segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Avaliação inoportuna


Ao comentar sobre o resultado da prévia eleitoral na Argentina, para a Presidência da República, em que a oposição, que e da esquerda, venceu com expressiva vantagem o atual presidente, mostrando preocupação ao presidente da República brasileiro, que, imediatamente, disse que “bandidos da esquerda” estão voltando ao poder na Argentina.
Um dos principais executivos brasileiros, que tem grande empresa com negócios consolidados na Argentina se mostrou extremamente preocupado com os desdobramentos do comentário feito pelo presidente brasileiro,  a respeito do resultado das eleições primárias no país vizinho.
Como se sabe, a chapa peronista, tendo como vice-presidente a antecessora do atual presidente venceu o pleito com folga, tendo grande possibilidade de sucedê-lo na Presidência.
O mencionado empresário afirmou que “Não dá para fazer uma afirmação dessas”, tendo lembrado que “Votei no Bolsonaro, estou confiante na agenda de reformas, mas chamar um presidente vizinho de bandido ultrapassa todos os limites.”.
Ele ressaltou, em tom de questionamento: “Como você vai sentar numa mesa de negociações tendo ofendido o sujeito?”.
Com a experiência de empresário e profissional que atua na área de comércio exterior, há 30 anos, ele disse que “As agressões atrapalham o que realmente interessa – as trocas comerciais. Não tem jeito. Se o Fernández vencer, teremos que ser parceiros, e não rivais”.
De longa data, a Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, só perdendo para a China e os Estados Unidos da América, motivo pelo qual não convém qualquer forma de animosidade perante parceiro extremamente importante para as relações comerciais bilaterais, não importando a questão ideológica do governante, porque, ao contrário disso, jamais a China seria um dos maiores compradores de produtos brasileiros.
Não à toa, empresas brasileiras de diversos setores investiram maciçamente na Argentina, que antes era comandada por governo da esquerda e, mesmo assim, os negócios se estabilizaram com a participação de empresários brasileiros.
De qualquer forma, independentemente da ideologia que se possa atribuir ao futuro governo, o presidente brasileiro demonstrou intensa dificuldade para interpretar o real sentido que cabe ao estadista moderno, que precisa compreender que ele não pode dizer tudo o que pensa nem o que ele acha que é certo fora do seu governo, que deva ser aplicado nas nações amigas.
Ao opinar, de forma estapafúrdia, grosseira e inoportuna, violando os elementares princípios sobre a mudança de governo na Argentina, o presidente brasileiro deixou transparente o seu distanciamento aos comezinhos princípios que devem prevalecer nas relações diplomáticas entre países civilizados, quanto ao primado da essência do respeito às regras básicas de não interferência, mesmo por simples opiniões, nos negócios e nos interesses das nações, que são independentes e autônomas, não cabendo qualquer forma de avaliação sobre a sua governança ou sistema de governo.
À toda evidência, o presidente brasileiro perdeu excelente oportunidade para ficar calado, que deveria ter deixado de se manifestar sobre assunto que não diz respeito nem a ele e muito ao governo brasileiro, tendo em vista que a escolha do governante é da livre e soberana vontade do povo de cada país, não sendo de bom tom avaliação que tem o claro sentido de denegrir a imagem do futuro governante e do povo que o escolhe.
Espera-se que a desastrosa e malograda lição em tela seja aprendida pelo presidente da República brasileiro, de modo que, doravante, ele somente se manifeste sobre os assuntos do interesse do governo brasileiro, procurando ficar calado quando o assunto dizer sobre o interesse interno das nações amigas, como forma de preservação das saudáveis relações diplomáticas com elas, porque é exatamente dessa forma inteligente e respeitosa que procedem os mandatários dos países cônscios da sua responsabilidade no concerto das  nações, em atenção aos princípios da diplomacia moderna.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 19 de agosto de 2019

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