sábado, 18 de fevereiro de 2017

Só arrependimento não basta

Em entrevista concedida à revista VEJA, com o semblante mais plácido possível, evidentemente sem o menor constrangimento, um senador petista por Pernambuco teve coragem de dizer, em bom som, que “É hora de assumir a corrupção do PT”.
Ele se apresenta como o primeiro político do alto escalão do partido a se dignar a aparecer em público para reconhecer o que todo mudo já sabe e dizer que “chegou o momento de o PT admitir a corrupção e pedir desculpas.”.
O senador pernambucano sempre se destacou em defesa das ideias de domínio absoluto das classes política e social e da perpetuidade do partido no poder e marcou presença muito atuante no olho do furacão durante a prisão do ex-senador e ex-petista preso tentando obstruir os trabalhos da Operação Lava-Jato, e durante o emblemático processo de impeachment da correligionária ex-presidente petista.
Ele esteve lutando ferozmente na linha de frente das batalhas para defender o restante dos cacos do PT, em razão das devastadoras denúncias dos delatores envolvidos nos escândalos que arrasaram o patrimônio da Petrobras, empresa comandada pelo governo de seu partido.
Além de tudo isso, o senador era aguerrido líder do partido no Senado Federal até duas semanas atrás, quando partia com disposição aguerrida para cima dos adversários em defesa da “honradez” do nome dos governos petistas e de seus correligionários, sem jamais ter aceitado o mínimo deslize por parte dos petistas.
Trata-se de político alinhado visceralmente com o idealismo socialista proferido por seu partido, que sempre admitiu, por parte de suas principais lideranças, que era capaz de fazer qualquer coisa para se manter no poder, não importando, evidentemente, os fins empregados para se atingir os meios e o resultado das incompetências e irresponsabilidades é contado pelo rastro maldoso da inigualável corrupção disseminada ao longo de seus governos populistas, a exemplo dos famigerados mensalão - cujo julgamento pelo Supremo Tribunal Federal resultou na punição de líderes petistas e dezenas de executivos – e o petrolão – cujas investigações revelaram montanhas de podres que não permitem tão cedo se saber qual será o fim de tamanha tragédia para os interesses do Brasil.
O senador pernambucano é o primeiro corajoso petista a assumir, em entrevista a VEJA, que “Chegou a hora de o PT admitir que se envolveu em corrupção, pedir desculpas à sociedade pelos erros que cometeu, abandonar o discurso de ‘denúncia do golpe’ e apresentar propostas econômicas para tirar o país do atoleiro. ‘A autocrítica é necessária, essencial, mas não é suficiente’”.
Há algo de estranho no ar com a atitude protetora do partido pelo citado político, conquanto ele apenas reconhece que é chagado o momento do reconhecimento dos erros praticados pelo PT, depois de todos os usufrutos e dos benefícios proporcionados ao partido, inclusive as conquistas eleitorais, com o emprego de recursos sujos, fruto da desonestidade da corrupção, como se a simples admissão das falhas fosse capaz de abonar o mar de irregularidades, possibilitando a continuidade do partido que foi capaz de destruir a dignidade de uma nação e de seu povo, ficando impune com o mero gesto de pedido de desculpas.
O senador precisa saber que não basta somente reconhecer o que os fatos já mostraram há muito tempo e ficar livre das punições legais, como se nada tivesse acontecido de desastroso, que pudesse simplesmente ficar tudo bem com simples pedido de desculpas.
Se o Brasil fosse um país sério e tivesse ordenamento jurídico moderno e consentâneo com os princípios verdadeiramente moralizador e democrático, os fatos cuja autoria é imputada ao PT seriam capazes de já ter determinado a extinção do partido, a prisão de todos os envolvidos e responsáveis pelo comando da agremiação e o ressarcimento dos valores compreendidos nos desvios por meio do propinoduto da Petrobras.
Não fosse o senador ser um dos mais ferrenhos defensores dos governos que ele agora reconhece com a marca indelével da corrupção, até se poderia imaginar o espírito de arrependimento de pessoa que de honesta não tem nada, porque reconhece a canalhice praticada por seu partido contra a nação e ainda tem a cara lisa de permanecer na agremiação, sob o argumento de simples pedido de desculpas para algo tão grave e monstruoso, em termos político-administrativo, ante a caracterização de afronta, entre outros, aos princípios da dignidade, moralidade, honestidade.
Não há a menor dúvida de que a tardia confissão de autêntico, importante e influente petista de reconhecer a roubalheira protagonizada por seu partido, justifica a necessidade do alinhamento à sua ideia dos demais integrantes da agremiação corrupta, à vista dos enormes prejuízos causados ao Brasil, para o fim da imediata extinção do partido, acompanhadas das demais medidas saneadoras cabíveis, com o ressarcimento dos danos levantados por meio dos desvios de recursos da Petrobras e da prisão das lideranças envolvidas e culpadas pelos crimes praticados contra o país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 18 de fevereiro de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário