quarta-feira, 21 de agosto de 2019

O desbotoamento do terno presidencial


Uma senadora pelo MDB do Mato-Grosso do Sul, que é presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, afirmou que "O Bolsonaro precisa vestir o terno de presidente da República, que ainda não vestiu, e parar de ficar instigando a violência. Sua bíblia, enquanto estiver presidente, tem que ser a Constituição.".  
A mencionada senadora disse,  em tom de espanto, que "Jamais imaginei que pudéssemos chegar onde chegamos", referindo-se ao presidente da República, que o acusou de estar "à beira do limite civilizatório", e de estar "abalando a base social do Brasil, que tem, no seu DNA, o perfil de uma sociedade pacífica e unitária".
Ela demonstrou, em entrevista, indignação, em particular, além da "truculência com o Congresso, a defesa presidencial de um coronel torturador judicialmente condenado, o falecido Brilhante Ustra, recentemente promovido a ‘herói da pátria’.".   
A senadora também considera absurdo o presidente estar defendendo a indicação do filho, que é deputado federal, para ser embaixador nos Estados Unidos da América - se tiver a aprovação do Senado.
Ela entende que "É um risco total do presidente, porque ele sabe que o menino acabou de fazer 35 anos, não conhece o mundo, não conhece geopolítica como um embaixador de carreira, e será muito mais provocado durante a sabatina pela mais alta corte do Parlamento.".
A senadora não quis dar palpite sobre o resultado da votação, mas ela fez questão de lembrar duas evidências facilitadoras para o aval: “a força do governo, que pesa, e o quórum por maioria simples.”.
Ela asseverou que "Eu votarei contra. E estou convencendo mais senadores a fazerem o mesmo.".
Não há a menor dúvida de que o presidente do país se comporta como se fosse mero político de partido, que precisa tomar posição, a todo instante, sobre os assuntos que estejam alinhados com o seu pensamento ideológico, não aceitando, o que seria normal, as críticas contra o seu desempenho ou comportamento à frente do governo, em clara refutação aos princípios democráticos.
O presidente, que tanto criticava o abominável tratamento institucionalizado em governos passados, conhecido como “nós” contra “eles”, reluta em agir diferentemente, por ser permanentemente refratário às críticas oriundas da oposição, que a trata como sendo “petralha” ou algo em insinuação de que ela constitui o que se pode ser chamado de “eles”, em sentido contrário do passado, comportamento esse que não se coaduna como estadista, que precisa centralizar suas atenções para as questões maiores da República.
O presidente precisa compreender que ele é o presidente de todos, que devem ser tratados igualmente como apenas brasileiros, no entendimento de que o governo não é somente para os 56 milhões de brasileiros que o elegeram, mas sim, igualmente, dos vencedores e perdedores, que formam a nação brasileira, sem essa da horripilante e medíocre mentalidade do “nós” contra “eles”, que somente tratou de construir o Brasil dividido e cheio de ódio, de extrema infelicidade, em termos de relações sociais e civilizatórias.
À toda evidência, assiste inteira razão à parlamentar, em especial, em defender que a bíblia do presidente precisa ser a Constituição Federal, que deve servir como balizamento para as suas decisões, que devem se assentar apenas em fortes princípios jurídicos, com embargo das falações indevidas, criticas absolutamente dispensáveis e incursões em assuntos que estão ano-luz da incumbência presidencial, como a se justificar que o mandatário da nação não tem algo de importância para cuidar no seu governo, quando o seu foco se distancia perigosamente das principais causas nacionais, em evidente detrimento da essencialidade do interesse da população.  
          Na atualidade, por mais que o capitão reformado demonstre sua simpatia pelo militar que participou da repressão aos opositores do regime militar, realmente não tem o menor cabimento que o presidente da República tome partido em defesa dele, diante da liturgia do cargo que deve ser de estrito estadista, que precisa pensar em contribuir para a unificação dos brasileiros, eis que o referido militar construiu forte oposição à sua atuação, o que já seria motivo suficiente para que a imagem dele ficasse tão somente no passado bastante tenebroso, que precisa ser esquecido, mesmo que ele possa ser considerado herói, que em nada representa na atualidade, por não fazer o menor sentido o resgate do seu nome, que não unanimidade nacional.
Nas circunstâncias, mesmo que o citado militar possa ter sido considerado algo diferenciado no regime militar, a sua lembrança agora não passa de instrumento muito mais de provocação à oposição e aos brasileiros contrários ao seu questionado legado, fato que o bom senso recomenda que esse assunto jamais deveria ser tratado, principalmente em nível presidencial, notadamente porque isso não faz parte da incumbência do mandatário do país, que precisa cuidar exclusivamente da agenda própria do manual da República.
A senadora se mostra extremamente prudente em citar o risco político de o presidente ter entrado de cabeça nessa aventura da defesa, de forma insistente e insensata, da concessão do presente da principal embaixada brasileira ao seu filho, por constituir forma mais absurda de privilégio na administração pública.
É mais do evidente de que, caso seja efetivada a nomeação em questão, se trata da maior irresponsabilidade político-administrativa que o presidente da República poderá precisar responder perante a sociedade, tanto pela clara afronta ao princípio constitucional da impessoalidade, ex-vi do disposto no artigo 37 da Carta Magna, como pela precipitação da nomeação de pessoa sem a menor qualificação para o desempenho do relevante cargo de embaixador, diante da indiscutível falta de preparo técnico-especializado, em especial.
Em síntese, a análise da senadora sobre a atuação e o desempenho do presidente da República aponto para cenário realmente preocupante, notadamente por ele resistir bravamente a servir de manequim para o terno presidencial que o espera, desde a sua posse, entristecido com por passar pelo melancólico processo do desbotamento precoce.
Na verdade, o mandatário brasileiro não faz a menor cerimônia quanto à sua espontaneidade para tratar de muitos assuntos absolutamente incompatíveis com as suas relevantes atribuições de estadista, que precisa centrar as suas atenções estritamente nas questões pertinentes às matérias diretamente relacionadas com os interesses nacionais, de modo que o conjunto da sua obra tenha por objetivo o desenvolvimento socioeconômico, além da sua contribuição à pacificação e à unificação dos brasileiros em torno do seu governo, que precisa, de forma urgente, se livrar de atitudes desaconselháveis e desarmônicas com a grandeza da Presidência da República.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 21 de agosto de 2019

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