandato parlamentar, medida essa que deveria ter sido respeitada como garantia da firmeza do Estado Democrático de Direito, caso a situação do senador não tivesse se tratado de flagrante de crime continuado, que é considerado como inafiançável, e ele foi incurso justamente nessa terrível situação, fato que afasta qualquer possibilidade de alegação de abuso de autoridade e muito menos de falta de amparo legal.
A prisão de um senador é motivo de imenso constrangimento para as pessoas honradas e se traduz em situação bastante delicada, por causar inevitável desmoralização de respeitável instituição centenária da República, cujos integrantes, em princípio, deveriam gozar das maiores honradez e estima por parte da sociedade.
O partido do governo já não tem sido capaz de surpreender mais ninguém, porque a todo instante é preso um de seus importantes membros, mostrando a sua exagerada capacidade criativa na “arte” e “engenhosidade” da corrupção, cuja essencialidade ganhou corpo e materialidade nos famigerados escândalos do mensalão e do petrolão, mantidos graças à persistência dos “guerreiros do povo brasileiro”, como são saudados os heróis do partido, responsáveis pela dilapidação do patrimônio nacional.
O Brasil precisa, com urgência, promover lipoaspiração da bandidagem existente na política e no meio empresarial, na tentativa de se recriar mentalidade sadia, voltada para o culto à moralidade e à probidade na administração pública, sob pena de a corrupção se infiltrar e se alastrar de forma incontrolável nela, porque a sua ação deletéria age exatamente onde menos se espera, inclusive no âmago da administração pública, como nesse último caso envolvendo exatamente o líder do governo no Senado Federal, local que, em princípio, seria absolutamente impensável para a sua incidência, por se imaginar que a Câmara Alta seria modelo de dignidade e de honestidade e não de local apropriado para a disseminação de desonestidade contra a nação. Acorda, Brasil!
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 27 de novembro de 2015

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