terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A caminho do isolamento

O presidente dos Estados Unidos da América, que assumiu recentemente o comando da primeira potência mundial, tem sido fidelíssimo ao seu programa de governo, tendo procurado cumprir à risca e até de forma exagerada suas promessas de campanha, fato que não surpreende ninguém a sequência interminável de decretos por tudo que é canto da Casa Branca.
Em tão pouco tempo no cargo, sem exagero, o republicano certamente já deve ter assinado muito mais decretos que o seu antecessor em oito anos, com o detalhe de que todos causam impacto pela profundidade de seus alcances, com poderes transformadores absolutamente contrários aos interesses da humanidade.  
O republicano consegue reviver conceitos de cunho eminentemente discriminatório que remontam ao famigerado nazifascismo, mas com ares de modernismo ao estilo próprio de perseguição aos opositores, com ataques diretos aos mandatários de estado que se posicionam contrários à sua cartilha de dominação, a exemplo do presidente do México e do primeiro-ministro australiano, que foram alvos da sua ira maligna, conforme mostra o noticiário internacional. 
Ao imaginar que a onipotência foi instalada na Casa Branca, com a sua chegada lá, o republicano já teve o atrevimento de também ameaçar a Organização das Nações Unidas com retaliações, caso ela ousasse protestar contra seus atos, sob a evidência da predominância financeira americana sobre os cofres da ONU, que recebem aproximadamente US$ 5 bilhões do orçamento de Tio Sam, cuja ajuda financeira funciona quase como permanente ameaça à existência desse órgão, que tem mais da metade do orçamento anual bancada pelo Tesouro americano, sem contar ainda a falta de repasse de recursos pelos demais membros, em razão das crises econômicas mundiais.  
Na verdade, o discurso do homem mais poderoso do planeta tem o poder de assustar não somente seus conterrâneos, mas o resto da humanidade, por meio de suas deliberações estapafúrdias e individualistas, como se somente ele fosse capaz de consertar os desacertos da face da terra, com direito a passar por cima dos comezinhos princípios do bom senso e da razoabilidade, à vista da relevância das medidas já adotadas, que tiveram o condão de alterar a contextualização do Estado americano e deixar o planeta de ponta cabeça, em total inversão de valores, como se ele sozinho tivesse a obrigação de reinventar todos os conceitos já aprovados pela humanidade e de editar tudo ao seu pensamento estabanado, impensado e truculento.
Não à toa que muitos de seus atos estão sendo imediatamente contestados, inclusive na Justiça, como forma de tolher algumas medidas que estão interferindo de forma prejudicial na vida das pessoas e nas relações sociais.
O presidente norte-americano atenta contra a liberdade dos povos à medida que proíbe, por decreto e sem consultar o Conselho de Segurança Nacional, a entrada de estrangeiros de sete países mulçumanos nos EUA, deixando muito claro abuso de autoridade, em razão da prática das intolerâncias racial, de credo ou de origem, que não condizem com os avanços da humanidade, notadamente porque ela se encaixa em modelo condenado por organismos de defesa dos direitos humanos, que defendem as salutares práticas civilizatórias modernas, com esteio na Convenção de Genebra e nos saudáveis princípios democráticos norte-americanos.
O Poder Judiciário daquele país já foi despertado para agir contra práticas retrógradas e contrárias aos direitos individuais e já passou a atender aos anseios da sociedade, por meio de decisão suspendendo proibições arbitrárias de entrada nos EUA de imigrantes amparada pela legislação de regência, a par dos protestos que tomaram as ruas, demonstrando inconformismo com medidas restritivas, em total desrespeito aos princípios humanitários. 
          Formou-se nos país de Tio Sam verdadeiro clima de confronto e radicalização dos ânimos contra as atitudes nacionalistas do presidente, que contribui com seus decretos para subir a pressão contra ele, embora elas estão sendo formalizadas, em princípio, em sintonia com o seu programa de campanha.
De tudo isso, o caso mais emblemático, absurdo e chocante foi protagonizado, por força do decreto anti-imigração, com a detenção no aeroporto de um garoto de cinco anos, que também foi algemado, em que pese ele ter sido identificado como cidadão americano, residente em Maryland.
Apesar de o incidente ter sido considerado ultrajante, em razão de maus-tratos de ser humano, o porta-voz de imprensa da Casa Branca justificou o ato em tom de puro deboche, ao afirmar que “seria um equívoco descartar uma pessoa como ameaça apenas por sua idade ou sexo”, fato este que muito bem demonstra o atual nível do governo, que não se dispõe ao esforço para evidenciar o mínimo de sensibilidade e sensatez quanto à resolução das questões sociais.
À toda evidência, o presidente norte-americano se encaminha, em passos gigantescos, para se isolar na Casa Branca, principalmente se continuar agindo de forma insensata e sem a devida orientação sensata sobre os verdadeiros princípios de civilidade, à vista do seu completo desprezo aos sentimentos de racionalidade que sempre orientaram a condução dos negócios americanos e contribuíram para a consolidação e a firmeza de suas instituições, que primavam pela valorização histórica daquela nação, consagrada que é como potência mundial graças à sua voluntariedade de ampla integração com os povos das demais nações, com absoluto respeito aos princípios humanitários. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 7 de fevereiro de 2017

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