segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O estreitamento do cerco

Na velocidade imprimida aos trabalhos da Operação Lava-Jato, tudo indica que o cerco sobre os principais caciques da política brasileira se fecha a passos largos, deixando-os completamente desnorteados e apreensivos com o desfecho de investigações que estão no rastro do dinheiro desviado da Petrobras, cujo mapa é constituído de planilhas, demonstrativos, documentos contáveis e extratos de contas bancárias, no país e no exterior, contribuindo para que a verdade se torne transparente e não seja mais possível negar o óbvio.
A história tupiniquim faz lembrar o caso do Porco Napoleão da fábula sobre o poder, narrada na "Revolução dos Bichos", de George Orwel. Napoleão manobrava junto aos bichos para tomar o poder e, para tanto, ele fazia inflamados discursos para pôr os bichos contra o dono da fazenda. Quando ele conseguiu expulsá-lo de lá, tratou, em seguida, de derrubar fortes aliados para ficar sozinho com o poder.
A fábula mostra que até os bichos estão fadados à tirania, com a ascensão de uma casta ao poder e que, em princípio, “todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais do que os outros”. A lição transmitida pela fábula é a de que não existe igualdade social devido às relações de concentração de poder nas mãos de uma minoria, que não mais se satisfaz com tal igualdade, por se perceber que o poder proporciona amplas ambições inexistes até então.
Os fatos mostram que muitos equívocos foram cometidos ao longo da jornada de partidos no poder, ficando muito difícil os esclarecimentos sobre o ocorrido, sendo imprescindível que haja investigações com profundidade acerca de tudo que for objeto de suspeita, principalmente sobre os fatos já catalogados, sob metodologia respaldada de forma isenta, transparente e ilimitada, para que a verdade, doa quem doer, venha à tona e os envolvidos, se for o caso, sejam devidamente responsabilizados, punidos e condenados ao ressarcimento dos prejuízos causados ao erário.
A tentativa de se pôr panos quentes sobre fatos que emergiam ainda muito timidamente foi tremendo equívoco, quando eles já deveriam ter sido investigados na ocasião, uma vez que os despistes foram prejudicais ao conhecimento da verdade, a começar por falsos argumentos de que “eu não sabia”; “ fui traído”, sem se apontar o (s) traidor (es); “me apunhalaram pelas costas”;o mensalão nunca existiu, foi um julgamento político”, quando as provas pululavam; “os companheiros são inocentes”; e outras desculpas esfarrapadas que somente contribuíram para aumentar o mar de incertezas sob suspeitas, evidentemente na tentativa de que o esquecimento cuidaria de sanar os questionamentos.  
          Os fatos mostram que os homens públicos que praticam politicagem e fazem tudo para esconder a realidade sobre os fatos escusos podem ser vencidos pela verdade, sendo atropelados e tragados por ela, como castigo de não ter tido a dignidade de reconhecer, ao seu tempo, os erros e os danos causados ao país.   
Depois da irreversibilidade de se manter sob censura os fatos contrários ao interesse do país, a ordem agora se volta para a refundação de partidos envolvidos em escândalos, mas parece que se trata de manobra absolutamente inviável na prática, diante dos estragos e da enorme erosão causados à sua imagem, em decorrência das práticas delituosas que objetivavam a absoluta dominação das classes política e social e a perenidade no poder, não importando os fins escusos empregados para o atingimento dos meios.
Na atualidade, o povo demonstra forte sentimento de indignação e de repúdio às indignidades daqueles que não assumem seus gravíssimos erros, diante da forma grotesca como o país foi conduzido à bancarrota, com os rombos nas contas públicas, o retrocesso na economia, que ainda atravessa forte recessão, o altíssimo desemprego e tantas precariedades próprias de gestão absolutamente temerária, à vista da visível incapacidade da retomada do desenvolvimento.
          As manifestações do povo contrárias aos partidos e políticos envolvidos em falcatruas decorrem do conjunto da obra, cujos malefícios empurraram o país para o fundo do poço, inclusive sendo submetido ao descrédito das agências internacionais de classificação de risco, que sempre avaliavam o país sob o prisma da decadência econômica, como se ele se estivesse paralisado e rota de coligação com o desenvolvimento econômico e não havia a menor segurança para a volta dos investimentos em tal situação de descaminho e descrédito.
O certo é que a continuidade da defesa da correção das gestões absolutamente atrapalhada, conforme mostram os fatos, somente contribui para aumentar o fosso que separa aqueles que acreditam nela dos brasileiros que já se conscientizam sobre as desgraças protagonizadas por elas, consistentes no conjunto de muitas irregularidades com o dinheiro dos contribuintes; negociatas envolvendo cargos públicos, por meio do descarado fisiologismo visando à governabilidade a qualquer custo; a despudorada desmoralização dos serviços públicos, com seu rebaixamento aos piores níveis de precariedades, à vista dos clamores da população mais carente, em que pesem as artimanhas das bolsas assistencialistas, com paliativas ajudas que aumentavam ainda mais a situação de pobreza, entre muitas deficiências que não são reconhecidas, mas sim enaltecidas como se tudo tivesse contribuído para beneficiar os brasileiros.
Os políticos precisam se conscientizar de que a iniciativa da criação e manutenção de programas sociais é apenas uma opção de política de governo, que em nada pode beneficiar o seu idealizador, porque isso apenas integra as ações do Estado, como uma atividade própria para minimizar a situação de pobreza, embora os políticos tupiniquins explorem essa prática como sendo marca pessoal de atuação, que normalmente tem viés político-eleitoreiro em benefício de pessoal e de seu partido.
O mais grave é que muitos políticos espertos procuram explorar em seu proveito os feitos sociais de sua gestão, na tentativa de justificar seus maus feitos, como se algo que teria dado certo, que não passou além da obrigação do estado, a exemplo do Bolso Família, pudesse servir para compensa as desonestidade e indignidade na gestão pública.
A situação dos principais políticos brasileiros fica cada vez mais complicada pela insistência da tentativa de negar seus envolvimentos e dos partidos nos fatos conturbados e prejudiciais à causa pública, quando os resultados das investigações apontam para versões bem diferentes, que são  explicadas por eles apenas por meio de falácias e argumentos sem muita consistência, quando os brasileiros esperam por provas que mostrem, de forma contundente, as suas inculpabilidades sobre as suspeitas e as denúncias, muitas das quais já foram aceitas pela Justiça, que se apoia na materialidade delas, de vez que haveria temeridade e fragilidade processual caso não existissem fortes elementos juridicamente válidos nos autos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 27 de fevereiro de 2017

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