sábado, 27 de julho de 2019

Voos irregulares


Segundo a imprensa, um helicóptero que fica à disposição do presidente da República foi usado para transportar familiares dele, na qualidade de convidados para o casamento de um dos filhos do mandatário.
Um sobrinho do presidente divulgou em sua página, na rede social, vídeo em que ele e outras pessoas – todas com roupa de festa - embarcam em um helicóptero da Força Aérea Brasileira.
No vídeo, consta a seguinte frase: “E aí, senhores, estamos bonitos? Vamos passear de… helicóptero”.
Diante do questionamento pelo site do G1 à FAB e ao Gabinete de Segurança Institucional, acerca dos passageiros e o motivo do uso da aeronave militar, o vídeo foi apagado da rede social.
Um dos sobrinhos do presidente, muito à vontade e cheio de empolgação, disse: “Saiu a caravana do Vale do Ribeira direto para o Rio de Janeiro. Vamos, caravana".
O mesmo sobrinho registrou, em vídeo de 24 minutos, a viagem entre o aeroporto de Jacarepaguá e Santos Dumont, que fica no Centro do Rio de Janeiro, bem próximo a Santa Teresa, onde aconteceu a cerimônia do casamento do filho do presidente.
O trajeto de 35 km, que, se realizado de carro, seria feito em cerca de 35 minutos - foram 14 minutos de voo de luxo.
Nas imagens, aparecem também outras pessoas, entre elas, irmãs do presidente e um deputado federal, amigo do presidente.
As imagens mostram que militares da Força Aérea Brasileira, fardados, ajudam os passageiros a embarcarem e a colocarem os cintos de segurança.
O GSI informou que “por razões de segurança” decidiu que o “presidente e familiares fossem transportados em helicópteros da Força Aérea Brasileira”.
O órgão presidencial também alegou que, como o casamento era em Santa Tereza, eles passariam por algumas comunidades perigosas.
Na verdade, essa lamentável notícia mostra que a farra com o dinheiro dos bestas dos contribuintes está muito longe de acabar neste país de aproveitadores, porque sempre se encontra motivo mais do banal e inconsistente para tentar justificar o injustificável.
Vejam-se se que foi sacada causa mais absurda e sem plausibilidade para tentar justificar o uso de aeronave oficial, ou seja, a passagem por comunidades perigosas.
Tudo bem que isso possa até servir de pretexto para justificar o uso de helicóptero, mas jamais o presidencial para levar familiares do presidente para o casamento do filho do presidente do país, visto que eles não têm absolutamente nada com a Presidência de República e muito menos com o interesse público.
Tudo bem que seja de suma importância a preservação da integridade dos parentes do presidente do país e sobre isso não cabe a menor discussão, porém o transporte seguro e confortavelmente deles poderia ter sido feito perfeitamente por qualquer forma apropriada de transporte, até mesmo por meio de helicóptero, desde que bancado exclusivamente com recursos particulares, ou seja, sob o pagamento pelos próprios interessados, mas, jamais, pelos tolos dos contribuintes, que não aguentam mais ser graciosamente explorados.
Embora possa se imaginar que se trate de despesa de pequena monta, de somenos importância, mas o somatório de tantas outras e mais outras despesas igualmente irrelevantes acaba constituindo um conjunto de valores que têm enorme carência para a prestação de serviços públicos de qualidade e é preciso que os brasileiros passem a repudiar cada centavo que é desviado dos orçamentos, para que essa importante conscientização possa contribuir para, pelo menos, minimizar a banalização dos desvios de recursos públicos.   
Na verdade, esse é caso clássico em que os órgãos de controle e fiscalização precisam cuidar, muito bem de perto, na forma da sua incumbência constitucional e legal, com vistas à apuração não somente das responsabilidades pelo uso indevido de bens públicos, mas especialmente dos valores gastos com essa escandalosa farra com dinheiro público, para a determinação do devido ressarcimento, como forma de reparação dos prejuízos causados ao erário.
Convém ainda que o presidente da República seja devidamente alertado sobre o irregular e injustificável uso de aeronave oficial em transporte de pessoas estranhas ao serviço público, em dissonância com o interesse público, para o fim de que haja imediata e expressa determinação aos setores competentes da administração pública, no sentido de que seja terminantemente proibido o uso de aviões em atividades estranhas ao serviço público, além de ser exigido dele providências para a apuração e o ressarcimento dos valores gastos pelo uso de aeronave oficial na prestação de voos (ida e volta) particulares.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 27 de julho de 2019

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