Embora
esteja chovendo em algumas regiões nordestinas, as precipitações pluviométricas
ainda são insuficientes, mesmo no mês de maior incidência de chuvas, para
encher os açudes e reservatórios que normalmente são usados para o
abastecimento de água da população, tudo evidenciando que é preciso chover com
maior intensidade, para que a tragédia da seca seja afastada este ano.
Ao
que tudo indica, o inverno está chegando somente de mansinho no Nordeste, onde
as chuvas aparecem em determinadas localidades, deixando os sertanejos em um
misto de animação e preocupação, com a expectativa da armazenagem de água e a plantação
para a sua subsistência.
Enquanto a
seca não for tratada com a devida responsabilidade, no âmbito da incumbência do
Estado, que tem a missão constitucional de adotar medidas de tal efetividade
que jamais as agruras causadas pela falta de água poderiam ainda estar prejudicando
milhões de pessoas, a economia do Nordeste, o meio ambiente e o ecossistema,
que são degradados e depauperados em escala progressiva, por exclusiva culpa do
descaso e da falta de políticas próprias para sanar em definitivo essa grave
questão.
É
injustificável que não haja prioridade por parte dos governos para cuidar de situação
de suma importância para o desenvolvimento da região, que não pode continuar
sob o descaso das autoridades públicas, que se omitem quanto à sua
responsabilidade de zelar pelos interesses dos nordestinos, calejados e
sacrificados diante da constante necessidade do enfrentamento das secas
seguidas, sem que nada de efetivo seja feito, de forma preventiva, quando se
sabe que a calamidade da seca é alimentada justamente pela falta de interesse
político para a solução definitiva de tão grave problema.
Causa
perplexidade que a região visivelmente abandonada fique à mercê das migalhas
governamentais, sempre à espera do seu costumeiro socorro por meio de escassos
recursos, que normalmente aparece nos momentos cruciais, cujas verbas são suficientes
apenas para remediar e resolver, de forma precária, situações emergencial,
paliativa e esporádica, sem nenhum compromisso com a solução definitiva da
causa da seca.
Caso
houvesse interesse e vontade políticos para solucionar os problemas da seca, bastaria
o governo se espelhar em regiões mundiais que são castigadas pela aridez e
escassez de água, a exemplo de localidades desérticas como Califórnia, Arizona
e Israel, onde há projetos sérios e eficientes de abastecimento permanente de água, plantação e produção de alimentos em plenos desertos.
No
Nordeste, ainda tem a vantagem do aproveitamento do lençol freático, que é considerado
o maior do mundo, mas, apesar disso, ainda há dizimação da vida humana e de
animais, além da devastação do meio ambiente, que poderiam ser evitados se
houvesse vontade e responsabilidade políticas.
Até
parece que a indústria da seca é realidade nua e crua, onde os políticos
inescrupulosos se beneficiam da situação e tudo fazem para que não haja solução
em definitivo, sob pena de prejudicar seus interesses e suas fontes mantenedoras
da pouca-vergonha e do descaso, que têm sido a causa do empobrecimento da
região nordestina, em benefício de alguns poucos aproveitadores.
O
certo é que as montanhas de dinheiro que já foram gastas com os esquemas
inescrupulosos e criminosos certamente seriam suficientes para a construção de reservatórios
perenes nas terras e propriedades do Nordeste e acabariam com o eterno
sofrimento dos sertanejos.
A
maior prova da incompetência administrativa é a transposição do Rio São
Francisco, inicialmente orçado em dois bilhões de reais, seus gastos podem superar
o quíntuplo desse valor, em um empreendimento demoradíssimo e com todas feições
de superfaturamentos, contratos suspeitos de irregulares e muitos gastos
desnecessários e abusivos, que somente contribuem para onerar o Tesouro.
O
mais grave de tudo isso é que o altíssimo sacrifício dos contribuintes pela
realização de obras caríssimas não vai atender à generalizada escassez de água,
haja vista que sua abrangência apenas pode beneficiar determinada região,
ficando a maior parte do Nordeste bem distante dos canais em construção, que
dificilmente será acudida pelo astronômico esforço da transposição valiosíssima
e de pouquíssima efetividade e eficiência, em termos de custo-benefício.
O
descaso contra os nordestinos vem de longíssima data e, desde então, os
especialistas sempre afirmaram que há solução para o grave problema da falta de
água, mas nunca houve conscientização e vontade políticas para a priorização de ações
voltadas para o específico saneamento dessa terrível situação, que martiriza,
de forma permanente, a vida de milhões de pessoas castigadas e indefesas.
Enquanto
isso acontece, recentemente, o Brasil jogou nos ralos do desperdício bilhões de
reais, sem que os insensatos mentores tivessem sido responsabilizados pelos
danos causados aos necessitados, com a realização de dois megaeventos – a Copa
do Mundo de Futebol e a Olimpíada do Rio de Janeiro - absolutamente
incompatíveis com a realidade de lamúria dos sertanejos, cujos custos desses
empreendimentos não resultaram senão em sacrifício social e mais despesas para
a manutenção de estádios e instalações inúteis e inservíveis para a satisfação
do interesse público.
Enquanto houver tolerância e magnanimidade com a forma
irresponsável de assistencialismo e de insensibilidade para o martírio de povo
sofrido, em razão das constantes secas, os bravos nordestinos vão continuar
submetidos à eterna acomodação e aos maus-tratos dos governantes e homens
públicos, que se satisfazem, em termos políticos, com calamitosa situação da
seca, que tem sido vantajosa para os seus interesses e suas conveniências.
Na
verdade, a solução da falta de água depende, na essência, da sensibilidade dos
governantes e dos homens públicos, que precisam se comprometer com a causa dos
nordestinos, que não podem mais continuar à mercê do perverso e paliativo
assistencialismo do Estado, que, ao contrário, tem obrigação de solucionar em
definitivo esse gravíssimo problema social e humanitário, a depender também da
iniciativa do povo do Nordeste de exigir, com veemência, das autoridades
públicas prioridade e mais prioridade de políticas públicas para tratar, com exclusividade,
dessa finalidade de suma importância para os sertanejos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 23 de fevereiro de 2017
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