Em 11 de janeiro de 2019, a Fundação Educacional
Lica Claudino, da cidade de Uiraúna (PB), fez lançamento da sua Revista Leia
FELC, 13ª edição, onde consta uma crônica de minha lavra, versando sobre merecida
e justa homenagem ao maestro Ariosvaldo Fernandes, daquela cidade, pondo em evidência
suas principais obras e realizações como músico de primeira qualidade,
profissional competente e ser humano extraordinário, que soube como poucos colocar
o seu talento a serviço do próximo, ensinando e divulgando a arte da música às
pessoas interessadas em seguir a ambiciosa profissão de músico, eis que, a
propósito, a aludida cidade é conhecida como berço de excelentes profissionais
da música, ou mais propriamente a “Terra dos Músicos”.
Essa singela homenagem tem por essência despertar o
sentimento ou até mesmo a curiosidade dos uiraunenses para se inteirarem sobre
a vida e a obra de quem foi realmente o maestro dos maestros, evidentemente sem
menosprezo aos grandes maestros que já pontuaram ou ainda estão à frente das
bandas musicais da cidade, diante da absoluta certeza de que ele, na
atualidade, é desconhecido da nova geração, que não tem referência sobre figura
da maior importância do mundo artístico-musical de Uiraúna, que sobressaiu entre
seus pares como o músico de sabedoria e inteligência fora de série, respeitado
por todos, em razão dos seus aperfeiçoados domínio e interesse pela musical.
É evidente que a sua ligação com a história da
música é do conhecimento de seus contemporâneos, porque a sua vida se confunde
com os meandros e as atividades relacionadas com a música, entre ensaios,
ensinamentos, apresentações e tudo mais que diz respeito ao mundo dessa tão importante
atividade artística para Uiraúna, sendo facilmente atestado por quem o conheceu,
mas igualmente ressentia de relato, mesmo que em pinceladas, sobre a vida de
quem se dedicou, de corpo e alma, de forma integral, a serviço da comunidade, na
implementação da sua verdadeira “profissão de fé”, expressão muito bem lembrada
por sua filha, senhora Ubaldina Fernandes, que a pegou emprestada do famoso poeta
parnasianista Olavo Bilac.
De consequência dessa merecidíssima lembrança do
sempre querido maestro Ariosvaldo Fernandes, em que pese a singeleza de relatos
para quem foi estrela da mais admirada constelação, que nem transparecia, em
razão da formação humildade e simples de princípios, próprios dos gênios, a
senhora Ubaldina Fernandes, acima identificada, houve por bem demonstrar agradecimento,
em forma de votos de gratidão, que o aceito, não que eu tenha feito algo extraordinário,
porque eu gostaria mesmo era escancarar, de forma escandalosa mesmo, para tirar
as autoridades públicas de Uiraúna da profunda letargia, por não conseguirem
reconhecer a grandeza, a importância dos grandes construtoras de Uiraúna, para colocá-los
no pedestal que eles fazem jus, como forma especial de exemplo e estímulo pedagógicos
às atuais e futuras gerações, mostrando, de maneira insistente, as realizações
de cada um deles.
Eis, finalmente, a especial manifestação da senhora
Ubaldina Fernandes, dirigida a mim, verbis:
“novamente expresso os meus mais sentidos
votos de gratidão pela honrosa e, sem dúvida, para nós, filhos de Ariosvaldo,
emocionante homenagem. Você, como poucos, teve(tem) a sensibilidade de
descrever as características de papai, principalmente naquilo que atine ao seu
ALTRUÍSMO e total dedicação à arte musical, como se esta fosse sua razão de
viver. Diria Bilac que, como o ourives, ele fizera da música uma “profissão de
fé “, devotando a sua vida inteira àquele mister. Constatar que, mesmo após seu falecimento,
os rudimentos de seu trabalho continuam ecoando tão efusivamente na memória de alguém
como você, é um inestimável mérito para nós, parentes do humilde “Mestre Ari”,
principalmente quando se sabe que as gerações atuais, aos poucos, distanciam-se
das origens, dos valores, do culto ao passado, nesse mundo de tanta virtualidade
e frugal artificialidade das relações. Parabéns pela espetacular crônica (como
sempre!) e, sobremaneira, pelos reiterados encômios a papai, eternizando sua
memória na galeria dos seres imortais. Seremos gratos sempre! Abraço! Que Deus
continue cumulando-o dessa luz literária que a todos ilumina! Paz e Bem!”.
Diante de tão magnânima manifestação de carinho e
agradecimento, só posso entender que a grandeza do querido maestro me eleva a
patamar que, sinceramente, gostaria muito de merecer, mas, na verdade o
sentimento que se tem é o de que é preciso que a homenagem em comento, em
primeiro lugar, faça parte do meu espírito cívico, na qualidade de escriba, e
depois que isso sirva, de alguma maneira, para despertar a consciência
adormecida das autoridades públicas de Uiraúna, para a obrigação de se
valorizar o altruísmo de quem tenha se sacrificado na construção de importante
obra em benefício da comunidade, porque isso é seu dever de preservação da rica
história desses construtores do bem, que não pode ser ignorada, em prejuízo de
incalculável acervo patrimonial imaterial.
Em justificativa à homenagem em causa, eu disse não existir
nada mais verdadeiro e palpável do que a grandiosa obra construída pelo
respeitável maestro Ariosvaldo Fernandes, nas áreas que ele se propôs a atuar,
sempre com o maior brilhantismo.
É pena que eu tenha convivido muito pouco o seu tempo com
ele, por ter vindo para Brasília, logo no início de 1966, e depois disso me
afastei completamente de Uiraúna e de meus conterrâneos, mas o que guardo na
memória é o suficiente para perceber que ele foi pessoa possuidora de capacidade
intelectual que raramente nasce outra para disseminar o bem com tanta
efetividade como ele fez e, quando se vai para distante de nós, fica o legado
insuperável, próprio das pessoas predestinadas, dotadas da iluminação divina e sujeitas
indissociavelmente da obediência à prática do bem ao seu semelhante.
Repito que tenho enorme tristeza em constatar a incultura tanto
pública como particular de Uiraúna, diante da visível falta de valorização dos
talentos das pessoas diferenciadas, que, estranhamente, são ignorados, com a
perda da riqueza imaterial dessa gente, que foi símbolo de excelência e exemplos
de bondade, cultura e amor ao próximo, como no caso do mestre Ariosvaldo
Fernandes.
Se houvesse interesse e vontade políticos, certamente que
as obras de benemerência e civismo, em prol da comunidade, como as deixadas por
ele, a população de Uiraúna seria extremamente beneficiada, porque as lições de
dedicação, acolhimento e ajuda ao próximo, como foi a síntese da vida dele, se
traduziriam em possível renovação de novas inteligências, com a qualidade inata
dele.
Fico muito feliz que eu tenha despertado o desejo de
resgate sobre uma figura exponencial de Uiraúna, que tem biografia riquíssima e
somente quem acompanhou a sua história de vida poderia muito mais facilmente
contar, com detalhes, o quanto o genial Ariosvaldo Fernandes contribuiu para
valorizar a cultura de uma cidade, o que significa dizer que a evoluída cultura
musical de Uiraúna tem a magia da notável e voluntariosa dedicação dele, que tinha
a precisa compreensão sobre a importância do seu trabalho para o progresso
cultural de um povo.
Com a maior alegria, digo que é motivo de enorme regozijo para
mim ter discorrido um pouco sobre a vida de pessoa notável, com inteligência
destacada por seus contemporâneos, sabendo que dificilmente outro talentoso Ariosvaldo
Fernandes há de aparecer naquela abençoada terra da Sagrada Família de Jesus,
Maria e José, a quem precisa ser sempre agradecida por ter nos dado pessoa com
as qualidades inigualáveis de maestria, humildade e humanismo, cuja lembrança
da sua imagem precisa permanecer em nossos corações, em razão de suas importantes lições de
bondade e amor ao próximo, sendo considerado verdadeiro construtor do bem.
Brasília, em 12 de janeiro de 2019
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