Essa tragédia de Brumadinho entristece e comove
muitíssimo profundamente a todos nós, principalmente porque isso nada mais é do
que reflexo da insensibilidade e da insensatez do conjunto da sociedade.
Não se pode condenar, desde logo, unicamente A ou
B, mas as circunstâncias transferem para questionamentos profundos sobre a
responsabilidade do Estado, por meio da fiscalização imprecisa e deficiente, da
empresa, que não podia confiar absolutamente na imponderabilidade da natureza,
e principalmente da sociedade da proximidade da barragem, que jamais poderia
confiar na segurança absolutamente frágil, estando atrás da proteção da sua
parede, por mais potente que ela fosse, em termos de consistência estrutural.
Trata-se de mais um desastre que era previsível,
como bem afirmou um deputado estadual mineiro, que disse, em tom de desespero,
que outras hecatombes iguais à de Mariana estariam prestes a acontecer, se não
fossem tomadas as medidas que ele propunha, para a proteção da sociedade e da
natureza.
As medidas necessárias não puderam ser adotadas e
novo desastre terminou ocorrendo, com proporções maléficas incalculáveis,
demonstrando o quanto o homem é extremamente insensível, principalmente quando
seus interesses não são passíveis de afetação.
Desta feita, resta a esperança de que mais esse
terrível desastre possa contribuir para que sejam aprovadas medidas normativas capazes
de contribuir, em definitivo para a eliminação dos iminentes riscos de novos
arrombamentos de barragens, sempre com imensuráveis e irreparáveis prejuízos,
em especial, de vidas humanas e recursos naturais, do meio ambiente, da flora,
da fauna, enfim, da degradação generalizada, sem que nenhuma medida seja capaz e
suficiente sequer para minorar tamanha destruição protagonizada exclusivamente
pela ganância dos lucros econômicos, que estão, infelizmente, acima da vida
humana, da natureza, em clara demonstração da impotência do ser humano, que é
eternamente escravo dos interesses econômicos, que têm o amparo protetor do
perverso esquema político, que é financiado justamente para propiciar a
fragilização das normas legislativas, que deixam de ser aprovadas justamente
para não perturbarem os interesses dos empresários.
A legislação que se vislumbra sinaliza para algo
que possa prevê, desde logo, a atribuição de responsabilização sobre alguém, no
sentido de que, antes do sinistro, em cada barragem, alguém precisa ter
atribuições prévias não somente de certificação sobre a consistência das
estruturas das barragens, tendo por base composições modernas e compatíveis com
a segurança contra arrombamentos, mas também de fazer levantamento abrangente e
completo sobre o risco para a população que poderá ser eventualmente atingida
em caso de sinistro como esse de Brumadinho.
Nesse caso, das duas, apenas uma ou nenhuma,
somente sendo permitida a existência ou a construção, mediante licenciamento,
de nova barragem se houver a certeza da proteção da população potencialmente
atingível, em caso de desastre, que uma barragem extremamente devastadora tenha
sido construída mesmo sob risco de exterminar centenas de vidas humanas, o que
demonstra altíssimo grau de irresponsabilidade não somente da empresa, do
governo e das pessoas que estavam sob iminente perigo de vida, diante da imprevisibilidade
de salvo-conduto.
A legislação deve ter dispositivo para possibilitar
a imediata responsabilização, de forma pesada, tanto da empresa como dos órgãos
de controle e fiscalização do governo, que precisam exigir o máximo de rigor com
o controle sobre a segurança e a proteção da população, não sendo permitido, em
hipótese alguma, a construção ou manutenção de barragens que suscitem risco
para a população, sob pena de pesadíssimas penalidades, que precisam ser
avaliadas e estabelecidas nessa legislação.
É preciso que exista a possibilidade da aplicação
de penas altíssimas, em pecúnia e também em termos criminais, diante da perda
de vidas, a tudo exigindo cuidados sobre-humanos, em termos de valorização
sobretudo do ser humano, que vem sendo, até aqui, extremamente banalizado,
desvalorizado, desprezado, à vista do seu desaparecimento debaixo da lama e
ninguém, absolutamente ninguém é responsabilizado, como já aconteceu com a
tragédia de Mariana e não se tem notícia que alguém tenha sido responsabilizado
ou punido, como forma exemplar para se obrigar a adoção de medidas preventivas
e protetoras contra desastres.
Acredita-se que nem nas piores republiquetas a
legislação sobre controle de barragens, em termos de construção e manutenção,
seja tão condescendente com os empresários como no Brasil, onde se permite que
haja mas de milhares de barragens, mas as normas são de tamanha
superficialidade que podem haver centenas de mortes e expressiva devastação da
natureza, mas ninguém é responsabilizado, de modo que, ao contrário, a imediata
e duríssima condenação teria o condão de se tomar as devidas providências para
a absoluta e completa segurança delas ou ainda a adoção de medidas capazes de
proteção das vidas humanas, não se permitindo a existência de população na
proximidade das localidades atingíveis, em caso de sinistro.
Apela-se ao presidente da República que seja somente
inflexível contra as empresas responsáveis por barragens, quer no caso de
manutenção das já existentes quer quanto às que forem licenciadas para construção,
de modo que é preciso a aprovação de normas duríssimas estabelecendo regras
claras, objetivas e exemplares, sobretudo em proteção à vida humana, não se
permitindo que haja população no possível caminha dos rejeitos, caso em que ou
se retira a população dessa região ou então fecha-se a barragem ou não se
permite a construção de nenhuma, enquanto houver perigo para a população, que
precisa ser valorizada e protegida, mesmo que em prejuízo das atividades
econômicas, porquanto a vida humana e a natureza não podem continuar sob
tamanhos desprezo e desapreço.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 29 de janeiro de 2019
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