quinta-feira, 2 de setembro de 2021

A virtude do homem público!

 

Em nova convocação para os atos programados para 7 de Setembro, o presidente da República disse que as manifestações para o feriado terão como pauta a "liberdade de expressão e a defesa do voto impresso.”.

Durante entrevista a uma rádio de Goiás, o presidente do país fez ainda novas críticas a ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral.

O presidente brasileiro disse que "Essa (manifestação) agora, a grande pauta vai ser a liberdade de expressão. Não pode uma pessoa do STF e uma do TSE se arvorarem agora como as donas do mundo e que tudo decidem no tocante a esse ponto, liberdade de expressão".

Como foi mostrado por um jornal de grande circulação, as convocações dos apoiadores do presidente do país, para os referidos atos, substituíram palavras de ordem com mensagens anticonstitucionais e autoritárias por termos que tentam dá envernizada com viés democrático às manifestações, mobilizadas a partir da retórica golpista que tem o respaldo do mandatário, cujas consequências prejudiciais aos interesses do Brasil devem ser atribuídas exclusivamente a ele, que, se tivesse um pouco de sensibilidade político-administrativa jamais entraria nessa canoa que certamente tem todos os ingredientes para afundar, em plena primavera, com ele no leme e toda legião de apoiadores, igualmente insensatos, diante de situação da maior gravidade, mas todos parecem entorpecidos, incapazes do iceberg que se aproxima.  

A mudança de tom, ao que tudo indica, para tentar afastar o forte sentido de golpismo, parece que denota medo por parte do presidente de vir a ser responsabilizado pelas desgraças que podem advir com tanta gente junta, com a expectativa de mais de dois milhões de pessoas, embora há quem fale em três milhões, não tendo, à toda evidência, onde colocar e caber sequer dez mil pessoas, em espaço tão reduzido e ainda mais com a certeza de implicações de segurança e saúde públicas, em caso de o caldo entornar com a enorme conglomerações de pessoas.

Somente cabeça oca, completamente vazia e sem o mínimo de sensatez e responsabilidade, embarcaria em movimento dessa magnitude, que tem tudo perfeito para se causar gigantescos transtornos e tragédia, conquanto alguém precisa ter bastantes dignidade e honradez para assumir as consequências e a culpa por tudo de ruim que poderá acontecer por força da estrondosa aglomeração de milhares de pessoas, em plena pandemia, sob o gravíssimo risco de contaminações durante o ato, porque é minimamente impossível se manter controle sobre muita gente junta em um só lugar diminuto.

Não há a menor dúvida de que os estabanados protestos marcados para o Dia da Independência representam mais um degradante e irresponsável passo dado na escalada da crise institucional instituída e cevada pelo insensato presidente do país, que, de maneira absolutamente ingênua, busca dar demonstração de força aos seus desafetos, não importando as gravíssimas consequências, em meio a sinais que apontam para o risco de tentativa de ruptura institucional e isso é caminho que não tem volta e pode ser simplesmente o começo do fim melancólico do político com ideias extremamente estapafúrdias e decrépitas, a ponto de se tentar reunir mais de dois milhões de pessoas onde não cabe nem dez mil.

As ideias do presidente do país, nesse caso específico, são tão infantis que ele fica remoendo fatos que não tem nada com o Executivo, na tentativa de justificar o injustificável, quando ele ainda faz referência às prisões, por ordem do Supremo, de um deputado e do presidente do PTB, que esculhambaram e desmoralizaram a dignidade de autoridades da corte e foram presos com o devido enquadramento legal, ante a infração à legislação penal, que prevê prisão nos casos demandados por eles, que precisam assumir seus atos, depois dos estragos por eles protagonizados.

Vejam que o presidente do país chegou a declarar que "Não podemos admitir um deputado federal preso, não interessa o que ele falou, bem como jornalista preso e presidente de partido preso também. Não justifica isso daí", como se eles não tivessem feito absolutamente nada, quando muitos juristas afirmaram que existem sim motivos jurídicos suficientes para as prisões. Como que “não interessa o que ele falou” e “Não justifica isso”, como se no país não tivesse leis, as pessoas pudessem se posicionar acima das normas jurídicas, sem nenhuma obrigatoriedade de respeito os direitos humanos e ainda cont5aqr com o beneplácito logo da maior autoridade do país?

Pensamento atrofiado como esse pode levar ao prejudicial retrocesso dos povos das cavernas, diante da banalização do desrespeito às normas de civilidade que o próprio homem se esforçou tanto para alcançá-la para o relacionamento social comparável e compatível ao desenvolvimento da humanidade, que é considerado importante avanço para as nações sérias, evoluídas e civilizadas, em termos político-democráticos.           

Em outro momento, o presidente do país reforçou o chamamento para as manifestações, ao afirmar que a "nossa liberdade está sendo ameaçada novamente", fato este que não é verdade, porque, a bem da honestidade, à luz dos fatos, as decisões proferidas, em forma sanção àquelas duas pessoas, somente atingem as pessoas que desrespeitaram a dignidade funcional de ministros do Supremo, em evidente extrapolação dos limites de civilidade permitidos para todos os brasileiros, que não têm direito algum de denegrir com palavras duras, duras e desrespeitosas, a imagem das pessoas investidas em relevantes cargos da República.

Impende se afirmar que nenhuma ação demandada pelo Supremo causou dano às pessoas senão aquelas que ultrapassaram os limites da racionalidade e da cidadania, abusando, de maneira proposital e deliberada, do emprego de palavras agressivas e degradantes ao ser humano, o que é fato que todo cidadão digno e honrado precisa repudiar, inclusive o presidente do país, porque ele é o primeiro cidadão que precisa dar bons exemplos de civilidade, mas o faz exatamente em sentido contrário, quando defende agressores e infratores da lei, com a impunidade, o que evidencia o seu nível de insensibilidade e responsabilidade pública às questões de moralidade e de respeito aos direitos humanos, que são princípios que precisam ser valorizados pelas autoridades públicas.     

O presidente do país disse ainda que o "Dia 7 (de setembro) é uma data marcante para todos nós. É a nossa independência que está completando 199 anos. Agora, a nossa liberdade está sendo ameaça novamente por parte de um ou dois aqui de Brasília. Nós não podemos nos submeter a um ou dois. Isso não é uma ditadura".

Nesse ponto, é preciso ficar muito claro que não é verdade sobre a existência de ameaça de natureza alguma, exclusivamente diante da realidade dos fato, posto que não houve decisão alguma sem a devida contrapartida da agressão por parte de transgressores, que demonstraram não ser anjinhos senão para os seus defensores que gostariam de fazer igualzinho o que eles fizeram, tanto assim é que os defendem, sem o menor pudor, de maneira absolutamente irracional, quando é do seu dever institucional agir em contrário, para o bem e a dignidade do ser humano, que precisa se relacionar estritamente em respeito às salutares regras de civilidade.

A bem da verdade, as decisões do Supremo tiveram por base as provocações de apoiadores do presidente, que comete crime de responsabilidade em tomar partido em demanda sem vinculação alguma com o Estado, ou seja, em nome da dignidade do exercício de presidente do país o titular do cargo somente pode fazer defesa de ato que tenha o envolvimento do interesse público e jamais brigar por causa de particulares, que é o caso, mas a insensibilidade política permite que autoridade desse quilate fique se expondo indevidamente ao ridículo, como é o caso da interferência em assunto de esfera estranha ao Estado, em clara evidência de que ele apenas perde tempo em se preocupar com matéria que não diz respeito às suas funções presidenciais.

Desde que o mundo é como se apresenta, uma das virtudes da autoridade pública é a de ser fiel aos princípios da verdade e da honestidade, mesmo que, para isso, ela possa ser prejudicada nos seus planos políticos, uma vez que o interesse público tem prevalência sobre todas as causas e todos aqueles que militam como representantes do povo devem ser eternamente escravos das mencionadas condutas, que são fundamentais na vida pública.

          Brasília, em 27 de agosto de 2021

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