sexta-feira, 12 de julho de 2019

Nepotismo e incompetência


De acordo com a agência de notícia Reuters, já está praticamente definida a indicação de um dos filhos do presidente da República, que ocupa cargo de deputado federal, para assumir a embaixada brasileira em Washington, Estados Unidos da América.
A aludida notícia caiu como uma bomba no Itamaraty, que esperava a indicação de um embaixador experiente e de carreira, que havia sido promovido recentemente ao topo da diplomacia e estava aguardando a sua indicação, justamente para poder ocupar o cargo de suma importância para os interesses do Brasil.
O filho do presidente completou 35 anos, recentemente, cuja idade é a mínima para poder ocupar o principal cargo de embaixada brasileira.
No Itamaraty, diplomatas ouvidos pela Reuters se diziam perplexos e vários ainda questionavam se o presidente brasileiro levaria mesmo adiante a escolha do filho e se o caso não seria enquadrado como nepotismo, à vista do entendimento contido na súmula do Supremo Tribunal Federal, que proíbe a prática na administração pública.
A indicação de pessoas de fora da carreira para ocupar embaixadas não constitui novidade, porque pessoas importantes, estranha à diplomacia, já foram indicadas para ocuparem embaixadas estratégicas para os interesses nacionais, mas, por certo, jamais o presidente da República tinha indo tão longe, quanto à indicação do próprio filho para ocupar embaixada, quanto mais em se tratando da principal diplomacia brasileira, caso que contrária a seriedade e o prestígio que precisam prevalecer no âmbito das relações com as nações, que somente confiam suas embaixadas a pessoas com competência e notórios conhecimentos inerentes à diplomacia internacional.
Não há a menor dúvida de que essa indicação é surpreendente e absolutamente fora de propósito, exatamente porque o indicado é estranho ao Itamaraty e padece dos conhecimentos e das experiências necessários ao exercício da diplomacia internacional e ainda por ter pouquíssima idade, o que só demonstra extrema precipitação da diplomacia brasileira em se aventurar em investimento de altíssimo risco para os interesses do Brasil.
É evidente que se trata de notícia verdadeira, porque a informação partiu do Palácio do Planalto, dando como certa a indicação de um dos filhos do presidente da república para cargo da maior importância da diplomacia brasileira.
Percebe-se, nessa decisão, que o presidente do país se encontra no mundo da lua, em outro planeta em órbita da Terra, em se tratando da  principal embaixada tupiniquim, onde, em princípio, são tratados assuntos e negócios da mais alta relevância para os interesses diplomáticos brasileiros, que exigem, no mínimo, a experiência de diplomata com vastas andanças e conhecimentos na área, justamente para que os assuntos e interesses entre as nações sejam tratados em nível da importância e da responsabilidade que jamais seriam possíveis com a participação de pessoa visivelmente ainda engatinhando, que nem se livrou das fraldas, em se tratando de assuntos diplomáticos.
Não há a menor dúvida de que, se essa indicação se efetivar, será um dos maiores tiros no próprio pé que o presidente dá no seu governo, porque demonstra extrema insensatez, em termos de medida de gestão pública, por colocar pessoa completamente incapaz, inexperiente e fora do contexto diplomático em cargo que exige conhecimentos da área e traquejo suficientes para representar a diplomacia brasileira à altura da grandeza do Brasil, que não merece tamanhas insensatez e irresponsabilidade, em se tratando de assunto do maior interesse nacional.
Além da notória e preocupante perda da qualidade diplomática, ainda tem a forte suspeita sobre a prática de nepotismo, que é prática abominável na administração pública, por ficar mais do que evidente que se refere a indicação indiscutivelmente discutida entre pai e filho, quando envolve assunto precisamente estranho ao seio familiar.
Na verdade, a matéria diz respeito estritamente ao interesse do Brasil, que exige sensatez e critério absolutamente relacionado com os fins de ordem pública, visando à satisfação do interesse público, mas a indicação de filho para o exercício de tamanha magnitude só demonstra extremas irresponsabilidade e insensibilidade administrativas, cuja decisão precisa ser urgentemente avaliada pelos órgãos de controle, para se evitar, enquanto há tempo, a efetividade de loucura sem precedente na história republicana.
Quando se falava em mudanças na gestão pública, era de se esperar que também houvesse um pouco mais de sensibilidade e bom senso com relação aos assuntos de interesse da nação, não se permitindo qualquer prática de insanidade como essa da indicação de pessoa da família do mandatário brasileiro e de notória inexperiência diplomática para o exercício de cargo de expressiva relevância para os interesses nacionais, ainda mais em se tratando do principal posto das embaixadas, para o qual se exigem requisitos que certamente um menino na vida pública não tem como preenchê-los, o que significa decisão absolutamente precipitada e prejudicial aos interesses do Brasil.
É evidente que não se tem elementos para se fazer juízo de valor sobre essa monstruosa decisão presidencial, mas fica muito claro que ele demonstra extremo grau de imperícia e irresponsabilidade em deixar de seguir a cartilha, o manual da normalidade diplomática, eis que a formação de servidores nessa área estratégica de Estado tem como exclusiva finalidade a satisfação desse requisito próprio da carreira, onde seus integrantes são preparados com a exaustiva intenção de servir ao Brasil, da melhor forma possível.
Não se pode permitir que o presidente do país queira satisfazer seu sentimento visivelmente egocêntrico, sob o risco de se contribuir para prejudicar eficiente sistemática da diplomacia brasileira, que vem sendo adotada com sucesso, de longa data, de forma absolutamente satisfatória em benefício dos interesses do Brasil.
Embora se trate de medida visivelmente antiética e fora do contexto da moralidade, certamente que a pior republiqueta evitaria patrociná-la, diante da explícita descaracterização da seriedade com que a administração pública precisa e exige que assim seja tratada, sob a égide do absoluto respeito aos consagrados princípios republicano e democrático, imune a qualquer casuísmo absolutamente desnecessário.  
Convém que o presidente da República reflita melhor essa decisão, para o fim de se evitar que ele mergulhe em aventura extremamente desastrosa e prejudicial não somente à sua debilitada imagem de homem público, mas em especial aos interesses do Brasil, porque a sensatez e o bom senso acenam para a indicação de embaixador de carreira, com comprovada experiência, para ocupar a principal embaixada brasileira, como forma de satisfazer plenamente aos saudáveis princípios da administração pública.      
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 12 de julho de 2019

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