domingo, 27 de janeiro de 2019

Desestabilização da Presidência da República?


O pai do senador eleito pelo Rio de Janeiro, que exerce a cargo de presidente da República, demonstrou bom senso e sensatez quando afirmou que, “se ficar provado” se seu filho “errou”, ele “terá que pagar por essas ações, que não podemos aceitar”.
O presidente do país precisava demonstrar, de forma clara e incisiva, exatamente o que seja sensatez no exercício do principal cargo do país, no sentido de repudiar, nas circunstâncias, atos não condizentes com a moralidade, posto que qualquer atitude que sinalizasse na proteção do filho, que se envolveu no furacão de escândalo financeiro, poderia comprometer os atos dele na administração do país, que não pode se misturar com assuntos alheios ao interesse público, que já exige o máximo da sua atenção, sob pena de prejudicar o bom desempenho da nobre missão de cuidar das políticas públicas e dos graves problemas herdados de outros governos.
Caso o presidente quisesse se envolver nesse imbróglio que se meteu seu filho, que se encontra completamente encalacrado em escândalo cada vez mais complicado, ele simplesmente demonstraria perda do controle da situação e contribuiria para suscitar mais desgaste político para o seu governo, quando, ao contrário, o momento exige que a personalidade do presidente esteja voltada exclusivamente para as graves questões nacionais, ou seja, acima de tudo, ele precisa demonstrar muito equilíbrio nas decisões de governo.
Além disso, para enfrentar os embates pertinentes às negociações políticas com o Congresso Nacional, com a finalidade da aprovação das reformas e medidas consideradas urgentes e essenciais para o país, o presidente tem que demonstrar extrema firmeza e sensatez, focando a sua atenção exclusivamente para nas matérias relacionadas com o seu cargo presidencial, ficando à distância de questões familiares, mesmo que elas sejam da maior gravidade, mas cabe ao principal envolvido prestar os esclarecimentos pertinentes, já que ele sozinho deu causa ao episódio que não pode arrastar mais ninguém, nem mesmo seu pai,  para igualmente servir de interlocutor nesse lamentável episódio.
Pelo visto, faltou equilíbrio e racionalidade por parte do presidente, que, embora tivesse agido com bom senso, no início dos questionamentos, logo depois do que havia afirmado, ele declarou que “não é justo atingir um garoto, fazer o que estão fazendo com ele, para tentar me atingir”, em clara evidência de que o presidente, de forma imprudente, estaria se relacionando às estripulias do filho, ou seja, o mandatário do país dá a entender que o caso do senador eleito pelo Rio de Janeiro pode estar sendo explorado para atingir e comprometer o próprio governo.
O principal envolvido e maior interessado nessa questão é o filho do presidente, mas ele tem agido, evidentemente por conveniência, na tentativa de se salvar politicamente, diante da total incapacidade de explicar e justificar, de forma plausível, as várias suspeitas sobre a prática de irregularidades, que, na sua santa “ingenuidade”, insinua que o episódio vem sendo alimentado com o firme propósito de desestabilizar a Presidência da República, comandada por seu pai. 
Por envolver o filho do presidente e ainda pelo fato de que ambos são muito próximos um do outro, uma vez que o primogênito tem costume de opinar em tudo que diz respeito ao governo no qual ele nem deveria se imiscuir, por não fazer parte dele e ainda por ter sido eleito para outro cargo da República e não exercer nenhuma função nela, não tendo qualquer autoridade para tanto, fica difícil para desentranhar a vinculação o presidente desse escândalo, que tem enorme potencial para causar danos ao governo, se ele não distinguir o público do privado, ou seja, o Estado e a família.
Daí a premência natural sobre a maior motivação para que o senador eleito preste, o mais rapidamente possível, os devidos e completos esclarecimentos e justificativas acerca de rumorosas suspeitas sobre transações milionárias.
O pior é que as suspeitas surgem quando outras nem tenham sido ainda detalhadas, o que contribuem para complicar ainda mais o cenário político e aumentar a gravidade da situação do senador eleito, que apenas tenta se esconder da imprensa, ficando cada vez exposto aos questionamentos, diante da potencialização das suspeitas, que ficam sem as necessárias justificativa não somente perante a opinião pública, mas o seu eleitorado, que acreditou na conduta de correção como homem público.  
O caso envolvendo o filho do presidente do país deixa de ser mero indício, porque, no gabinete dele, ainda no exercício de deputado estadual pelo Rio de Janeiro, havia a prática do chamado “rachid” - forma de esquema de devolução ao titular do gabinete de parte do salário que recebem os servidores ali lotados – e ainda a estranha movimentação na sua conta de depósitos fracionados, com intervalos um e outro, no total de R$ 96 mil, porque agora apareceu a acusação do envolvimento dele com elementos ligados à organização criminosa, o que aumenta o perigoso político acerca das suspeitas e acusações.
Como visto, há notícia de que o então deputado estadual, por via do seu gabinete na Assembleia do Rio de Janeiro, contratou a mulher e a mãe do chefe do chamado “Escritório do Crime”, uma das principais milícias do Rio, onde elas trabalharam até novembro último.
Diante disso, o senador eleito se considera “vítima de uma campanha difamatória com o objetivo de atingir o governo de Jair Bolsonaro”, tendo afirmado que as duas funcionárias foram contratadas “por indicação do ex-assessor Fabrício Queiroz”, que teria sido mero e modestamente motorista, mas, nesse caso, pasmem, ele tinha poder para a indicação de funcionários para trabalhar no gabinete do parlamentar, fato esse que bem demonstra o nível desse político, que não tem a mínima dignidade para assumir seus atos na vida pública.
É bastante estranho que, apesar do salário de motorista, aquele assessor chegou a movimentar o montante de R$ 1,2 milhão em sua conta, fato este que despertou a atenção do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), cuja desconfiança deu origem ao escândalo que parece estar apenas começando, no torvelinho de histórias que se adensam em fatos nebulosos, que se encaminham para rumos nada alentadores, quando o seu principal envolvido apenas demonstra ter buscado o melhor jeito para nada esclarecer e impedir que outros o façam, só que que os fatos mostram que ele pode sugar, de forma inevitável, o governo para o epicentro da cachorrada e complicar a vida política do presidente brasileiro, que já demonstrou que também não leva muito jeito para administrar situações complicadas.
          Como nesse angu de carroço agora tem ingrediente explosivo, com a comprovada participação de integrantes de organização criminosa com sede nas terríveis milícias do Rio de Janeiro - grupos de extermínio formados por ex-policiais travestidos de justiceiros - que foram seguidamente homenageados pelo então deputado estadual, a situação do senador eleito passa a ser de pura nitroglicerina, com capacidade para explosão a qualquer momento, conforme mostram os fatos.
O pior é que o filho do presidente, quando ainda era deputado estadual, disse que as milícias se dedicam a “expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos” e que “há uma série de benefícios nisso”, na verdade, todos sabem as reais atividades truculentas, devastadoras, enfim, criminosas protagonizadas pelos integrantes das milícias, em total desarmonia com os princípios humanitários e de civilidade, que jamais poderia ter a aproximação de homens públicos, diante do saudável entendimento segundo o qual a sua precípua função é justamente a defesa do interesse público, que não condiz com os objetivos espúrios dos milicianos.  
Os fatos mostram o altíssimo grau complicador engendrado pelo senador eleito pelo Rio de Janeiro, que, na qualidade de homem público, precisa, com a devida urgência, esclarecê-los e justificá-los, da melhor forma possível, com a devida minúcia e de modo que as suas explicações sejam capazes não somente de evidenciar a sua inocência nesse imbróglio, mas, em especial, de imunizar seu pai de qualquer envolvimento neles, mesmo que minimamente, diante da urgente distinção que precisa e convém ser feita, como forma imperativa de que as atividades públicas devam ser praticadas sob a fiel observância dos salutares princípios da dignidade, da moralidade, do decoro, da transparência e sobretudo da honestidade, para que não pairem dúvidas sobre a sua conduta e a do seu pai, que precisa se concentrar nas pletoras questões inerentes às políticas de Estado.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 27 de janeiro de 2019

Nenhum comentário:

Postar um comentário