sábado, 12 de janeiro de 2019

O construtor do bem


Em 11 de janeiro de 2019, a Fundação Educacional Lica Claudino, da cidade de Uiraúna (PB), fez lançamento da sua Revista Leia FELC, 13ª edição, onde consta uma crônica de minha lavra, versando sobre merecida e justa homenagem ao maestro Ariosvaldo Fernandes, daquela cidade, pondo em evidência suas principais obras e realizações como músico de primeira qualidade, profissional competente e ser humano extraordinário, que soube como poucos colocar o seu talento a serviço do próximo, ensinando e divulgando a arte da música às pessoas interessadas em seguir a ambiciosa profissão de músico, eis que, a propósito, a aludida cidade é conhecida como berço de excelentes profissionais da música, ou mais propriamente a “Terra dos Músicos”.  
Essa singela homenagem tem por essência despertar o sentimento ou até mesmo a curiosidade dos uiraunenses para se inteirarem sobre a vida e a obra de quem foi realmente o maestro dos maestros, evidentemente sem menosprezo aos grandes maestros que já pontuaram ou ainda estão à frente das bandas musicais da cidade, diante da absoluta certeza de que ele, na atualidade, é desconhecido da nova geração, que não tem referência sobre figura da maior importância do mundo artístico-musical de Uiraúna, que sobressaiu entre seus pares como o músico de sabedoria e inteligência fora de série, respeitado por todos, em razão dos seus aperfeiçoados domínio e interesse pela musical.
É evidente que a sua ligação com a história da música é do conhecimento de seus contemporâneos, porque a sua vida se confunde com os meandros e as atividades relacionadas com a música, entre ensaios, ensinamentos, apresentações e tudo mais que diz respeito ao mundo dessa tão importante atividade artística para Uiraúna, sendo facilmente atestado por quem o conheceu, mas igualmente ressentia de relato, mesmo que em pinceladas, sobre a vida de quem se dedicou, de corpo e alma, de forma integral, a serviço da comunidade, na implementação da sua verdadeira “profissão de fé”, expressão muito bem lembrada por sua filha, senhora Ubaldina Fernandes, que a pegou emprestada do famoso poeta parnasianista Olavo Bilac.
De consequência dessa merecidíssima lembrança do sempre querido maestro Ariosvaldo Fernandes, em que pese a singeleza de relatos para quem foi estrela da mais admirada constelação, que nem transparecia, em razão da formação humildade e simples de princípios, próprios dos gênios, a senhora Ubaldina Fernandes, acima identificada, houve por bem demonstrar agradecimento, em forma de votos de gratidão, que o aceito, não que eu tenha feito algo extraordinário, porque eu gostaria mesmo era escancarar, de forma escandalosa mesmo, para tirar as autoridades públicas de Uiraúna da profunda letargia, por não conseguirem reconhecer a grandeza, a importância dos grandes construtoras de Uiraúna, para colocá-los no pedestal que eles fazem jus, como forma especial de exemplo e estímulo pedagógicos às atuais e futuras gerações, mostrando, de maneira insistente, as realizações de cada um deles.
Eis, finalmente, a especial manifestação da senhora Ubaldina Fernandes, dirigida a mim, verbis: “novamente expresso os meus mais sentidos votos de gratidão pela honrosa e, sem dúvida, para nós, filhos de Ariosvaldo, emocionante homenagem. Você, como poucos, teve(tem) a sensibilidade de descrever as características de papai, principalmente naquilo que atine ao seu ALTRUÍSMO e total dedicação à arte musical, como se esta fosse sua razão de viver. Diria Bilac que, como o ourives, ele fizera da música uma “profissão de fé “, devotando a sua vida inteira àquele mister. Constatar que, mesmo após seu falecimento, os rudimentos de seu trabalho continuam ecoando tão efusivamente na memória de alguém como você, é um inestimável mérito para nós, parentes do humilde “Mestre Ari”, principalmente quando se sabe que as gerações atuais, aos poucos, distanciam-se das origens, dos valores, do culto ao passado, nesse mundo de tanta virtualidade e frugal artificialidade das relações. Parabéns pela espetacular crônica (como sempre!) e, sobremaneira, pelos reiterados encômios a papai, eternizando sua memória na galeria dos seres imortais. Seremos gratos sempre! Abraço! Que Deus continue cumulando-o dessa luz literária que a todos ilumina! Paz e Bem!”.
Diante de tão magnânima manifestação de carinho e agradecimento, só posso entender que a grandeza do querido maestro me eleva a patamar que, sinceramente, gostaria muito de merecer, mas, na verdade o sentimento que se tem é o de que é preciso que a homenagem em comento, em primeiro lugar, faça parte do meu espírito cívico, na qualidade de escriba, e depois que isso sirva, de alguma maneira, para despertar a consciência adormecida das autoridades públicas de Uiraúna, para a obrigação de se valorizar o altruísmo de quem tenha se sacrificado na construção de importante obra em benefício da comunidade, porque isso é seu dever de preservação da rica história desses construtores do bem, que não pode ser ignorada, em prejuízo de incalculável acervo patrimonial imaterial.  
Em justificativa à homenagem em causa, eu disse não existir nada mais verdadeiro e palpável do que a grandiosa obra construída pelo respeitável maestro Ariosvaldo Fernandes, nas áreas que ele se propôs a atuar, sempre com o maior brilhantismo.
É pena que eu tenha convivido muito pouco o seu tempo com ele, por ter vindo para Brasília, logo no início de 1966, e depois disso me afastei completamente de Uiraúna e de meus conterrâneos, mas o que guardo na memória é o suficiente para perceber que ele foi pessoa possuidora de capacidade intelectual que raramente nasce outra para disseminar o bem com tanta efetividade como ele fez e, quando se vai para distante de nós, fica o legado insuperável, próprio das pessoas predestinadas, dotadas da iluminação divina e sujeitas indissociavelmente da obediência à prática do bem ao seu semelhante.
Repito que tenho enorme tristeza em constatar a incultura tanto pública como particular de Uiraúna, diante da visível falta de valorização dos talentos das pessoas diferenciadas, que, estranhamente, são ignorados, com a perda da riqueza imaterial dessa gente, que foi símbolo de excelência e exemplos de bondade, cultura e amor ao próximo, como no caso do mestre Ariosvaldo Fernandes.
Se houvesse interesse e vontade políticos, certamente que as obras de benemerência e civismo, em prol da comunidade, como as deixadas por ele, a população de Uiraúna seria extremamente beneficiada, porque as lições de dedicação, acolhimento e ajuda ao próximo, como foi a síntese da vida dele, se traduziriam em possível renovação de novas inteligências, com a qualidade inata dele.
Fico muito feliz que eu tenha despertado o desejo de resgate sobre uma figura exponencial de Uiraúna, que tem biografia riquíssima e somente quem acompanhou a sua história de vida poderia muito mais facilmente contar, com detalhes, o quanto o genial Ariosvaldo Fernandes contribuiu para valorizar a cultura de uma cidade, o que significa dizer que a evoluída cultura musical de Uiraúna tem a magia da notável e voluntariosa dedicação dele, que tinha a precisa compreensão sobre a importância do seu trabalho para o progresso cultural de um povo.
Com a maior alegria, digo que é motivo de enorme regozijo para mim ter discorrido um pouco sobre a vida de pessoa notável, com inteligência destacada por seus contemporâneos, sabendo que dificilmente outro talentoso Ariosvaldo Fernandes há de aparecer naquela abençoada terra da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, a quem precisa ser sempre agradecida por ter nos dado pessoa com as qualidades inigualáveis de maestria, humildade e humanismo, cuja lembrança da sua imagem precisa permanecer em nossos corações, em razão de suas importantes lições de bondade e amor ao próximo, sendo considerado verdadeiro construtor do bem.
Brasília, em 12 de janeiro de 2019

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