sábado, 19 de janeiro de 2019

O milagre da delação

O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil dos governos petistas, grande idealizador e, por todo tempo, reconhecido como inteligência maior do partido, que se transformou em delator da Operação Lava-Jato, por óbvia conveniência pessoal, relatou que a ex-presidente da República petista "deu corda para o aprofundamento das investigações" daquela operação, com o exclusivo propósito de implicar o ex-presidente da República petista, que se encontra preso.
O ex-ministro deixa muito claro que havia visível "ruptura" entre os dois ex-presidentes, e, por causa disso, foram formados dois grupos distintos no âmbito do PT, exatamente a partir da "briga" fraterna entre os dois grupos, que começou com a indicação de uma mulher para a presidência da Petrobras.
A referida nomeação, feita de propósito pela presidente, representava "meios de Dilma inviabilizar o financiamento eleitoral dos projetos de Lula retornar à Presidência", disse o ex-ministro.
O ex-ministro declarou que, naquele momento, a presidente do país queria, a todo custo, se afastar do controle do petista, conforme o seu relato de que "Deve ser relembrado que (o ex-presidente da estatal) Gabrielli era íntimo de Lula, ao passo que Graça era íntima de Dilma. Não havia qualquer intimidade entre Lula a Graça e a relação entre Dilma e Gabrielli comportava permanentes atritos.".
O ex-ministro afirmou que, com o avanço da Operação Lava-Jato, a única preocupação do petista era preservar a própria imagem e ele, em enorme esforço, "relembrava que Dilma era a presidente do conselho de administração da estatal na época de grande parte dos fatos apurados", ou seja, o petista enfatizava que a petista não estava imune aos fatos em apuração pela Lava-Jato.
As aludidas informações estão em um dos termos de colaboração da delação negociada entre o ex-ministro e a Polícia Federal de Curitiba (PR), em depoimento que foi anexado ao inquérito realizado por essa polícia sobre a construção da Usina de Belo Monte. (Com informações da Folhapress).
Não há a menor dúvida de que esse relato feito por pessoa da intimidade das lideranças petistas, a quem eram confiadas as principais e importantes missões do PT, é muito revelador sobre os meandros da disputa intestina dentro do partido, em que estava em jogo o poder máximo, que era disputado com garras e unhas e ninguém cedia nada, conforme mostra a importância estratégica por trás do comando da Petrobras, que foi usada o quanto pôde para satisfazer a sanha mesquinha e maquiavélica dos líderes petistas.
O relato do ex-ministro expõe as entranhas das disputas que eram travadas internamente no partido entre lideranças petistas, tendo por claros objetivos o domínio dos instrumentos por meio dos quais seriam possíveis as manipulações e os controles das classes políticas e sociais, com o indevido emprego de recursos públicos, facilmente desviados da maior petrolífera brasileira, que foi sugada ao máximo, para a satisfação de interesses políticos inescrupulosos e espúrios, em detrimento das causas nacionais.
Diante desses fatos escabrosos, causa espécie a natural reação dos envolvidos, que têm sido sempre a mesma, em tom absolutamente parecido de apenas tentar desqualificar as denúncias, por meios meramente artificiais, fugindo, como o cão foge da cruz, sem entrar no mérito delas, mas procurando imputar ao delator, o acusador todo tipo de ofensa moral, como se ele não tivesse sido aquela pessoa de inteira confiança, que tinha exclusiva competência, no passado recente, para solucionar e resolver os piores problemas não somente do partido, mas especialmente de interesses pessoais dos principais envolvidos, mas, por evidente, a delação o transformou em desgraçado que apenas serve para alcaguetá-los, inventando mentiras para ganhar a liberdade.
Nesse processo, é importante melhor se entender o que seja delação premiada, que nada mais é do que a técnica poderosa de investigação consistente na oferta de benefícios pelo Estado a quem quer prestar informações úteis ao deslinde e ao esclarecimento sobre fato delituoso, a qual tem sido bastante conhecida como “colaboração premiada”, em que, diante da importância das informações, as penas do delatante são reduzidas e ele pode até ganhar a liberdade vigiada, como é o caso do ex-ministro, o que vale dizer que as informações dele são relevantes, naturalmente respaldadas por provas, que são imprescindíveis nessa forma de acordo.
O instrumento da delação premiada é regulamentado pela Lei nº 12.850/2013, que prevê medidas de combate às organizações criminosas, onde constam benefícios que variam de perdão judicial, redução da pena em até 2/3 e substituição por penas restritivas de direitos (art. 4º).
Ela exige que a colaboração seja voluntária e efetiva (art. 4º) e que a delação tenha por principal e marcante característica o benefício do delator, a depender, evidentemente, da efetividade das informações por ele prestadas, em termos de resultado, que pode ser, em linhas gerais, a identificação de cúmplices e dos crimes por eles praticados, a revelação da estrutura e funcionamento da organização criminosa, a prevenção de novos crimes, a recuperação dos lucros obtidos com a prática criminosa ou a localização de eventual vítima com sua integridade física assegurada (art. 4º, I a V).
Até o momento, a delação premiada tem mostrado a sua eficiência nos acordo celebrados no âmbito da Operação Lava-Jato, em que os fatos delatados já produziram importantes sentenças, tendo por base não somente as informações dos delatores, mas sim os levantamentos das provas sobre a materialidade das declarações do colaborador, que são robustecidas por meios de provas diversas (art. 4º, § 16).
É preciso que os envolvidos nas denúncias e suspeitas de atos irregulares tenham a decência, a dignidade e a hombridade de assumir a responsabilidade para esclarecer os fatos e justificar perante a sociedade, como forma de prestação de contas sobre seus atos na vida pública, que é atividade de puro significado político, de provar, por meios e provas juridicamente válidos, sem necessidade de tentar destruir a imagem do delator, porque este se dispôs a cumprir o seu papel de informante e o fez na forma da lei, cabendo a outra parte cumprir o seu dever legal, por meio das defesas inerentes ao Estado Democrático de Direito.   
Ou seja, em última análise, não fossem as milagrosas delações, os fatos relevantes sobre a podridão da corrupção jamais viriam à tona e ninguém, nem mesmo a polícia nem os demais órgãos de investigação teriam condições de apurar a verdade sobre a imundície protagonizada por políticos aproveitadores, inescrupulosos e antipatrióticos, que ainda conseguiram construir brilhante história política, se beneficiando, de forma absolutamente irregular, de recursos públicos, muitos dos quais ainda batem no peito, eufóricos, sob juras de inocência, enquanto os ingênuos apoiadores se martirizam com o sentimento de injustiças e perseguições.
Convém que os brasileiros se dignem a repudiar toda e qualquer forma de corrupção com recursos públicos e exijam que os órgãos de controle e fiscalização promovam as devidas investigações e apurações sobre as suspeitas da prática de atos irregulares, de modo que a verdade possa vir à lume, mostrando quem precisa ser realmente inocentado ou devidamente punido, para que o Brasil possa ser passado a limpo, com urgência e em definitivo.
Brasil: apenas o ame!
       Brasília, em 19 de janeiro de 2019

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