quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Maus parlamentares

Um senador do PMDB do Maranhão, que é investigado na Operação Lava-Jato e preside a Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, disse que pensa em dar celeridade ao projeto de abuso de autoridade, aquele que tem claro e indiscutível objetivo de retaliação e de amordaçamento das atuações dos juízes e promotores da referida operação.
O mencionado parlamentar disse que “Esse projeto já estava no plenário com regime de urgência e com um relator nomeado, que é o Roberto Requião (PMDB-PR). O relator é aquele que diz ao presidente que está com o seu parecer pronto ou não e pede pauta. Então, nessa decisão aí, valerá muito mais a posição do relator do que a minha. A relatoria diz que está em condições de votar e pede para que seja incluída na pauta.”.
O senador declarou que colocará o projeto em votação, sem que a matéria tenha sido sequer discutida pelos senadores na CCJ, ou seja, nada nele foi alterado depois do seu envio a essa comissão pelo plenário do Senado, em dezembro último.
          Com relação ao questionado caixa 2, no financiamento de campanhas eleitorais, o senador maranhense declarou, sem corar a face do rosto, que não há inconstitucionalidade na medida que propõe anistiar tal procedimento, bem assim de perdoar os crimes de corrupção dos políticos.
Ele justificou seus entendimentos jurídicos sobre os temas polêmicos, pronunciando essa pérola: “Eu quero dizer que é constitucional a figura da anistia, qualquer que ela seja”.
O senador também defendeu mudanças na legislação que trata das colaborações premiadas, afirmando que “Delação só deve ser admitida com o delator solto.”.
À toda evidência, o pensamento de homem público exposto com cristalina clareza pelo senador maranhense não condiz com o atual momento brasileiro, em que a nação anseia e clama, de forma desesperada, pela urgente moralização das práticas político-administrativas, diante da degeneração havida no âmbito de homens públicos que estão muito mais preocupados em defender seus interesses, à luz das declarações do mencionado parlamentar.
As convicções esposadas pelo senador demonstram completa aversão a esse saudável pensamento de saneamento das abomináveis práticas devassadoras de corrupção e impunidade, em clara afirmação de defesa corporativista e de suas causas e conveniências, em absoluto desprezo ao interesse público, principalmente com o manifesto desejo da aprovação de normas que tenham por objetivo contribuir para dificultar as investigações das denúncias sobre irregularidades na administração pública, quase sempre envolvendo parlamentares ou pessoas da sua intimidade. 
Certamente que o Brasil não merece parlamentares com nível extremamente contrário aos interesses da sociedade, haja vista que eles defendem exatamente a manutenção e a continuidade da impunidade, bem como o status da soberania da corrupção, à vista de suas cristalinas intenções de aprovar projetos que têm por finalidade dificultar as investigações pertinentes à busca da verdade sobre turbilhão de fatos irregulares denunciados.
Causa perplexidade que, quase sempre, as denúncias envolvem, com raríssima exceção, dezenas de maus políticos em atividades irregulares, inclusive, conforme mostram os fatos, aqueles que se debatem desesperadamente contra a eficiência e a competência da força-tarefa da Lava-Jato, que já foi capaz de condenar e punir diversos inescrupulosos e criminosos políticos, ex-executivos e empreiteiros, que se beneficiaram de imensurável montanha de recursos desviados da Petrobras.
Os brasileiros precisam repudiar, com veemência, as pretensões maléficas de insensatos e degenerados políticos, que aproveitam o poder para  manipular situações em seu favor, às claras e sem qualquer temor, no sentido de prejudicar seriamente o importante trabalho da Polícia Federal, dos procuradores do Ministério Público e dos juízes, por meio de medidas legislativas de cunho absolutamente absurdo, destinado a barrar e impedir a continuidade das frutíferas investigações voltadas para as tão ansiadas moralização da administração pública e punição dos corruptos de colarinho branco. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 22 de fevereiro de 2017

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