domingo, 12 de fevereiro de 2017

Protesto ao culta da incoerência

O presidente da República disse que tem certeza que não haverá vazamentos das delações feitas pelos executivos e ex-executivos da Odebrecht, por força das investigações realizadas pela Operação Lava-Jato.
As referidas delações foram homologadas pela presidente do Supremo Tribunal Federal, sob a chancela da manutenção do seu sigilo, em dissonância com o salutar princípio da transparência, mantendo ocultação do seu conteúdo, principalmente dos envolvidos, na sua expressiva maioria importantes políticos da República, que precisam urgentemente justificar os fatos denunciados pelos delatores.
O presidente do país disse que “De vez em quando sai um ou outro (vazamento), mas eu confesso que, estando lá no Supremo, eu duvido que haja vazamento. Eu conheço a seriedade, a competência, a exação (correção), a extraordinária capacidade administrativa e judicial da presidente Cármen Lúcia, eu tenho certeza que vazamento não haverá“.
O depoimento do ex-diretor de relações institucionais da empreiteira vazou e atingiu em cheio o próprio presidente do país, que foi citado, pasmem, 43 vezes na delação –, o qual foi acompanhado por outros políticos próximos a ele, no caso de quase todos os ministros da proximidade de trabalho, o líder do governo no Congresso Nacional e o presidente do Senado Federal.
O mandatário do país afirmou que acha correta a homologação das delações pela presidente do Supremo, após o vácuo com a morte do relator responsável pelo caso na excelsa Corte, tendo ponderado que ela “Fez o que tinha de fazer”.
O presidente afirmou que a manutenção do sigilo sobre as colaborações, determinada pela presidente do Supremo que não iria opinar, porque “Ela manteve o sigilo, esta é uma decisão do Judiciário, eu não posso dar palpite em relação a isso”.
O presidente do país precisa saber, com o máximo de urgência, que quem não deve, não teme e os brasileiros precisam saber, com base na Constituição, o nome e a conduta cívica daqueles que vivem se passando por santinho (do pau oco), mas são verdadeiros bandidos que se beneficiaram de propina e estão aí na administração pública se passando por honestos e enganando os bestas dos brasileiros.
A homologação implica, em princípio, se afirmar que se trata da revelação da verdade e ela precisa ser mostrada com toda a sua maldade contra o interesse público, porque o povo tem direito de saber tudo sobre a roubalheira que dilapidou o patrimônio da Petrobras, porque ele sustenta a República.
          Nada justifica manter em segredo o conteúdo das delações premiadas que têm, em princípio, a finalidade de passar o Brasil a limpo e os envolvidos precisam sim ser desmascarados, principalmente porque muitos deles estão ocupando indevida e injustificavelmente cargos públicos eletivos, que, à luz dos princípios da dignidade e da moralidade, deveriam ser afastados imediatamente deles logo após a revelação do seu envolvimento com as falcatruas.
À vista dos princípios da administração pública, a segurança das informações constantes das delações continua firme, mas os envolvidos precisam urgentemente justificar os fatos objeto das suspeitas, de modo a contestá-las, provando, com elementos legalmente válidos, a sua inocência, para o fim de ter o direito de gozar da confiança e credibilidade da sociedade.
É impressionante como a hipocrisia não consegue se distanciar do mundo político, porque, no caso das delações, muitos suspeitos defendem a sua transparência, que diz exatamente com o princípio consagrado na Carta Magna, em harmonia com suas afirmações, que garantem não haver qualquer envolvimento com as sujeiras investigadas pela Operação Lava-Jato, mas, ao contrário disso, ninguém tem sossego diante da possibilidade de vazamento das informações pertinentes às delações, que não haveria o menor problema para aqueles que dizem não terem nada a temer, mas, no íntimo, torcem mesmo para que o sigilo seja e seja tumular.
Isso é muito estranho, porque o temor com a transparência não condiz com a tão decantada afirmação de inocência com relação aos fatos investigados pela Operação Lava-Jato, porque quem não deve não teme e aquele que não tem culpa deveria exigir que as delações se tornassem ostensivas, exatamente assim como se procede nas nações sérias, civilizadas e compromissadas com a verdade, a transparência e a dignidade, à luz dos princípios da administração pública.
Os brasileiros precisam exigir que os políticos tupiniquins sejam educados no sentido de cultuar a dignidade, sinceridade e coerência, como forma de valorização dos princípios ínsitos do desempenho das atividades político-administrativas, a exemplo do entendimento consolidado e consagrado nas nações sérias, evoluídas e compromissadas com os conceitos da ética, moralidade, transparência, legalidade, entre outros que se impõem na administração pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 12 de fevereiro de 2017

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