quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Espírito solidário

O ex-presidente da República tucano esteve no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, para prestar solidariedade ao seu sucessor, que acompanha a esposa, a ex-primeira-dama, internada desde quando foi acometida de acidente vascular cerebral (AVC).
É a primeira vez que os dois ex-presidentes se encontram em mais de três anos, desde dezembro de 2013, quando fizeram parte da comitiva brasileira que esteve no velório do ex-presidente da África do Sul, líder da luta contra o apartheid, regime de separação entre brancos e negros que vigorava no país.
A equipe de médicos do aludido hospital, que cuida da ex-primeira-dama, informou que o caso dela é gravíssimo e irreversível, porque houve parada no fluxo cerebral, e, em consequência disso, a família já autorizou o hospital a preparar os procedimentos para a doação de órgãos dela, que foram colocados à disposição de interessados.
Um senador do PT disse que a visita do tucano ao petista-mor foi um “gesto bonito”, tendo lembrado que o petista esteve no velório da ex-esposa do peessedebista, em junho de 2008.
Não se pode olvidar que o ex-presidente petista praticamente passou a vida política agredindo e ofendendo o tucano, principalmente o governo dele, embora é notório que o possível sucesso da gestão do petista se deve às bases das reformas econômicas elaboradas pelo tucano, cujos resultados floresceram anos depois da sua implantação.
Não há dúvida de que o ex-presidente tucano surpreende com gesto de educação e solidariedade ao adversário político, em momento em que este se encontra fragilizado com a dor da perda de sua esposa, fato que bem demonstra a grandeza humana do tucano.
É evidente que, em se tratando de político, muitos preferem se comportar sem o menor sentimento de polidez, que tem sido próprio dos políticos tupiniquins, que também, via de regra, preferem ignorar os princípios humanitários, que são a base da piedade e do amor.
Na atualidade, a luta renhida pela competitividade política tem contribuído para dificultar a separação de humanismo das atividades políticas, onde impera disputa nem sempre leal e cordial, como deveria ser, ao contrário, entre pessoas civilizadas, mas a verdade é que tem sido difícil a separação entre urbanidade e agressividade, embora aquela tem o condão de contribuir para melhoraria das relações sociais.
Convém lembrar que, durante a internação da ex-primeira-dama, desfilaram manifestações na mídia de muito ódio e rancor nos corações das pessoas, demonstrando a sua índole má contra um ser humano que se encontrava em estado gravíssimo e merecia compaixão e compreensão humanas.  
Os que desfiaram seu ódio e sua intolerância precisam se conscientizar de que uma coisa é a política e outra é a vida humana, que não pode se submeter à perversidade dos sentimentos malignos e desumanos.
O reencontro de rivais na política, em momento delicado da perda de ente querido, é a sublime materialização do espírito de solidariedade que precisa prevalecer sempre nas mentalidades dos homens de bem e isso é muito importante, porque serve de exemplo para muitas pessoas de coração duro e frio, que mesmo no momento da maior gravidade, em termos de sentimento humano, não conseguem minimizar suas ácidas críticas contra pessoas que não gostam.
A atitude do ex-presidente tucano, em prestar solidariedade ao ex-presidente petista, que não se cansava de o atacar, demonstra cristalino sentimento de civilidade e de grandeza que se coaduna com as pessoas de princípios, que sabem perfeitamente valorizar os conceitos humanitários e diferenciá-los das práticas políticas, que ainda estão distantes das almejadas disputas saudáveis e revestidas do bom senso e da razoabilidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 3 de janeiro de 2017

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