terça-feira, 17 de novembro de 2015

Insensibilidade administrativa


O Palácio do Planalto, bastante preocupado em chegar o fim do ano sem a aprovação das medidas do pacote fiscal, iniciou ofensiva com a finalidade de fazer pressão sobre o presidente da Comissão de Constituição de Justiça da Câmara dos Deputados, tendo por mira especial o início da tramitação do projeto referente à recriação da abominável CPMF.
Ministros petistas apelaram aos líderes da base aliada na Câmara dos Deputados e aos deputados federais que atuem junto ao presidente daquela comissão para que ele indique, ainda nesta semana, o relator da Proposta de Emenda Constitucional que recria o chamado "imposto do cheque".
A intenção do governo é conseguir, pelo menos, agilizar a tramitação da proposta ainda este ano, de modo a acenar de forma positiva para o mercado financeiro e as agências de risco, que estão sempre ameaçando rebaixar o tão importante grau de investimento do país, à vista do assombroso quadro referente ao déficit primário e à progressiva queda na arrecadação.
Com a evidente resistência no Congresso Nacional à recriação do temível tributo, o governo já conta com a certeza da aprovação dessa praga tributária somente no próximo ano, provavelmente no final do primeiro semestre.
A bancada do PT na Câmara deve protocolar, no ano que vem, em harmonia com movimento combinado com prefeitos e governadores, emenda destinada a alterar a alíquota inicialmente prevista na proposta de 0,20% para 0,38%, de modo a se permitir que a contribuição possa financiar, além da Previdência Social, a área de seguridade social, incluída a saúde.
O objetivo da mudança, que é defendida, de forma ostensiva, pelo governo, é distribuir a arrecadação pertinente entre estados e municípios, que teriam que se empenhar junto ao Congresso, fazendo pressão para que seja aprovada a CPMF.
É muito estranho que o governo ponha pressão sobre o Parlamento, para agilizar o trâmite dos projetos pertinentes ao pacote fiscal, conquanto ele, depois de mais de mês do anúncio das medidas de ajuste, ainda não tenha implementado absolutamente nada quanto às prometidas redução de três mil cargos comissionados e extinção de trinta secretarias, que continuam exatamente nas mesmas condições, sem o menor interesse para cumprir a parte mínima da sua competência.
À toda evidência, não falta ao governo motivação para que ele enxergue a realidade dos fatos ao seu redor, que poderia, se quisesse, enxugar a máquina pública e cortar o excesso de despesas desnecessárias, de modo a dar o exemplo que deve partir do Executivo, para ter moral para pressionar o Legislativo.
Não há dúvida de que é muito cômodo para o governo explorar o bolso do contribuinte, que, por incompetência administrativa e gerencial, foi indevidamente tragado para o olho do furacão das crises, notadamente, econômica, com a recessão exemplarmente conduzida pela presidente, que não teve capacidade para evitar que o país fosse ridicularizado diante das medíocres políticas econômicas, contextualizadas pela mortífera recessão, que destrói cruelmente o emprego, a produtividade, a arrecadação e principalmente os investimentos, contribuindo fortemente para o retrocesso do país, por obra e graça da incompetência administrativa.
O grau da maldade engendrada pelo Palácio do Planalto se fortalece com a tentativa do perfeito conluio entre a União, os prefeitos e governadores, na busca do aumento da alíquota da contribuição para ser rateada entre eles, numa força tarefa contra os já fragilizados e eternos penalizados contribuintes, já onerados com pesada carga tributária, olvidada de forma irresponsável pelo poder público, que não tem sensibilidade para enxergar suas deficiências e desorganizações, sempre procurando os meios mais simplistas para solucionar as questões administrativas.
Essa iniciativa de se buscar tirar o país da crise em cima dos contribuintes se mostra a mais perversa e perniciosa possível, porque, à toda evidência, a sociedade também padece com a crise, em razão das dificuldades impostas pelo momento de desestruturação da administração do país.
Com isso, o governo simplesmente mostra que não tem estratégia, planos nem ideias capazes de resolver seus problemas com medidas de racionalização e modernização da máquina pública, que, nos últimos anos, foi turbinada com a marca do inchaço com órgãos e cargos e da incompetência, tornando-se dispendiosa, ineficiente e poderosa somente no atendimento de interesses pessoais e partidários, tendo por primordiais escopos a absoluta dominação da classe política e a perenidade no poder.
Não faz o menor sentido os contribuintes serem obrigados a consertar os rombos das contas públicas, protagonizados pela presidente do país, que gastou desmedidamente para se reeleger e agora vem entregar a fatura para eles pagarem, em demonstração da maior irresponsabilidade, por não assumir seus atos prejudiciais aos interesses dos brasileiros, que não têm nenhum compromisso com as pedaladas fiscais e os déficits nas contas públicas.
É lamentável que, diante da baderna instalada no país, com a má administração dos recursos públicos e os escândalos que estão ocupando o cotidiano do noticiário dos jornais, o governo imponha, sem qualquer estudo de impacto social, mais um tributo aos contribuintes, na tentativa de sanar suas deficiências, que continuarão piorando cada vez mais, diante da comprovada incapacidade de gestão dos recursos públicos.
Urge que o governo se conscientize que as estruturas do Estado precisam passam por abrangente reforma, com vistas ao aperfeiçoamento e à modernização necessários à sua eficiência e efetividade, de modo que o seu funcionamento atenda prioritariamente os interesses da sociedade, em atenção aos saudáveis princípios republicano e democrático, com embargo da satisfação das causas pessoais e partidárias, que têm contribuído decisivamente para a degeneração dos conceitos da administração eficiente, economia e moralidade, levando o país à recessão e à bancarrota, à luz dos fatos do dia a dia. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 17 de novembro de 2015

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