sexta-feira, 26 de julho de 2019

Abominável comodismo


Dias atrás, escrevi a crônica intitulada “A tristeza da fome”, tendo por base afirmação do presidente da República, que teria se expressado nestes termos: "é grande mentira e um discurso populista que pessoas passem fome no Brasil. Não há nas ruas do país pessoas com físico esquelético. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora passar fome, não. Você não vê gente pobre pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países por aí pelo mundo".
Na ocasião, eu disse que a situação da fome no Brasil é crítica e preocupante, constituindo tremenda aberração alguém alegar que quem passa forme vai se apresentar em praça pública, para denunciar seu corpo raquítico, quando é sabido que, quem passa fome, não tem nem disposição para sair de casa, quanto mais ficar passeando os centros das cidades.
É preciso que as autoridades públicas se esforcem em identificar os bolsões de pobreza, para o fim de constatar a tristeza da forme que impera nesses lugares desassistidos pelos governos e autoridades públicas, que estão muito preocupados com a reeleição.
Foi dito que o presidente da República se conscientizasse sobre a real gravidade da existência de muita fome que grassa no Brasil e determinasse a imediata criação de programas destinados à distribuição de alimentos nessas localidades onde a fome chega a ser endêmica e letal.
Comentando o aludi texto, o brasilianista João Tebaldi, muito sensibilizado com as questões do Brasil, asseverou que ”Nosso presidente gosta de dar caneladas, como ele mesmo afirma, mas acaba trazendo à baila discussões importantes para a nação, que há anos vem assistindo indiferente, a vários temas que poderiam ter sido solucionados, lá atrás, por esses mesmos que hoje jogam pedras. Pura hipocrisia dessa esquerda que está mais preocupada em permanecer no poder. Que o nosso presidente é impulsivo, todos sabemos. Ele é novo no Executivo, vai aprender. O importante, mesmo com suas caneladas, o Brasil parece estar ganhando novo rumo - apesar dessa esquerda -, com esperança de um futuro melhor para nossos filhos e netos. Basta observar a constituição do seu quadro de ministros, a vontade de acertar, a preocupação com as reformas que tanto necessitamos, que já estão aí sendo discutidas. E por aí a fora... Estou esperançoso.”.
Diante de tamanho entusiasmo sobre o futuro do Brasil, eu imaginei ser tão bom pensar cheio de esperança sobre o porvir, mas, com a visão um pouco diferente do otimista Tebaldi, digo que o meu sentimento é o de que o governo ainda está esperando o momento ideal para tomar posse, em ermos de efetividade, e começar a trabalhar, ou seja, em que pese o presidente da República já ter pleno domínio do Palácio do Planalto, ele ainda não percebeu que pode agir e atuar com os verdadeiros poderes para acionar os botões da máquina pública em rumo à nova era do progresso tão ansiado pelos brasileiros.
Já se passaram mais de 6 meses ancorado no poder, mas o presidente ainda não foi capaz de ligar o motor da poderosa nau chamada Brasil, talvez por tatear em painéis desconhecidos e certamente ainda não saber precisamente a rota a ser seguida e o norte a se atingir, com devida e necessária segurança sob seu controle, à vista das ambiciosas promessas de mudanças esboçadas na campanha eleitoral.
O certo é que sequer houve mudança da arcaica, ridícula e abominável mentalidade do sistema imperante no passado recente, no formato atual de "nós", a direita, contra "eles", a esquerda, e não sai disso, em verdadeiro contrassenso administrativo, quando se esperava que ideias revolucionárias, no bom sentido, viessem acontecer de imediato à posse, sepultando, em definitivo, tudo de ruim que se pode atribuir ao ciclo maléfico, perverso e contrário ao desenvolvimento do Brasil.
O governo precisa, com urgência, encontrar jeito e modo obsequiosos e  sacrificantes ao silêncio, se policiando ao máximo para falar somente quando o silêncio demonstre possibilidade de letalidade, ou seja, é falar somente o estritamente necessário, para se dizer que existe vida no Palácio do Planalto, porque o estoque de falação desnecessária já foi totalmente consumido, acumulado montanhas de desgastes absolutamente dispensáveis, com enormes prejuízos de toda ordem.
Agora, é preciso que o governo decida fazer ingentes esforços e comece a trabalhar, para o fim, entre outras medidas imprescindíveis ao progresso, de empanturrar o Congresso Nacional com montanhas de projetos referentes às reformas compatíveis com o desenvolvimento do Brasil.
Já era para, logo no primeiro dia de governo, o presidente ter mandato para o Congresso, além da reforma da Presidência, as reformas igualmente necessárias, como a trabalhista, tributária, administrativa, política, judiciária, tecnológica, eleitoral, penal, presidiária, entre outras importantes ao alavancamento do crescimento socioeconômico.
Há decepção generalizada diante de tantas, inúteis e infrutíferas abobrinhas nutridas no âmbito do governo, em que pese a plêiade de sumidade representada pelos titulares dos ministérios, que foram, até o momento, absolutamente incapazes de produzir algo novo e extraordinário, como contribuição a se ensejar o início da ansiada revolução, no bom sentido, em todos os setores da administração do país, com vistas às mudanças urgentes e necessárias, salvo a que foi formulada pelo ministro da Justiça, já enviada ao Parlamento, na forma de projeto anticrime, que apenas constitui o mínimo do que se exige para se pensar em efetivo e verdadeiro combate à criminalidade.
Não se pode negar que, diante da capacidade e da experiência do titular do citado ministério, esperava-se muito mais, algo bombástico e atemorizador, em termos de projetos abrangentes e com maior sentido de eficácia e efetividade contra a poderosa criminalidade instituída, e que ele fosse capaz de explorar ao máximo a sua capacidade jurídica, em termos de avanço e modernidade contra as organizações criminosas, de modo que pudesse ser sinalizado que o poder demolidor do novo sistema de segurança pública seria capaz de varrer os bandidos da face da Terra.
Até o momento, ainda não foi esboçado plano de desarmamento exclusivamente contra os criminosos e muito menos para o combate ao tráfego de drogas, o que demonstra extraordinária falta de iniciativa para eliminar a criminalidade, que era precisamente o que se imaginava da parte de quem se dizia implacavelmente inimigo da bandidagem.
Na verdade, os bandidos continuam exibindo arsenal de armamento até os “dentes” e a população tem como alternativa o enclausuramento nos seus lares, com medo da violência, que se mantém estável ou ainda mais acentuada.
A situação de governabilidade é notoriamente decepcionante, diante da falta de iniciativa administrativa de peso e inovação, diante da timidez quanto à apresentação ou, ao menos, ao esboço de novos projetos, contendo novidade para mudar o status quo, preferindo a continuidade da precariedade e da deficiência no serviço público, sob a alegação da escassez de recursos, que nem foram levados em conta por ocasião da campanha eleitoral.
Esse quadro de imobilismo, representado pela falta de iniciativa e de projetos revolucionários, é extremamente imperdoável para quem prometeu mudanças radicais e estruturais, mas elas não apareceram com o vigor que se esperava, justamente com a força do furacão para arrombar quarteirões a quantos se insurgissem contra elas, porque foi exatamente assim passado para a população, na campanha eleitoral, que o Brasil precisava experimentar, imediatamente, nova fase de progresso, que somente será viável por meio de urgentes e efetivas mudanças nas estruturas do Estado.
É completamente impossível se conformar com essa mediocridade de gestão, que, de forma melancólica, se conforma, se acomoda em tão pouco tempo, para se permitir nada produzir nem iniciar algo em benefício da população, diante do que se imaginava que a disposição do governo que se dizia de mudanças tivesse algo diferente para trabalhar e implementar, com vistas à construção do Brasil novo e diferente, com seus vetores direcionados para o horizonte do progresso e da modernidade, em reais condições de ser transforado em nação da esperança e de novas oportunidades.
O certo é que muito pouco foi implementado até agora, senão algumas medidas no âmbito da perfumaria, muito mais do que o imprescindível, somente o famoso tapa-buraco que precisava, ao menos, ter sido feito, sob pena de se torna ainda mais periclitante a situação de governo que deveria ter nascido a estrela e o símbolo representativos de auspiciosas e resplandecentes mudanças.
          Como nada de expressivo foi feito até agora pelo governo, em relação ao que o Brasil merece e precisa, com a reclamada urgência, convém que sejam criadas forças-tarefas, mutirões, exércitos de mobilizações para agilizar as medidas e os projetos capazes de catapultar o Brasil desse brutal e terrível atoleiro, de modo que seja possível mexer com o brio dos brasileiros, com vistas à retomada da vibração pelo amor à pátria, que se dará por meio dessa forte ação de mobilização.
          Esperava-se que o sangue correndo na veia de ex-militar tivesse o condão de imprimir o tão esperado espírito revolucionário de convocação e mobilização dos brasileiros, para a implantação de urgentes mudanças das estruturas e conjunturas arcaicas, improdutivas e decadentes que vêm imperando, de longa data, no país sem perspectivas, sem esperanças, que se posiciona, infelizmente, tão somente à mercê de governo extremamente incompetente, sem iniciativa, que apenas cumpre, muito mal, a sua função presidencial, absolutamente despreparado e aderente ao deprimente e abominável comodismo intrínseco dos brasileiros.
O governo precisa perceber, o mais breve possível, que as grandezas econômicas e sociais do Brasil exigem a prestação de serviços públicos de qualidade, mediante a implementação do aperfeiçoamento e da modernização de suas estruturas, observados os salutares princípios da competência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, entre outros que possam realmente se harmonizarem com a evolução  e a modernidade científica e tecnológica.
É incontestável que as críticas dirigidas ao governo são absolutamente cabíveis e justas, porque elas têm como primordial motivação a expectativa criada com as promessas de mudanças, não somente quanto à moralização, com o combate à corrupção e à impunidade, que é fundamental para o país, em termos da consolidação de princípios republicanos, mas, em especial, quanto à retomada do desenvolvimento econômico e à modernização estrutural e conjuntural do Estado, com vistas ao firme encaminhamento do conjunto das medidas capazes de contribuir para o progresso brasileiro, tendo por base o aumento da produtividade, do emprego, do consumo e dos investimentos público e privado.
O mínimo sentimento de patriotismo não consegue se conformar que o Brasil continue sob o domínio da incompetência, da mediocridade, da ineficiência e do comodismo por algo modesto, não sendo aceitável que o seu governante seja o principal causador dessa tragédia, justamente por não ter condições e iniciativa para conduzir o desejável processo de desenvolvimento, com a coordenação das medidas urgentes e necessárias à reformulação das estrutura e conjuntura do Estado, que se encontra inerte, visivelmente falido, em termos de funcionalidade, e asfixiado pelo gigantismo da máquina pública pesada, precária, onerosa e ultrapassada, absolutamente incompatível com os princípios da administração científica, aperfeiçoada, moderna, eficiente e efetiva.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 26 de julho de 2019

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