Por
meio de delação premiada já homologada pelo Supremo Tribunal Federal, o
ex-presidente da Odebrecht, que se encontra preso há bastante tempo na Operação
Lava-Jato, detalhou a montagem, com o adjutório do então ministro da Fazenda, da
estratégia para o repasse, pela empresa Braskem, em nome da Odebrecht, do valor
de R$ 50 milhões para a eleição da ex-presidente da República petista, na
campanha de 2010.
Não
era novidade que o príncipe-herdeiro da principal empreiteira brasileira, a
Odebrecht, tinha a exclusiva incumbência de negociar com políticos em geral e
isso ficou claro em capítulo específico da sua delação premiada que ISTOÉ disse
que teve acesso.
Segundo
a revista, o empreiteiro também cuidava dos interesses da petroquímica Braskem,
braço da Odebrecht em sociedade com a Petrobras, e, em seu nome, tinha poder
para promover negociações com políticos do então governo.
Na
delação, o empreiteiro narra os pormenores das negociações que resultaram no
repasse, por meio de propinas, da montanha de recursos no valor de R$ 50
milhões para a campanha presidencial da candidata do PT, em 2010, em troca de
benefícios fiscais para a petroquímica Braskem, que providenciou o pagamento do
referido dinheiro.
Segundo
a revista, em matéria já publicada, o empreiteiro disse que o financiamento “por fora” (caixa 2) da citada campanha foi
arquitetada em conjunto com o então ministro da Fazenda, com quem foram acertadas
“as minúcias da concessão de incentivos
fiscais à Braskem. Foi numa dessas ocasiões que Mantega foi taxativo: precisava
de R$ 50 milhões para a campanha de Dilma.”.
Consta
da reportagem que “O cálculo foi
orientado por uma lógica pragmática: avaliou-se que o prejuízo seria maior caso
o governo endurecesse as cobranças de impostos. Foi dado então o sinal verde
para que os cerca de R$ 50 milhões fossem repassados à campanha de
Dilma via caixa dois, em troca dos benefícios fiscais.”.
De
acordo com a reportagem: “O próprio
Marcelo Odebrecht também participou ativamente das negociações de propina
relacionadas às medidas provisórias de interesse da Braskem. Em novembro de
2011, o príncipe-herdeiro acionou novamente Mantega, pedindo sua ajuda na
aprovação de um projeto no Congresso que barateava produtos brasileiros.
Mantega teria garantido que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) cuidaria da demanda.“.
As
negociações que levaram ao pagamento da propina em causa estão respaldadas em
e-mails, a exemplo de um em poder dos investigadores da Operação Lava-Jato, de
30/11/2011, enviado pelo empreiteiro a executivos da Odebrecht, nestes termos:
“Falei com GM (então ministro da Fazenda).
Está totalmente engajado em resolver até o final do ano. Disse que já falou com
Jucá”. Em e-mail anterior, Odebrecht afirma: “Veja com Jucá se GM está mesmo firme conforme me disse. Ele me disse
que orientou RJ a botar para votar esse ano”.
Por
enquanto, as delações dos executivos da Odebrecht estão sob segredo de Justiça
na Procuradoria Geral da República, aguardando a efetiva deflagração das
investigações sobre os fatos apontados nelas, que foram considerados de teor
com poder de combustão altamente explosiva, cujo efeito devastador foi
comparável à delação do fim do mundo.
A
revista esclarece que, “Procurado por
ISTOÉ, o advogado de Mantega, José Roberto Batochio, afirmou que o ministro ‘nega
peremptoriamente os fatos relatados’ e sustentou que os delatores mentem para
obter benefícios na Justiça.”.
À
luz dos fatos vindos à lume, não adiante querer se passar por suprassumo da
honestidade, probidade e dignidade, porque o tempo é o senhor da razão e mais
cedo ou mais tarde a verdade se revela e mostra os camarins da podridão e da
imundície que foi acobertada por muito tempo nos bastidores dos palácios e do
poder.
A
propina de 50 milhões de reais representa tão somente ínfima recompensa por milhões
ou bilhões de reais que deixaram de ser recolhidos aos cofres públicos e isso é
reconhecido pelo empreiteiro, em razão dos incentivos concedidos pelo governo à
petroquímica Braskem, ou seja, em troca da propina ao PT, para a campanha
eleitoral da ex-presidente, ficando claro que o país deixou de arrecadar
milhões ou bilhões de reais e isso constitui dinheiro roubado dos brasileiros,
por que desviado dos cofres públicos.
Se
confirmada essa vergonhosa e deprimente transação, envolvendo o financiamento
da eleição da ex-presidente petista e a isenção de tributo à Braskem, empresa também
da Odebrecht, essa ilicitude constitui crime contra a administração pública,
cujos envolvidos e beneficiados estão passíveis às penalidades penal e
criminal.
Certamente
que, tal situação de crime de lesa-pátria, se tivesse acontecido em país sério
e imbuído de responsabilidade cívica, os prejuízos causados ao erário seriam incontinenti
apurados e atribuídos à conta dos envolvidos, que seriam obrigados ao
ressarcimento dos danos causados à nação.
A
revelação dos fatos em referência é da maior gravidade por envolver a pessoa da
ex-presidente do país, que se julga modelo de honestidade, quando se sabe agora,
na forma da delação em causa, que a sua campanha de 2010 foi financiada com
dinheiro proveniente de propina, ou seja, o caixa de sua campanha foi
abastecido com dinheiro sujo e esse fato tem o condão de contaminar o processo
eleitoral, porque recursos sujos, aplicados por meio do caixa 2, caracterizam
irregularidade gravíssima, que macula o resultado do pleito, ante o emprego de
dinheiro que não integrou as contas da campanha, por não ter sido legalmente
contabilizado nem chancelado pela Justiça Eleitoral.
Nesse
caso, ante a mácula impregnada em recursos utilizados na campanha, significa
que a ex-presidente não ganhou a eleição de forma lícita, legítima, tendo sido
uma usurpadora de direito, em face da utilização de recursos irregulares na
campanha.
Em
recente viagem realizada na Espanha e Itália, a ex-presidente do país, com seu
nome envolvido nos fatos em referência, não mediu palavras para condenar a
atual fase política brasileira, tendo protestado contra o que ela cognominou de
assalto à democracia no país, olvidando certamente que a nação tupiniquim se
encalacra a passos largos, à vista das evidências e das delações premiadas, tão
fartas na atualidade, nos descaminhos da desmoralização, ante a mostra de que,
se houve assalto, ele pode ter existido nas entranhas do governo do passado,
uma vez que o uso de propina em campanha eleitoral caracteriza verdadeiro
assalto à dignidade do certame.
Os
brasileiros precisam exigir dos órgãos de controle e fiscalização que o
incentivo concedido de forma indevida à Braskem, notadamente por envolver a indigna
compensação por meio de propina do valor de R$ 50 milhões, seja devidamente investigado, para o fim de se atribuir responsabilidades aos culpados, à luz das
revelações da delação em tela, com vistas à aplicação das penalidades cabíveis,
inclusive da obrigação do devido ressarcimento aos cofres públicos dos valores
correspondentes ao tributo concedido ilegalmente à empresa corruptora, que
também precisa reparar por seus crimes contra a pátria. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 15 de fevereiro de 2017
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