sexta-feira, 19 de julho de 2019

A um passo de republiqueta


O presidente da República rebateu, com veemência, as críticas de eleitores à indicação de seu filho, um deputado federal por São Paulo, para o cargo de embaixador nos Estados Unidos da América.  
Em transmissão ao vivo, nas redes sociais, o presidente disse que pretende beneficiar seu filho, que não pode fazer nada se as pessoas deixarem de votar nele pela indicação. 
O presidente foi muito enfático, ao afirmar que, verbis: "Lógico que é filho meu. Pretendo beneficiar um filho meu, sim. Pretendo, está certo. Se puder dar um filé mignon ao meu filho, eu dou. Mas não tem nada a ver com filé mignon essa história aí. É aprofundar um relacionamento com um país que é a maior potência econômica e militar do mundo".    
O presidente disse ainda que não entende o que chamou de "crítica pela crítica", porque não considera que o deputado federal será premiado caso aprovado para o posto diplomático. 
Ele declarou que "Pretendo encaminhá-lo, sim. Quem diz que não vai votar mais em mim, paciência. Em algumas coisas vou desagradar a vocês".
O presidente afirmou que “seu filho é preparado para a função e que se fosse uma pessoa sem princípios, ele o indicaria para um cargo ministerial com um grande orçamento. Eu vou defender meu filho. Ah, o garoto é fritador de hambúrguer. Além de fritar hambúrguer, ele entregou pizza também, pode colocar aí na matéria".
Mais cedo, em cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente deu como garantida a aprovação do parlamentar pela Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Em defesa do filho, ele citou que, “se o nome não fosse aprovado, poderia inclusive indicar o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para a embaixada nos Estados Unidos e colocar Eduardo no ministério.”.    
O porta-voz da Presidência da República afirmou que o Palácio do Itamaraty já aprontou minuta de consulta pelo qual o governo dos Estados Unidos será consultado sobre a indicação.
Em outra frente, o Palácio do Planalto também negocia a aprovação do nome do deputado pelo Senado Federal, tendo informado que o presidente já tratou do assunto com o presidente daquela Casa e que, pelas contas feitas pelo governo, hoje o placar seria apertado na Comissão de Relações Exteriores, com o apoio de 8 dos 17 integrantes do colegiado.
Por isso, o Palácio do Planalto já admite a possibilidade de que o tema seja levado ao plenário, onde o governo teria vantagem.
Trata-se de indicação das mais absurdas e insensatas que o mandatário do Brasil poderia cogitar, porque há nessa medida o mais puro da insensibilidade e da insensatez que autoridade da República poderia imaginar, o fazendo depois que restasse essa insanidade como única alternativa e mesmo assim acompanhada de minudentes esclarecimentos e justificativas, para demonstrar que somente restou a indicação de seu filho e que ele passa a ser o salvador da pátria, lamentando profundamente que o Brasil seja obrigado a mandar para a mais importante embaixada brasileira, que exige pessoa sabidamente preparada, competente e par de todas as dificuldades inerentes às relações internacionais, mas somente restou o filho do presidente, que é obrigado a se esforçar para desempenhar, mesmo estando ano-luz das exigências protocolares para o desempenho de atribuições de extrema responsabilidade.
Não há a menor dúvida de que essa tresloucada decisão presidencial poderá implicar a perda significativa de milhões de votos, tendo em conta que uma de suas promessas de campanha eleitoral simplesmente passa a ser ignorada e mandada para o espaço sideral, no sentido de que o seu governo se basearia em mudanças éticas e morais, mas a indicação do próprio filho para ser o principal embaixador do Brasil é absolutamente imperdoável, por demonstrar extrema falta de senso comum de razoabilidade não somente como homem público, mas em especial de simples brasileiro, que jamais imaginaria que o principal responsável pela República tivesse pensamento tão pueril e rasteiro de sequer pensar nos interesses do Brasil.
Trata-se, fora de dúvidas, de pessoa sem as qualificações próprias para responder por embaixada incumbida das mais relevantes, em termos de responsabilidade diplomática, que não pode merecer a confiança de eleitor sensato e defensor dos mais elevados princípios de brasilidade, dando a impressão de que, quem tem capacidade para pensar tão pequeno, pode ser capaz de cometer muitas e outras ingenuidades e aberrações ainda piores, diante da falta de coerência administrativa e de senso crítico, ao imaginar, de forma estranha, que o pai precisa proteger o seu filhinho, no âmbito do serviço público, o que é absolutamente impensável.    
O mais ridículo de tudo isso é o descaramento evidenciado pela falta de sensibilidade e o desrespeito ao cidadão brasileiro, quando o presidente, na maior cara-de-pau, diz que “Pretendo beneficiar um filho meu, sim. Pretendo, está certo. Se puder dar um filé mignon ao meu filho, eu dou.”, porque é normal, comum e natural no âmbito da família isso acontecer, estritamente no tratamento particular, porque o pai sempre procurar dar o melhor para o filho, por ser a tradição familiar, mas, em termos de serviço público, na administração pública que apenas começa para o presidente, isso funciona como o pior dos mundos, porque tem o condão de agredir violentamente os princípios republicanos da ética, da moralidade, do decoro, da dignidade e principalmente a conduta ilibada que precisam imperar no exercício do principal cargo da República, dando a entender que o Brasil passa a ser transformada em republiqueta, em que o soberano tem autonomia para decidir privilegiar membros da família ditatorial, para a sua satisfação, por achar que a sua vontade não tem limites nem rédeas, bastando apenas a indicação sem contrafreios impostos por aqueles conceitos de correção e regularidade na administração do Brasil.
O presidente precisa entender que não se trata apenas de “crítica pela crítica”, mas sim de princípios jungidos ao exercício do cargo de príncipe da República, que não pode se dar ao luxo de escolher o próprio filho para desempenhar espinhoso cargo de embaixador, quando certamente não seria a pessoa mais qualificada para o preenchimento dos requisitos exigidos, além de se tratar de membro da família presidencial, dando terrível conotação de que as piores republiquetas não vislumbrariam solução tão fora de propósito, porque isso não só demonstra extrema incompetência gerencial, pela desprezível falta de sensatez, como completa ridicularização ao corpo diplomático, que simplesmente foi descartado pelo menino ainda engatinhando na vida pública, que, por certo, terá mera e simbólica participação protocolar à frente da embaixada, porque lhe faltam os atributos indispensáveis ao desempenho de tão relevante missão diplomática.
O presidente chega ao ponto de não se sensibilizar diante das críticas que são feitas à sua absurda indicação, quando defende que seu filho tem preparo suficiente para o cargo, quando ele deveria pensar melhor sobre as verdadeiras atribuições do cargo de embaixador da principal representação diplomática brasileira e tentar conhecer o que realmente é preciso se dominar, em termos de preparo e experiência diplomáticos, para que a missão seja cumprida a contento, exatamente ao nível da responsabilidade à altura do Brasil, que jamais deveria ser entregue a quem sabidamente não tem as mínimas condições exigidas para o cargo, ficando evidente que o presidente brasileiro tem o dever cívico de não permitir que pessoa despreparada seja nomeada, sob pena de ele ser responsabilizada por desastre anunciado.
Em demonstração de total alheamento à realidade e ao equilíbrio gerencial, o presidente ainda ameaça colocar o filho como ministro das Relações Exteriores, mandando o atual titular para a embaixada norte-americana, caso o garotinho não passe no crivo da sabatina no Senado, fato que somente agrava o insensato quadro envolvendo o preenchimento do cargo em tela, fato que não é considerado nepotismo, sob o prisma da interpretação do Supremo Tribunal Federal, por se tratar de cargo considerado político, mas o fato em si não passa de verdadeira e vexaminosa lambança, por ficar escrachada forma de privilégio que é preferível evitá-lo, sob o aspecto dos princípios republicanos da ética e da moralidade.
Os brasileiros depositam esperança, ainda que remota, diante da falta de credibilidade do Legislativo, que senadores tenham o mínimo de compromisso com a dignidade na administração pública e os interesses do Brasil e ignorem apelos da insanidade governamental e rejeitem essa indesejável e absurda indicação, como forma de mostrar ao presidente da República que o Brasil ainda não se compara à mera republiqueta e que as instituições republicanas precisam ser respeitadas e valorizadas pelas autoridades públicas.
Brasil: apenas o ame!   
Brasília, em 19 de julho de 2019

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