segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Falta implacabilidade?


Assessores diretos do presidente da República esperam que o senador eleito, filho do presidente, dê o mais rápido possível as devidas justificativas e explicações sobre os 48 depósitos suspeitos, feitos em dinheiro na conta dele, no importe total de R$ 96 mil.
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) considera os aludidos depósitos como movimentações financeiras atípicas, uma vez que o fracionamento havido propositalmente pode levantar suspeita de que houve tentativa de se evitar a identificação dos depósitos na conta bancária do senador eleito, procedimento que é próprio de clara burla intencional à legitimidade de operações bancárias.
No âmbito do Palácio do Planalto, vem sendo adotada a estratégia de distanciamento do presidente ao episódio, deixando que o problema fique exclusivamente sob os cuidados do senador eleito, que, na época dos depósitos suspeitos, era deputado estadual e tinha um de seus assessores também implicado junto à Coaf, diante de movimentações financeiras consideradas atípicas, na cifra de R$ 1,2 milhão.
Especialistas da ala militar do governo concluíram que o episódio ganhou dimensão preocupante, notadamente porque, na situação anterior, somente o assessor do senador eleito precisava se explicar sobre a suspeita de movimentação atípica, mas agora, diante dos novos fatos, o próprio filho do presidente também está em situação semelhante, que tem o dever constitucional de apresentar justificativas plausíveis para os depósitos em dinheiro, realizados na sua conta bancária.
A ordem entre os assessores do Planalto é tentar preservar, a todo custo, a imagem do presidente da República, mostrando que ele não tem qualquer envolvimento nesse affair.
Eles ressaltam que o presidente não é investigado no processo sob a incumbência do Ministério Público do Rio de Janeiro e que ele já teria dado explicações sobre os depósitos do valor de R$ 24 mil, feitos pelo assessor do senador eleito na conta da primeira-dama do país.
À toda evidência, a informação sobre os depósitos na conta do filho do presidente surge em momento inoportuno, por ser o início do governo e tudo que destoa das políticas da administração pública pode contribuir para causar abalos e transtornos indesejados, tirando o foco dos principais temas que precisam ser discutidos com prioridade, sob pena de prejudicar o andamento dos trabalhos governamentais.
A confusão criada com a revelação do relatório da Coaf, colocando o filho do presidente no olho do furacão, não poderia ter vindo em momento em que o mandatário brasileiro é aguardado em Davos, como uma das principais estrelas do encontro, no qual fará discurso na sessão inaugural com a pregação, pasmem, logo sobre a intolerância com a corrupção e a defesa da agenda liberal na economia de seu governo.
Há toda expectativa de que, agora, o presidente do país tenha que se esforçar, em Davos, para explicar esse imbróglio causado pelo filho, por se tratar da principal matéria de interesse da imprensa brasileira e quiçá internacional, que vai explorar o máximo possível o incômodo episódio.
Em se tratando de coisa mal feita, denotando pura esperteza, como nesse caso, quando foram realizados, em um único dia, 48 depósitos bancários, nitidamente para burlar o sistema de controle sobre movimentação financeira, não resta a menor dúvida de que é preciso que o principal envolvido tenha dignidade para assumir seu erro e dá a mão à palmatória, porque ele não pode contaminar setores que precisam ser preservados da podridão da corrupção, mais especificamente a Presidência da República, comandada por seu pai.
Aliás, o presidente da República perde importante oportunidade para se firmar no conceito de político com traços fortes na busca da moralização do Brasil, por se omitir diante desse caso, que tem como alvo justamente o seu filho e essa sua omissão é contabilizada como ato da maior gravidade política, de notória fraqueza, quando ele tem o dever, até com mais razão, de impor a sua autoridade, no sentido de exigir que os fatos sejam imediatamente apurados e, se for o caso, punidos os envolvidos, mesmo que o principal alvo seja seu filho, não importando ao caso, porque a moralização do país é promessa feita por ele, independentemente das circunstâncias.
Na qualidade de mandatário do país, o presidente não pode simplesmente ser afastado do olho do furacão, onde já se encontra o seu filho, que, conforme demonstrado, tem feito o que todos os péssimos políticos fazem, correndo atrás da Justiça para encontrar biombo seguro para as suas traquinagens, muito bem arquitetadas, porventura a maquiagem não tivesse sido descoberta pela Coaf e agora é preciso que ele tenha a dignidade de assumir, o mais rapidamente possível, as suas trapalhadas, até mesmo como medida de se atrair as atenções da imprensa somente para ele, antes que elas possam prejudicar mais gente.
O presidente da República precisava já ter vindo a público para repudiar as tramoias impulsivamente protagonizadas por seu filho e deixar muito claro que a ordem do governo é que não somente o caso envolvendo seu familiar, mas todas as irregularidades semelhantes precisam ser urgentemente investigadas, doa quem doer, pelos órgãos de controle e fiscalização, inclusive se apurar também quem foi responsável pela revelação seletiva do relatório somente com o nome do senador eleito pelo Rio de Janeiro, quando se sabe que outras pessoas da mesma índole praticaram irregulares análogas, mas era importante, por motivos óbvios, apenas mostrar que não há somente santinhos na família do presidente da República, evidentemente tendo por objetivo desmascará-lo.
É preciso que o presidente da República seja corajoso, coerente e justo com o que prega, em termos políticos, de modo que a sua autoridade se fortaleça também nos momentos de dificuldades, como nesse episódio envolvendo um de seus filhos, para possibilitar pôr em prática a limpeza moral do Brasil, mas isso somente será viabilizado se seu sentimento de imparcialidade e justiça se mostre inflexível e implacável, não permitindo fraquejamento diante de fatos envolvendo familiares ou pessoas da sua intimidade política, máxime porque o autêntico homem público tem o dever moral e legal, antes de tudo, de defender o interesse público, diante da necessidade da preservação da integridade dos princípios democrático e republicano.   
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 21 de janeiro de 2019

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