Assessores
diretos do presidente da República esperam que o senador eleito, filho do
presidente, dê o mais rápido possível as devidas justificativas e explicações
sobre os 48 depósitos suspeitos, feitos em dinheiro na conta dele, no importe total
de R$ 96 mil.
O
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) considera os aludidos depósitos
como movimentações financeiras atípicas, uma vez que o fracionamento havido
propositalmente pode levantar suspeita de que houve tentativa de se evitar a
identificação dos depósitos na conta bancária do senador eleito, procedimento
que é próprio de clara burla intencional à legitimidade de operações bancárias.
No
âmbito do Palácio do Planalto, vem sendo adotada a estratégia de distanciamento
do presidente ao episódio, deixando que o problema fique exclusivamente sob os
cuidados do senador eleito, que, na época dos depósitos suspeitos, era deputado
estadual e tinha um de seus assessores também implicado junto à Coaf, diante de movimentações financeiras consideradas atípicas, na cifra de R$ 1,2 milhão.
Especialistas
da ala militar do governo concluíram que o episódio ganhou dimensão preocupante,
notadamente porque, na situação anterior, somente o assessor do senador eleito
precisava se explicar sobre a suspeita de movimentação atípica, mas agora, diante
dos novos fatos, o próprio filho do presidente também está em situação
semelhante, que tem o dever constitucional de apresentar justificativas plausíveis
para os depósitos em dinheiro, realizados na sua conta bancária.
A
ordem entre os assessores do Planalto é tentar preservar, a todo custo, a
imagem do presidente da República, mostrando que ele não tem qualquer
envolvimento nesse affair.
Eles
ressaltam que o presidente não é investigado no processo sob a incumbência do
Ministério Público do Rio de Janeiro e que ele já teria dado explicações sobre
os depósitos do valor de R$ 24 mil, feitos pelo assessor do senador eleito na
conta da primeira-dama do país.
À
toda evidência, a informação sobre os depósitos na conta do filho do presidente
surge em momento inoportuno, por ser o início do governo e tudo que destoa das
políticas da administração pública pode contribuir para causar abalos e transtornos
indesejados, tirando o foco dos principais temas que precisam ser discutidos
com prioridade, sob pena de prejudicar o andamento dos trabalhos governamentais.
A
confusão criada com a revelação do relatório da Coaf, colocando o filho do
presidente no olho do furacão, não poderia ter vindo em momento em que o mandatário
brasileiro é aguardado em Davos, como uma das principais estrelas do encontro,
no qual fará discurso na sessão inaugural com a pregação, pasmem, logo sobre a intolerância
com a corrupção e a defesa da agenda liberal na economia de seu governo.
Há
toda expectativa de que, agora, o presidente do país tenha que se esforçar, em Davos,
para explicar esse imbróglio causado pelo filho, por se tratar da principal matéria
de interesse da imprensa brasileira e quiçá internacional, que vai explorar o
máximo possível o incômodo episódio.
Em
se tratando de coisa mal feita, denotando pura esperteza, como nesse caso, quando
foram realizados, em um único dia, 48 depósitos bancários, nitidamente para
burlar o sistema de controle sobre movimentação financeira, não resta a menor
dúvida de que é preciso que o principal envolvido tenha dignidade para assumir
seu erro e dá a mão à palmatória, porque ele não pode contaminar setores que
precisam ser preservados da podridão da corrupção, mais especificamente a
Presidência da República, comandada por seu pai.
Aliás,
o presidente da República perde importante oportunidade para se firmar no
conceito de político com traços fortes na busca da moralização do Brasil, por
se omitir diante desse caso, que tem como alvo justamente o seu filho e essa
sua omissão é contabilizada como ato da maior gravidade política, de notória
fraqueza, quando ele tem o dever, até com mais razão, de impor a sua
autoridade, no sentido de exigir que os fatos sejam imediatamente apurados e,
se for o caso, punidos os envolvidos, mesmo que o principal alvo seja seu
filho, não importando ao caso, porque a moralização do país é promessa feita
por ele, independentemente das circunstâncias.
Na
qualidade de mandatário do país, o presidente não pode simplesmente ser
afastado do olho do furacão, onde já se encontra o seu filho, que, conforme
demonstrado, tem feito o que todos os péssimos políticos fazem, correndo atrás
da Justiça para encontrar biombo seguro para as suas traquinagens, muito bem
arquitetadas, porventura a maquiagem não tivesse sido descoberta pela Coaf e
agora é preciso que ele tenha a dignidade de assumir, o mais rapidamente possível,
as suas trapalhadas, até mesmo como medida de se atrair as atenções da imprensa
somente para ele, antes que elas possam prejudicar mais gente.
O
presidente da República precisava já ter vindo a público para repudiar as tramoias
impulsivamente protagonizadas por seu filho e deixar muito claro que a ordem do
governo é que não somente o caso envolvendo seu familiar, mas todas as
irregularidades semelhantes precisam ser urgentemente investigadas, doa quem doer,
pelos órgãos de controle e fiscalização, inclusive se apurar também quem foi
responsável pela revelação seletiva do relatório somente com o nome do senador
eleito pelo Rio de Janeiro, quando se sabe que outras pessoas da mesma índole praticaram
irregulares análogas, mas era importante, por motivos óbvios, apenas mostrar
que não há somente santinhos na família do presidente da República, evidentemente
tendo por objetivo desmascará-lo.
É
preciso que o presidente da República seja corajoso, coerente e justo com o que
prega, em termos políticos, de modo que a sua autoridade se fortaleça também nos
momentos de dificuldades, como nesse episódio envolvendo um de seus filhos, para
possibilitar pôr em prática a limpeza moral do Brasil, mas isso somente será viabilizado
se seu sentimento de imparcialidade e justiça se mostre inflexível e
implacável, não permitindo fraquejamento diante de fatos envolvendo familiares
ou pessoas da sua intimidade política, máxime porque o autêntico homem público tem
o dever moral e legal, antes de tudo, de defender o interesse público, diante
da necessidade da preservação da integridade dos princípios democrático e
republicano.
Brasil:
apenas o ame!
Brasília,
em 21 de janeiro de 2019
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