O
líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) foi preso durante a
reintegração de posse de terreno particular ocupado na cidade de São Paulo, sob
a alegação de desobediência judicial e incitação à violência.
Integrantes
do movimento, em nota, disseram que se trata de "Prisão absurda de Boulos. O companheiro Guilherme Boulos, membro da
coordenação nacional do MTST, que estava acompanhando a reintegração de posse
da ocupação Colonial, visando garantir um desfecho favorável para as mais de
3000 pessoas da ocupação, acaba de ser preso pela PM de São Paulo sob a
acusação de desobediência civil. Um verdadeiro absurdo, uma vez que Guilherme
Boulos esteve o tempo todo procurando uma mediação para o conflito... Não
aceitaremos calados que além de massacrarem o povo da ocupação Colonial,
jogando-os nas ruas, ainda querem prender quem tentou o tempo todo e de forma
pacífica ajudá-los".
O
líder do MTST disse que "É uma
prisão política. Despejam 700 famílias com violência e falam que eu agi com
violência. É uma prisão descabida, nenhum flagrante, atribuíram coisas a mim
que não aconteceram. O MTST estava lá
para garantir o direito das pessoas despejadas".
O
ex-presidente da República petista se manifestou contra a prisão do líder do
MTST, afirmando que "Não é caso de
polícia. Toda a solidariedade ao companheiro Guilherme Boulos. A luta para que todos tenham direito a uma
moradia digna é parte da construção de um Brasil melhor e mais justo. É preciso
muito diálogo, investimento em moradia e políticas públicas".
A
ex-presidente da República afirmou que “A
prisão é inaceitável. Os movimentos sociais devem ter garantidos a
liberdade e os direitos sociais, claramente expressos na nossa Constituição
cidadã, especialmente, o direito à livre manifestação. Prender Guilherme
Boulos, quando defendia um desfecho favorável às famílias da Vila Colonial em
São Paulo, evidencia um forte retrocesso. Mostra a opção por um caminho que
fere nossa democracia e criminaliza a defesa dos direitos sociais do nosso povo".
A
Secretaria da Segurança Pública informou que "A PM atendeu ao pedido para apoiar os oficiais de Justiça no
cumprimento da reintegração de posse em dois terrenos em São Mateus, Zona Leste
da capital. Após tentativa de
negociação dos oficiais com as famílias, sem acordo, os moradores resistiram
hostilizando os PMs, arremessando pedras, tijolos, rojões e montando três
barricadas com fogo. Um policial militar ficou ferido de leve por uma bomba
caseira e duas viaturas do Choque foram danificadas. A PM agiu para garantir o cumprimento
da ordem judicial".
A
Polícia Civil informou que “dois
integrantes do MTST, Guilherme Boulos e José Ferreira Lima, foram detidos e
encaminhados ao 49º DP (São Mateus). Segundo a PM, a dupla foi detida acusada
de participar de ataques com rojão contra a PM, incitação à violência e
desobediência".
Um
oficial da Polícia Militar afirmou que o líder do MTST “colocou em risco a vida de pessoas. Ele (Boulos) tem um nível sociocultural muito melhor que
as pessoas que estavam ali. E ele usa seu nível sociocultural para ganhar
pessoas, incentivá-las a arremessar coisas contra a polícia e morteiros.
Morteiro é uma coisa grave. Já morreu gente com isso. Ele está colocando em
risco a vida de pessoas”.
A
reintegração de posse significa que a propriedade particular foi invadida, cujo
ato, nos países sérios e evoluídos democraticamente, significa crime contra a
propriedade privada. Tanto aqueles que invadem como seus defensores estão
igualmente praticando crime contra o ordenamento jurídico. É ridículo que alguém
ainda se atreva a defender pessoas que invadem terras alheias, mesmo sabendo
que há nisso ilicitude, que precisa ser evitada, como forma de preservação da
ordem pública e do respeito ao regramento jurídico do país.
No
Estado Democrático de Direito, as pessoas de bem e honestas têm o dever de
respeitar os princípios constitucionais e legais que dão garantia ao direito de
propriedade, em harmonia com o primado da preservação da integridade
patrimonial, sob pena de se contribuir para o império da esculhambação e da desarmonia
social.
O
direito à moradia e à propriedade, em nenhum país sério e democrático do
mundo, não pode ser conquistado por meio da invasão de propriedades privadas,
sob qualquer pretexto, à vista da patente violação do sagrado patrimônio
particular.
A
luta à moradia deve existir sempre, desde que haja o devido cumprimento do
regramento constitucional e legal, de forma civilizada, sob pena de flagrante
violação do princípio fundamental da cidadania e da civilidade, porque não é lícito
que a luta social à moradia possa ignorar o primado básico do direito à
propriedade, que prevalece naturalmente nos países sérios, civilizados e
evoluídos democraticamente.
Engana-se
redondamente quem acha que a desocupação de propriedade invadida não se trata
de caso de polícia, quando há o envolvimento da retomada da propriedade ao
arrepio do direito constitucional, que tem a resistência violenta dos invasores
e isso não pode ser considerada legítimo em nenhum país do mundo.
Aqueles
que defendem a luta à moradia por meio da invasão de propriedade e depois desrespeitam
ordens judiciais de desocupação, chamando isso de criminalização da defesa dos
direitos sociais, cometem crimes da maior gravidade, entre outros, o da cumplicidade
à incitação à invasão e ao uso indevido do patrimônio privado, que foi o caso
dos invasores em comento, que reagiram sob orientação e fizeram uso da violência
contra as autoridades constituídas, na tentativa de impedir o cumprimento da
decisão judicial, que garante o direito e o usufruto exclusivos do terreno
invadido ao seu legítimo proprietário, em consonância com o regramento
constitucional e legal do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 2 de fevereiro de 2017
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