O presidente da República, diante da enorme repercussão
sobre sua crítica aos governadores do Nordeste, reagiu e os atacou, dizendo que
"Eles são unidos. Eles têm uma ideologia, perderam as eleições e tentam
o tempo todo através da desinformação manipular eleitores nordestinos.”.
Relembrando o episódio, o presidente do país, de maneira precipitada e indevida,
havia dirigido a palavra ao ministro da Casa Civil, dizendo a ele que, ipsis
litteris: "Daqueles governadores de 'Paraíba', o pior é o do
Maranhão. Não tem de ter nada para esse cara.".
Em
consequência disso, em tom de indignação, os governadores do Nordeste se
manifestaram em repúdio à crítica presidencial, por entenderem que se trata de
espécie de retaliação à região.
No
caso mais particular, o governador do Maranhão disse, em declaração bastante
incisiva, que o presidente mencionou "Paraíba" para se referir
aos nordestinos - mas isso não fica claro no trecho em que é possível ouvir a
conversa, por ser pouco audível.
Não
há desconhecer que, normalmente, o termo "paraíba" é maneira não
muito elegante que se usa, principalmente, no Rio de Janeiro, para se referir a
migrantes nordestinos, tendo, em alguns casos, conotação até pejorativa, o que
se recomenda evitar o seu uso.
O
presidente, na tentativa de restringir o alcance da sua crítica, disse que a
sua menção se referia apenas aos governadores da Paraíba e do Maranhão, que os
que mais o criticam, quanto aos seus atos.
Em
tom de justificativa, o presidente disse, depois, que foi "uma crítica
em três segundos" e que a imprensa "fez uma festa"
com a declaração, pretendendo minimizar o estrago já causado nas relações bilaterais.
Nesse
caso, não importa a duração da crítica, porque é preciso que autoridade pública
se policie para evitar qualquer forma do pronunciamento que possa causar ruído
estranho envolvendo outros interesses.
Independentemente
da duração do pronunciamento, o que pode resultar repercussão prejudicial é o
seu conteúdo, a depender da sua gravidade, que poderá se estender por tempo indeterminado
e ainda causar estrago indesejável e irremediável às relações no âmbito da administração
pública, além dos gravíssimos reflexos para a população da região envolvida, em
especial quando já há a intenção deliberada de não se dá “nada para esse cara”,
como teria dito o presidente, segundo a notícia vazada.
A
verdade é que, qualquer forma de comentário, mesmo que em caráter estritamente
localizado, mas que se torne público, como foi o caso em comento, precisa sim
ser repudiado pela sociedade, à vista da necessidade da preservação da dignidade exigida pela liturgia
do importante cargo ocupado pela autoridade.
Autoridade alguma pode se considerar acima das
leis do país, que, sem distinção, pregam a necessidade da estrita observância ao
saudável princípio da respeitabilidade entre os poderes e as governanças, sob
pena da banalização e generalização da desordem aos bons costumes e à
civilidade, que são próprios das nações sérias e respeitáveis.
Tem-se
como indiscutível leviandade e irresponsabilidade o presidente do país ter
afirmado que o Maranhão não vai ter nada, tão somente porque o seu governador não
o trata na maneira como ele gostaria que fosse respeitado, porque a existência
ou não da simpatia pessoal, diante das naturais ideologias professadas pelas
autoridades, jamais poderá ser fato preponderante para o estabelecimento das
relações entre a União e os Estados, à vista da incumbência constitucional e
legal que precisa ser rigorosamente cumprida e observada, independentemente do critério
pessoal da mera compatibilidade política.
No
âmbito do princípio imperante do Estado Democrático de Direito, onde prevalece a
vontade política dos cidadãos, é preciso ser respeitada a vocação política de
seus governantes, que são eleitos por vontade soberana e democrática dos
eleitores, no âmbito da sua jurisdição, não cabendo aceitação ou não de quem
quer que seja e muito menos forma de punição à população, em razão de
divergência política, sob pena, não somente do indevido e repudiável critério
discriminatório estabelecido, por força de evidente falta de empatia política, mas
também porque o tratamento se configura extremamente prejudicial à população da
região ou da localidade governada por quem diverge da linha política do governo
central.
Ou
seja, a demonstração de desarmonia política não pode justificar nenhuma forma
de punição ao povo governado por quem se declara antipático ao presidente do
país, porque, ao se dizer que “Não tem de ter nada para esse cara.", em
tese, a determinação soa diretamente que o povo comandado por opositor ao
presidente do país pode deixar de merecer os cuidados que incumbem à União,
igualmente aos entes da federação.
É
preciso que o presidente da República se acalme e ponha a cabeça no
travesseiro, para o fim de passar a se posicionar como verdadeiro estadista, evitando
pronunciamentos bombásticos sobre intenção de prejudicar os interesses dos
brasileiros, sob pena de contrariar, de maneira absolutamente antipática e antipatriótica,
a sua principal ideia de campanha eleitoral, segundo a qual “O Brasil acima
de tudo”, mensagem esta que precisa ser resgatada e consolidada por meio de
atos revestidos de reafirmações concretas e efetivas, em benefícios dos
brasileiros, não importando as regiões e muito menos os opositores ao seu
governo, porque isso faz parte do jogo político.
É
extremamente lamentável que a tão pregada mentalidade de urgentes mudanças na administração
do Brasil tenha sido simplesmente tragada, trucidada por sentimentos absolutos
de igualdade e de amor às conveniências e aos jogos políticos, ao se manterem exatamente
as mesmas condições de tratamento adotadas por adversários políticos, conforme
fica muito evidente com a crítica sob exame, diante da necessidade de se isolar
a figura A ou B, precisamente por se tratar de oposição e isso foi tanto criticado
como ridicularizado muito recentemente, por não haver notório distanciamento
dos princípios democráticos de união e civilidade.
Diante
de tantas divergências de pensamentos e atitudes atribuídas ao presidente da
República, em tão pouco tempo, na sua cambaleante administração, urge que ele
se conscientize, o mais rapidamente possível, com inspiração nos grandes
estadistas, para pensar exclusivamente no bem e na harmonia dos brasileiros, de
modo que as medidas presidenciais busquem apenas o apoio do povo ao seu
governo, tendo por base as lamentáveis experiências recentes, no sentido de que
a guerra entre brasileiros, instigada por meio do “nós” contra “eles” somente
levou à desunião e ao verdadeiro desastre social, que precisam e exigem de
imediato armistício, justamente partindo de mentalidade madura, sadia, inteligente,
compreensiva e sobretudo voltada para a pacificação e o amor no seio dos
brasileiros.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 21 de julho de 2019
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