quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

É pior a emenda que o soneto


Uma atriz global defendeu, no Programa do Faustão, da rede Globo, no domingo passado, a Amazônia e o Carnaval brasileiros, tendo argumentado, na ocasião, nestes termos: "O brasileiro, na hora do Carnaval e na hora da seleção, nós sabemos muito bem, é um povo que tem união, tem solidariedade, tem uma integração. Por que isso não acontece nas coisas sérias?".
Diante disso o apresentador do citado programa afirmou, sem citar nomes, mas em clara forma de desabafo sobre a caótica situação política do Brasil, que, “Lutar por educação, saúde pública, contra a corrupção, contra a incompetência. O imbecil que está lá, e não deveria estar, pode até ser honesto, mas é um idiota que está e está ferrando com todo mundo”.
O apresentador global completou suas críticas, dizendo que “Você paga imposto e o que você recebe? Então, vamos ver se esses novos ares vão mudar. Vamos ver. Tem que rezar pra dar certo, não adianta rezar contra”.
As polêmicas e desatinas declarações do apresentador global imediatamente repercutiram nas redes sociais, dando margem para diversas interpretações, inclusive que as críticas tinham endereço certo, com direcionamento para o Palácio do Planalto, na pessoa do presidente da República.
Diante da enorme repercussão e dos estragos causados na mídia, o apresentador global se sentiu obrigado a vir a público, no dia seguinte ao seu desabonador pronunciamento, para negar que tenha se referido ao presidente da República, quando falou em “imbecil eleito”, porque  “Jamais falei especificamente de uma pessoa ou dos eleitores dessa pessoa”, o que é verdade, mas as inferências, diante das evidências, não restaria senão a pessoa de quem ele nega.
O apresentador global divulgou vídeo dando os seguintes esclarecimentos: "Em nenhum momento eu falei a respeito do atual presidente, muito menos dos eleitores. Usei a palavra para explicar que muitas vezes o político imbecil, que não está preparado para ser eleito, nem sabe porque está lá, acaba entrando nessa onda da vaidade e esquece dos problemas do país.  Como estamos em novos ares ou, pelo menos, com expectativas para novos ares, o que a gente espera é que todo mundo reze para que os novos eleitos -deputados, senadores, governadores, presidente da República e ministros indicados- tenham principalmente consciência dos verdadeiros problemas do Brasil. E que não são poucos." (Com informações da Folhapress).
Apenas para não deixar a menor dúvida, no programa, a citação do comunicador foi direta, ou seja: “O imbecil que está lá...”, em indicação clara de alguém, enquanto agora ele diz “o político imbecil, que não está preparado...”, o que é completamente diferente, porque aqui é simplesmente generalização, na tentativa de não assumir o verdadeiro sentido do que ele realmente quis dizer na manifestação inicial.   
A toda evidência, quando o apresentador fez a primeira manifestação já tinha conseguido se apequenar ao máximo, por ter deixado claro que seu discurso foi de puro sentimento de rancor e repúdio, por certo, contra o presidente da República, em clara evidência de que ele não deveria estar onde está, por ser “imbecil” e “idiota”, a par de ter desejado, só podia ser ao novo presidente, novos tempos, nestes termos: “Então, vamos ver se esses novos ares vão mudar. Vamos ver.”, evidentemente se referindo ao que ele chama “(...) O imbecil que está lá, (...)”.
No caso, os indicadores a que o apresentador se referiu, no singular já identificam, na opinião dele, o “imbecil que está lá”, que “pode até ser honesto, mas é um idiota”, ele não poderia estar falando senão da pessoa do presidente da República, embora não tivesse citado o nome dele nem de ninguém, mas o mandatário do país que é o único político que ainda não tem nada sobre suspeita de irregularidade atribuída a ele, ou seja, é o único que “pode até ser honesto“, com descarte de qualquer outro político, justamente pela inexistência dele, em se tratando dos caciques calejados na vida pública, com a devida ressalva para essa nova geração, que ainda precisa mostra para que veio, como representante do povo.  
Como corolário, no caso dos demais políticos, que vêm na explicação dada depois, entre eles dificilmente será possível se encontrar um que não esteja com seu nome envolvido no rol da caixa 2 das campanhas eleitorais, com o timbre de “desonestos”, justamente por se beneficiarem de dinheiro sujo, o que não é o caso do “idiota” a que ele se refere, porquanto, até o momento, tem a chancela de “honesto” mesmo e isso pode ser a inexorável senha para a identificação da pessoa a quem foi dirigida a terrível e injusta crítica, que ainda não teve tempo suficiente para “(...) está ferrando com todo mundo.”.
Isso, por si só, complica em muito a situação do apresentador, que realmente foi bastante infeliz nas suas argumentações acusatórias, considerando que o presidente ainda não teve condições mínimas de “ferrar” ninguém, diante da exiguidade de tempo no exercício do cargo presidencial.
Diante das evidências, o presidente do país seria o único político com a característica mais apropriada para “está ferrando com todo mundo”, na opinião do apresentador global, que simplesmente cometeu brutal injustiça, ao fazer comentário absolutamente inoportuno, evitável e extremamente indelicado, principalmente por garantir que não se referiu ao presidente da República, por não ter citado o nome dele nem de seus eleitores, mas as características do “imbecil” e “idiota” citado por ele se encaixa perfeitamente no perfil de quem ele acha que não deveria estar no Palácio do Planalto, mas está, com a vontade soberana do povo, em dissonância com o desejo da todo-poderosa rede Globo.  
Na verdade, a justificativa dada pelo apresentador tem o condão tão somente de reafirmar exatamente que ele se referia ao presidente do país, por ter ficado muito mais claro agora, até mesmo para um analfabeto, que a primeira colocação jamais se encaixaria para o mundo dos políticos, com a abrangência que ele quis dá ao episódio, na exclusiva tentativa de se passar por esperto e safo, quando a interpretação que se faz do espetaculoso caso é de que ele queria atingir mesmo a figura do presidente do país, pelas características do primeiro pronunciamento, que não se encaixam na explicação dada, por maiores que sejam os esforços de interpretação.  
É preciso se reconhecer a liberdade de imprensa, expressão, pensamento, individualidade etc., em consonância com o salutar princípio republicano, com amparo no consagrado Estado Democrático de Direito, em que os cidadãos gozam do direito de dizer o que bem entender, mas não se pode, à custa disso, ultrapassar o seu limite de se expressar, para que não haja ferimento aos salutares conceitos de respeito à dignidade e à honradez de seu semelhante, diante do balizamento imposto pelas cláusulas de integridade, ética, seriedade, em harmonia com os sentimentos de democracia e humanismo.
Não há a menor dúvida de que o formador de opinião pública sabe muito bem sobre as repercussões positivas ou negativas acerca das suas manifestações e ainda com muito maior destaque quando se tratam de referências políticas, como as que foram feitas pelo apresentador global, que tiveram sim claro objetivo de provocação ao presidente da República, que precisa reagir à altura e mostrar quem é realmente o imbecil e o idiota que perdeu importante oportunidade para ter ficado calado, não somente em respeito à autoridade constituída, mas em benefício do engrandecimento das instituições democráticas, que asseguram todas as formas de manifestação, de preferência para aquelas que possam contribuir para a construção de um Brasil unido e imbuído de bons propósitos de unificação dos brasileiros, com vistas à superação dos múltiplos problemas nacionais e à retomada do tão sonhado desenvolvimento socioeconômico.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 9 de janeiro de 2019

Nenhum comentário:

Postar um comentário