Diante
dos últimos acontecimentos nos meandros da política brasileira, o Centrão decidiu
que o seu desembarque do governo é favas contadas, ficando em suspenso apenas quando
isso vai finalmente acontecer.
O
Centrão entendeu, por questão de cautela, ser necessário medir a temperatura política,
no dia a dia, porque ele disse que não acredita que o presidente da República
consiga abandonar o perigoso discurso de ataques e agressões aos outros poderes
da República.
Segundo
importantes e seguras fontes, o plano de saída do governo chegou a ser
acelerado depois do acirramento da briga entre o presidente do país e o Supremo
Tribunal Federal, com os discursos dele no dia 7 de setembro.
Logo
no dia seguinte às manifestações, o presidente da Câmara dos Deputados e o
ministro da Casa Civil da Presidência da República, principais líderes do Centrão,
foram ao Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente do país, levando
recado bem claro de alerta de que o limite de tolerância foi atingido com os
discursos carregados de agressão ao Supremo, além de avisarem que nada mais poderia
ser feito pelo governo se não houvesse esforço para a reconciliação republicana,
em especial, no sentido da cessação do ambiente hostil contra aquela corte.
Em
razão disso, o presidente, percebendo a importância do aludido alerta, preferiu
cair na real e procurar pacificar as relações com o Supremo, no sentido de que
ele somente teria a alternativa de arrefecer os ânimos.
Para
a necessária calmaria providencial, o presidente do país contou com a ajuda do seu
antecessor no cargo, que cuidou de encontrar saída honrosa e heroica para amainar
injustificável irritação presidencial, tendo sido o suficiente para possibilitar
o adiamento do desembarque do Centrão do governo, que correu sério risco de
perder o protetor presidencial no Congresso contra a abertura de processo de
impeachment e praticamente seria o fim político do até então “todo-poderoso”
presidente, que entendia que não teria limites para espinafrar ministros do
Supremo, ficar impune e continuar com as rédeas soltas, abusando de suas
indevidas e injustas agressões.
Se
ainda não houve o pior para o presidente do país, porque o Centrão é sua base
segura de sustentação no cargo, isso poderá mudar caso ele tenha recaída e
volte às inadmissíveis agressões e críticas que terminam prejudicando o seu
governo, porque, quanto mais ataques inúteis e inconsequentes, a situação só se
complicava com o acirramento das relações com o Supremo e também com o
Congresso.
A
visão que ficou, para o bloco político, segundo entendidos diretos do assunto,
é a de que, seguramente, a saída do Centrão do governo é apenas questão de
tempo, evidentemente em razão muito mais do comportamento e do desempenho do
presidente, que também agora precisa se ajustar às exigências ditadas por
congressistas, sob pena de ser abandonado por quem ainda vem garantindo a sua
permanência no cargo.
A
propósito desse tema, o presidente do Senado Federal, que também faz parte do
Centrão, ao comentar a “Declaração à Nação”, assinada pelo presidente do país, exatamente
com o objetivo da ansiada pacificação entre os poderes da República, afirmou
que "Guardo muita expectativa e confiança de que ela se perpetue como
uma tônica entre as relações dos poderes a partir de agora, porque isso é
fundamental para o país. Não há caminho, não há reforma, não há lei que
possa salvar o Brasil sem o ambiente de união".
A
verdade é que somente restou ao presidente do país o caminho a indicar que, sem
o relacionamento civilizado, exigido no mundo moderno e evoluído, tendo como
primazia a estrita observância aos sadios princípios do respeito mútuo, da tolerância,
do diálogo e da convergência, entre outros que são essenciais na administração pública,
ele poderá ter enorme dificuldade para continuar governando, à vista da saída
do Centrão, a quem ele se tornou refém, por absoluta conveniência pessoal,
porque esse grupo político é a garantia da blindagem que o presidente precisa
no Congresso, para se evitar a abertura de processo de impeachment contra ele.
Ou
seja, o cargo do presidente da República tem o mesmo valor da permanência do
Centrão no governo, à vista do fato de que o distrato do acordo vigente
certamente implicará na abertura do processo de impeachment, quando se sabe
sobre a existência de mais de 130 pedidos nesse sentido, que estão devidamente
engavetados na Câmara dos Deputados, por força do vergonhoso pacto celebrado
entre o mandatário e aquele famigerado grupo, precisamente com o propósito de
não haver essa possibilidade.
Não
há a menor dúvida de que a vida política do presidente do país se encontra em verdadeira
corta bamba, em que ele precisa se equilibrar sobre os atentos olhos do Centrão,
porque qualquer deslize do alto do seu tênue comportamento ético funcional,
poderá pôr tudo a perder e parece que ele tem consciência do perigo, tanto é
que foi obrigado a assinar a citada “Declaração à Nação”, visivelmente a
contragosto, porque a sua intenção mesmo era mexer com a estrutura do Supremo, para
dar satisfação ao povo, à vista do seu anúncio sobre a reunião do Conselho da República,
por onde se justificaria a decretação do Estado de Sítio, que possibilitava a
derramada golpista.
Agora,
parece paradoxal que o presidente do país, cercado de assessores militares,
generais, em princípio, altamente qualificados, preparados e conhecedores das
melhores estratégias de políticas públicas, não tenha sido severa e
cautelarmente alertado sobre o perigo que corria com o seu acalento de decretar
medidas de exceção, como ele deixou isso muito cristalino nos discursos de 7 de
setembro.
Não
obstante, na iminência da implosão da gravíssima crise institucional, eis que
surge o salvador da pátria, que foi, nada mais, nada menos, o Centrão, que
disse ao presidente do país que estaria fora do governo, no caso da mudança de
rumo da regularidade democrática.
Essa
interferência, considerada salvadora, foi muito importante e o suficiente para o
presidente do país cair na real e imediatamente passar a pensar como gente
ajuizada, tendo abortado seu tresloucado projeto golpista e resolvido mudar a
história republicana brasileira, no sentido de agir como verdadeiro estadista e
se conscientizar sobre a necessidade de respeitar a integridade das instituições
constituídas e se comportar em harmonia com a normalidade própria do seu relevante
cargo, conforme mostram os fatos.
É
importante que, nesse episódio, se aplauda a inteligente e democrática participação
do Centrão, por ter evitado o que teria sido tragédia nacional, mas isso não
tem o condão de compensar a sua péssima fama de fisiologista e aproveitador de recursos
públicos, quanto mais se sabendo que o questionável e vergonhoso acordo com o
governo se mantém em plena validade, ou seja, ele ainda continua blindando o
presidente do país no Congresso, em troca de cargos e emendas parlamentares, em
sintonia com o deprimente sistema conhecido como o “toma lá, dá cá”.
Enfim,
a esperança dos brasileiros se renova, no sentido de que o alerta dado, em boa
hora, pelo deplorável Centrão sirva de importante lição democrática e civilizatória,
no sentido de que o presidente da República passe a raciocinar como verdadeiro
estadista, no sentido de respeitar a integridade constitucional da autonomia e da
independência dos poderes da República e de centrar as suas atenções exclusivamente
no desempenho das atividades inerentes às suas funções presidenciais, tendo o
cuidado de respeitar os princípios essenciais da democracia e da República.
Brasília,
em 19 de setembro de 2021
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