O
presidente da República afirmou que é "grande mentira e um
discurso populista que pessoas passem fome no Brasil”, porque, segundo ele,
“não há nas ruas do país pessoas com físico esquelético".
Ele
disse que “Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora passar fome,
não. Você não vê gente pobre pelas ruas com físico esquelético como a gente vê
em alguns outros países por aí pelo mundo".
O
presidente disse que "É um discurso populista (falar de fome no Brasil),
tentando ganhar simpatia popular, nada mais além disso. O que nós temos que
fazer, nós, Poder Executivo e Legislativo, em grande parte um depende do outro,
é facilitar a vida do empreendedor, de quem quer produzir".
O
presidente ressaltou ainda que o solo brasileiro é "rico para
praticamente qualquer plantio, mas que as autoridades políticas não
devem atrapalhar o nosso povo a crescer.”.
O
presidente disse que "É só as autoridades políticas, nós do Legislativo
e do Executivo, não atrapalharem o nosso povo, e essas franjas de miséria por
si só acabam no Brasil, porque nosso solo é muito rico para tudo o que você
possa imaginar".
Naturalmente
que alertado por quem conhece o assunto e se encontra atualizado com as informações,
o presidente cuidou de se retratar, ao afirmar que "O brasileiro
come mal. Alguns passam fome. Agora, é inaceitável em um tão rico país como o
nosso, com terras agricultáveis, água em abundância. Até o semiárido nordestino
tem pluviométrico maior que Israel".
Questionado
por jornalistas se estava recuando da declaração, o presidente se irritou e
ameaçou encerrar a entrevista, tendo declarado: "Pelo amor de Deus, se
for para entrar em detalhes, em filigrana, eu vou embora".
Ele
ainda aproveitou para brincar, dizendo: "Não estou vendo nenhum magro
aqui. Temos um problema alimentar no Brasil. Temos, não é culpa minha, vem de
trás, estou tentando resolver. O que tira o homem e a mulher da miséria é o
conhecimento, não são bolsas e programas assistencialistas. Temos que lutar
nesse sentido.".
Não
obstante, números realistas e cruciais, embora levantados ainda em 2017, pela Organização
das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), apontam que, no
Brasil, ao menos 2,5% da população ainda se encontra em grave situação
alimentar.
Os
dados, divulgados no final do ano passado, apontam que, em 2017, ano utilizado
como base para o relatório, mais de 5,2 milhões de brasileiros passaram um dia
inteiro ou mais dias sem consumir alimentos ao longo do ano.
Por
sua vez, dados oficiais, fornecidos pelo Ministério da Saúde brasileiro, sobre
segurança alimentar no país, contradizem as declarações do presidente da
República, porque 5.653 pessoas morreram de desnutrição no Brasil, em 2017 — último
dado disponível — e isso equivale à média de mais de 15 pessoas morrendo de fome,
por dia.
Uma
professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, disse que
“A desnutrição é a expressão corporal da fome. A morte por desnutrição é um
extremo, mas a gente tem estágios de desnutrição e estágios de insegurança
alimentar nutricional. A gente não quer só que as pessoas não morram de fome,
quer que as pessoas não vivam com fome.”.
Em
2018, o Ministério da Cidadania fez o Mapeamento da Insegurança Alimentar e
Nutricional (Mapa InSAN), cujos dados mostram que, em 2016, foram coletados
dados sobre a fome, tendo sido constatadas que 427.551 crianças, com menos de
cinco anos, atendidas pelo programa Bolsa Família, tinham algum grau de
desnutrição, que é medido de acordo com o déficit de peso por idade ou de
altura, por idade.
Foram
classificadas com desnutrição muito alta 44.462 crianças e com desnutrição alta
102.947, entre as que são atendidas pelo Bolsa Família.
A
desnutrição em crianças, grupo mais vulnerável, é o indicador recomendado pela
FAO (órgão da ONU para alimentação) para medir a fome, segundo a professora.
Conforme
a última pesquisa realizada pelo IBGE, em 2013, sobre o tema alimentação, 7,2
milhões de pessoas viviam em situação de insegurança alimentar grave, no país,
que é quando a pessoa passa o dia inteiro sem comer por falta de alimentos e há
redução quantitativa de alimentos entre crianças.
Outras
10,3 milhões de pessoas entraram na categoria de insegurança alimentar
moderada.
Entre
as crianças com menos de cinco anos, 641 mil passavam por insegurança alimentar
grave, e 864 mil por insegurança alimentar moderada.
Diante
de avaliações infundadas e conclusões distanciadas da realidade, conforme as
palavras do presidente do país e a realidade do quadro alimentar, não há a
menor dúvida de que já passou do tempo de o governo brasileiro se fingir de
morto a imprensa, por longo período, e somente se pronunciar à opinião pública,
o estritamente necessário, somente e terminantemente para cumprimentar as
pessoas, deixando que as informações de governo fiquem a cargo dos órgãos
incumbidos das respectivas áreas, de modo que ele fique a salvo, em termos de
críticas da opinião pública, que vem explorando o máximo a falta de atualização
dele sobre informações pertinente ao seu governo.
Aliás,
de modo geral, à vista de suas continuadas declarações dissonantes com a realidade,
cujos reflexos são prejudiciais à sua imagem como a principal autoridade da
República, ele faria bem danado ao Brasil se conseguisse se policiar para falar
o estritamente necessário, abstendo-se ao máximo quando não tivesse certeza
sobre a matéria enfocada pelos jornalistas, o que se evitaria interpretações equivocadas,
que são normalmente objeto de posteriores esclarecimentos para o restabelecimento
da verdade.
Cabe
ao presidente do país ser o mais reservado possível, segundo a liturgia do
relevante cargo que ocupa, tendo o dever de somente falar em eventos oficiais e
se o cerimonial permitir que ele discurse ou faça pronunciamento protocolar,
não precisando dizer absolutamente mais nada, em obséquio à sua notória falta
de conhecimentos gerais, denunciada neste caso do fome e em outras situações em
que o silêncio dele teria contribuído enormemente para se evitar confundir as
verdadeiras informações oficiais.
O problema do presidente sobre as informações
desencontradas pode ser solucionado imediatamente, basta ele apenas seguir o
cerimonial e falar somente o indispensável, porque os esclarecimentos, as informações
e as notas oficiais são normalmente prestados pelo Porta Voz do Palácio do
Planalto, que tem a obrigação de fornecê-los absolutamente com correção e
precisão, na forma do figurino protocolar.
A situação da forme no Brasil é crítica e
preocupante, constituindo tremenda aberração alguém alegar que quem passa forme
vai se apresentar em praça pública, para denunciar seu corpo raquítico, quando
é sabido que, quem passa fome, não tem nem disposição para sair de casa, quanto
mais ficar passeando os centros das cidades.
É preciso que as autoridades públicas se esforcem
em identificar os bolsões de pobreza, para o fim de constatar a tristeza da
forme que impera nesses lugares desassistidos pelos governos e as autoridades
públicas, que estão muito preocupados com a reeleição, quando eles deixam de
aprovar algo de interesse da nação temendo a reação do eleitorado na próxima
eleição, em evidente aberração de se misturar conveniências e projetos pessoais
com o interesse público.
Convém que o presidente da República, agora
alertado e consciente sobre a real gravidade quanto à existência de muita fome
que grassa no Brasil, exatamente na atualidade, determine a imediata criação de
programas destinados à distribuição de alimentos nessas localidades onde a fome
chega a ser endêmica e letal, quando a grande parte da população já se
acostumou com esse terrível martírio, que conta com imperdoáveis omissão e irresponsabilidade
governamentais, conforme mostram os fatos, diante do seu completo
desconhecimento, porque os políticos somente aparecem por lá uma vezesinha, no
período de quatro anos, mas não é para distribuir alimentos, não, porque a sua
presença lá é apenas para pedir voto e depois tomar banho de álcool, para ficar
higienizado até o próximo pleito eleitoral.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 20 de julho de 2019
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