quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Nobel da Paz?


Os simpatizantes do ex-presidente da República petista criaram e estão assinando abaixo-assinado com pedido para que ele seja indicado ao Prêmio Nobel da Paz, na versão de 2019, já tendo sido coletados maus de 473 mil autógrafos, contabilizados até o último dia 22, estando muito próximo do atingimento do objetivo da petição, de 500 mil assinaturas.
A aludida campanha foi idealizada e organizada por um argentino ativista de direitos humanos e vencedor do Nobel da Paz, em 1980, que já esteve com o petista, em março do ano  passado, em encontro no Instituto Lula, em São Paulo, para discutir a indicação ao prêmio em apreço, que se encaixaria como uma luva, nas pretensões políticas do brasileiro.
Como se sabe, logo no mês seguinte ao citado encontro, o ex-presidente foi preso e se encontra encarcerado na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (PR), cumprindo pena de doze anos e um mês de prisão, pela prática, segundo a Justiça, dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, com relação ao caso do tríplex do Guarujá (SP).
O argentino defensor do petista deixa claro, na petição, que o brasileiro, “através de seu compromisso social, sindical e político, desenvolveu políticas públicas para superar a fome e a pobreza em seu país, uma das desigualdades mais estruturais do mundo”.
O ativista elenca algumas das mudanças de indicadores sociais brasileiros que ocorreram durante o governo do petista, no período de 2003 a 2010.
Ele disse que “A contribuição de ‘Lula’ para a Paz está nos fatos concretos da vida do povo brasileiro e reforçada pelos estudos de várias organizações internacionais”.
A campanha vem sendo divulgada nas redes sociais oficiais do petista, com postagens nas línguas inglesa e espanhola.
A candidatura do petista precisa ser formalizada ao Comitê Norueguês do Nobel, até o dia 1º de fevereiro próximo.
Em harmonia com a vontade e o pensamento do criador dessa majestosa láurea, o célebre cientista Alfred Nobel, inventor da dinamite, o prémio deverá distinguir "a pessoa que tivesse feito a maior ou melhor ação pela fraternidade entre as nações, pela abolição e redução dos esforços de guerra e pela manutenção e promoção de tratados de paz".
O prêmio o Nobel da Paz pode ser concedido a pessoas ou organizações que estejam envolvidas em processo de resolução de conflitos e problemas sociais, sem correlação com a distinção com causas que já atingiram os seus objetivos em alguma área específica, ficando clara a sua essencialidade de prémio Nobel da Paz, com características próprias e bem definidas.
Ou seja, a sua descrição fundamental, como finalidade precípua, tem como alvo: “Pessoas que contribuíram com a manutenção na Paz no mundo.”.
Causa espécie que, na petição, sob a forma de abaixo-assinado, há destaque, em chamamento, para as possíveis qualidades do postulante ao cobiçado prêmio Nobel da Paz, como a contribuição aos brasileiros, na forma da distribuição de renda, por meio dos programas assistenciais à população carente, que nada mais foi do que o cumprimento de obrigação constitucional, que compete ao Estado dar assistência às famílias pobres, carentes de recursos financeiros, que qualquer governo mediano, independentemente da sua ideologia, de esquerda ou de direita,  tinha e tem a obrigação de fazê-lo, repita-se, com sede constitucional.
Essa assertiva é tão verdadeira que, mesmo tendo sido acabadas as gestões petistas, os governos seguintes, inclusive o atual, que é de direita, estão mantendo normalmente os pagamentos dos benefícios previstos nos programas assistenciais criados em governos anteriores aos petistas, havendo a promessa, agora, do pagamento do 13º Salário aos beneficiários do Bolsa Família.
Nas circunstâncias, a alegação de que o petista teria contribuído para a paz social não tem a mínima consistência, uma vez que não há a menor correlação da distribuição de renda com o arrefecimento de tensões ou conflitos sociais ou algo do gênero, não tendo o menor fundamento, em termos de justificativa para o Nobel da Paz, que tem como motivação primordial e essencial a luta em defesa e benefício da pacificação de situações de atritos ou questões  sociais, o que não tem nada a ver com o simples fato de o governo ter turbinado os programas assistencialistas, com a exclusiva finalidade da criação de sistema eleitoral diferenciado, como de fato conseguiu, à vista dos resultados das eleições, em determinadas localidades do Brasil, cujos eleitores demonstram dificuldade para distinguir o cumprimento do dever funcional do governante, de ser obrigado a promover a assistência prevista na Constituição Federal, de prestar auxílio financeiro às famílias carentes, da real intenção objetivada com essa medida, no sentido de se angariar simpatia e apoio, em termos eleitorais, aos projetos políticos pessoais e partidárias, como de fato aconteceu, na prática.
Essa constatação é inegável, diante da inexorabilidade com a evidência dos resultados das urnas, em que a região mais beneficiada do Brasil, no que diz respeito ao Bolsa Família, consegue demonstrar estupenda gratidão a quem não fez mais do que a sua obrigação de priorizar, no seu governo, os programas de assistencialismo, o que é notável, não a ponto de se imaginar que se trata de algo extraordinário, não fosse o fato de que, diante da premência das dificuldades e das circunstâncias, qualquer outro governo seria obrigado a prestar a mesma assistência, por se tratar de dever cogente, não constituindo nenhum favor, quando há o exclusivo envolvimento de recursos públicos.
Causa enorme estranheza o fato de que, no documento sob a forma de abaixo-assinado, não fazer menção sobre a situação de extrema precariedade moral do ex-presidente, que se envolveu em alguns casos da maior gravidade, em se tratando de homem público, com acusações sobre a prática de vários crimes contra a administração pública, entre os quais os de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, obstrução da Justiça, organização criminosa e tráfego de influência, sendo que, agora, no exato momento da indicação do seu nome para o exame do mérito sobre a concessão do prêmio Nobel a Paz, o pretendente se encontra preso, cumprindo pena por denúncia sobre a prática de delito incompatível com a honraria, que precisa ser outorgada às pessoas dignas de bons exemplos e boas condutas, sem máculas e sem a mínima ranhura na sua integridade como modelo de moralidade, dignidade de honradez.
É lamentável que alguns homens da atualidade não consigam perceber que é preciso respeitar os sentimentos das pessoas honradas, evitando demonstração de atropelo aos princípios do bom senso e da razoabilidade, como nesse caso, em que um criminoso cumprindo pena de prisão por monstruosa desonra da sua dignidade como homem público, que dignificou a Presidência da República, por dois mandatos consecutivos, pode ser indicado para o recebimento da láurea somente atribuída às pessoas sem a mínima nódoa perante a humanidade.
À toda evidência, é inadmissível que absurda pretensão como essa possa prosperar, mas, na pior das hipóteses, se a candidatura do petista vier a ser aceita pelo Comitê Norueguês, o prêmio Nobel da Paz certamente cairá em terrível desgraça e o seu prestígio ficará definitivamente desmoralizado, não sendo improvável que os atuais detentores dessa honraria a descartem, em definitivo, diante da plena perda do seu precioso valor, obviamente com exceção do defensor do petista, que já demonstrou desconhecer completamente o seu real significado, se não ele jamais seria capaz de encampar tamanha estupidez, diante da excrescência que seria a sua atribuição à pessoa encarcerada, cumprindo pena de prisão, absolutamente incompatível com os objetivos do prêmio de que se trata.
Não há a menor dúvida de que pessoas que já foram agraciadas, por mérito e real destaque a justificar o recebimento de importante prêmio, por terem comprovado a sua contribuição à causa humanitária, teriam o seu merecimento nivelado com um criminoso encarcerado pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro e que, com suas atividades criminosas, tenha levado o seu país às crises moral e econômica sem precedentes, e que, por consequência, tenha contribuído para causar a instabilidade no seio da sociedade, em dissonância com a sempre sonhada paz, que é exatamente o real sentido da concessão do Nobel da Paz.
O caso em comento, certamente, nem passará na fase preliminar da admissibilidade, se é que ela exista, quando o Comitê Norueguês do Nobel perceber que a indicação se refere a pessoa condenada, por má conduta na vida pública, com péssima reputação, em termos de contraposição do que realmente significa o importante ato de concessão do Nobel da Paz, que segue a liturgia rigorosamente de disseminação dos princípios, entre outros, de altruísmo, humanismo, harmonia, dignidade, com capacidade absoluta para justificar, no momento da outorga, a alma pura e sem mácula do homenageado, o que, a bem da verdade, não é exatamente o que representa, no presente momento, o brasileiro, que se encontra preso.               
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 24 de janeiro de 2019

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