Na
velocidade imprimida aos trabalhos da Operação Lava-Jato, tudo indica que o
cerco sobre os principais caciques da política brasileira se fecha a passos
largos, deixando-os completamente desnorteados e apreensivos com o desfecho de investigações
que estão no rastro do dinheiro desviado da Petrobras, cujo mapa é constituído
de planilhas, demonstrativos, documentos contáveis e extratos de contas
bancárias, no país e no exterior, contribuindo para que a verdade se torne
transparente e não seja mais possível negar o óbvio.
A
história tupiniquim faz lembrar o caso do Porco Napoleão da fábula sobre o
poder, narrada na "Revolução dos Bichos", de George Orwel. Napoleão
manobrava junto aos bichos para tomar o poder e, para tanto, ele fazia inflamados
discursos para pôr os bichos contra o dono da fazenda. Quando ele conseguiu expulsá-lo
de lá, tratou, em seguida, de derrubar fortes aliados para ficar sozinho com o
poder.
A
fábula mostra que até os bichos estão fadados à tirania, com a ascensão de uma casta ao poder e que, em princípio,
“todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais do que os outros”. A lição
transmitida pela fábula é a de que não existe igualdade social devido às
relações de concentração de poder nas mãos de uma minoria, que não mais se
satisfaz com tal igualdade, por se perceber que o poder proporciona amplas
ambições inexistes até então.
Os fatos mostram que muitos equívocos foram cometidos ao longo da
jornada de partidos no poder, ficando muito difícil os esclarecimentos sobre o
ocorrido, sendo imprescindível que haja investigações com profundidade acerca
de tudo que for objeto de suspeita, principalmente sobre os fatos já catalogados,
sob metodologia respaldada de forma isenta, transparente e ilimitada, para que
a verdade, doa quem doer, venha à tona e os envolvidos, se for o caso, sejam
devidamente responsabilizados, punidos e condenados ao ressarcimento dos
prejuízos causados ao erário.
A
tentativa de se pôr panos quentes sobre fatos que emergiam ainda muito
timidamente foi tremendo equívoco, quando eles já deveriam ter sido investigados
na ocasião, uma vez que os despistes foram prejudicais ao conhecimento da
verdade, a começar por falsos argumentos de que “eu não sabia”; “ fui traído”, sem se apontar o (s)
traidor (es); “me apunhalaram pelas
costas”; “o mensalão nunca existiu,
foi um julgamento político”, quando as provas pululavam; “os companheiros são inocentes”; e outras
desculpas esfarrapadas que somente contribuíram para aumentar o mar de
incertezas sob suspeitas, evidentemente na tentativa de que o esquecimento
cuidaria de sanar os questionamentos.
Os
fatos mostram que os homens públicos que praticam politicagem e fazem tudo para
esconder a realidade sobre os fatos escusos podem ser vencidos pela verdade,
sendo atropelados e tragados por ela, como castigo de não ter tido a dignidade
de reconhecer, ao seu tempo, os erros e os danos causados ao país.
Depois
da irreversibilidade de se manter sob censura os fatos contrários ao interesse
do país, a ordem agora se volta para a refundação de partidos envolvidos em escândalos,
mas parece que se trata de manobra absolutamente inviável na prática, diante
dos estragos e da enorme erosão causados à sua imagem, em decorrência das
práticas delituosas que objetivavam a absoluta dominação das classes política e
social e a perenidade no poder, não importando os fins escusos empregados para
o atingimento dos meios.
Na
atualidade, o povo demonstra forte sentimento de indignação e de repúdio às
indignidades daqueles que não assumem seus gravíssimos erros, diante da forma
grotesca como o país foi conduzido à bancarrota, com os rombos nas contas
públicas, o retrocesso na economia, que ainda atravessa forte recessão, o
altíssimo desemprego e tantas precariedades próprias de gestão absolutamente
temerária, à vista da visível incapacidade da retomada do desenvolvimento.
As
manifestações do povo contrárias aos partidos e políticos envolvidos em
falcatruas decorrem do conjunto da obra, cujos malefícios empurraram o país
para o fundo do poço, inclusive sendo submetido ao descrédito das agências
internacionais de classificação de risco, que sempre avaliavam o país sob o
prisma da decadência econômica, como se ele se estivesse paralisado e rota de
coligação com o desenvolvimento econômico e não havia a menor segurança para a
volta dos investimentos em tal situação de descaminho e descrédito.
O
certo é que a continuidade da defesa da correção das gestões absolutamente
atrapalhada, conforme mostram os fatos, somente contribui para aumentar o fosso
que separa aqueles que acreditam nela dos brasileiros que já se conscientizam
sobre as desgraças protagonizadas por elas, consistentes no conjunto de muitas
irregularidades com o dinheiro dos contribuintes; negociatas envolvendo cargos
públicos, por meio do descarado fisiologismo visando à governabilidade a
qualquer custo; a despudorada desmoralização dos serviços públicos, com seu
rebaixamento aos piores níveis de precariedades, à vista dos clamores da
população mais carente, em que pesem as artimanhas das bolsas
assistencialistas, com paliativas ajudas que aumentavam ainda mais a situação
de pobreza, entre muitas deficiências que não são reconhecidas, mas sim
enaltecidas como se tudo tivesse contribuído para beneficiar os brasileiros.
Os
políticos precisam se conscientizar de que a iniciativa da criação e manutenção
de programas sociais é apenas uma opção de política de governo, que em nada
pode beneficiar o seu idealizador, porque isso apenas integra as ações do Estado,
como uma atividade própria para minimizar a situação de pobreza, embora os
políticos tupiniquins explorem essa prática como sendo marca pessoal de
atuação, que normalmente tem viés político-eleitoreiro em benefício de pessoal
e de seu partido.
O
mais grave é que muitos políticos espertos procuram explorar em seu proveito os
feitos sociais de sua gestão, na tentativa de justificar seus maus feitos, como
se algo que teria dado certo, que não passou além da obrigação do estado, a
exemplo do Bolso Família, pudesse servir para compensa as desonestidade e
indignidade na gestão pública.
A
situação dos principais políticos brasileiros fica cada vez mais complicada pela
insistência da tentativa de negar seus envolvimentos e dos partidos nos fatos
conturbados e prejudiciais à causa pública, quando os resultados das investigações
apontam para versões bem diferentes, que são explicadas por eles apenas por meio de falácias
e argumentos sem muita consistência, quando os brasileiros esperam por provas
que mostrem, de forma contundente, as suas inculpabilidades sobre as suspeitas
e as denúncias, muitas das quais já foram aceitas pela Justiça, que se apoia na
materialidade delas, de vez que haveria temeridade e fragilidade processual
caso não existissem fortes elementos juridicamente válidos nos autos. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 27 de fevereiro de 2017
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