sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Lutar por liberdade?

        Vem circulando, nas redes sociais, vídeo com mensagem protagonizada por dois irmãos ligados ao presidente da República, tendo como apelo a mobilização contra a pseuda falta de liberdade.

O texto da mensagem é muito claro e extremamente assombrador, dando a ideia de que os brasileiros se encontram na iminência da beira do abismo, próximo da perda da sua liberdade, caso não participem do movimento comparável à salvação nacional.

Eis a “célebre” mensagem, in verbis:Até onde vai a sua liberdade? Vai até onde você lutar por ela. Não espere acabar. Lute antes disso. Não espere você ter que se agarrar na fuselagem de um avião, para lutar por sua liberdade. Não espere ter que atravessar a fronteira do Brasil, a pé, e sua família se perder no caminho ou mendigar um prato de comida. Depois que você tiver saído, é muito difícil, quase impossível. O momento de lutar é agora e junto (...).”.

Ressalte-se que um dos protagonistas dessa mensagem surrealista foi ex-ministro que espinafrou os ministros do Supremo Tribunal Federal, tendo proposto a prisão deles, mas terminou deixando o governo e fugiu do Brasil, pelas portas do fundo, indo para os Estados Unidos da América, onde se encontra.

Como se vê, o apelo dramático que se procura expor nessa tresloucada e irresponsável mensagem é como se os brasileiros, todos, estivessem por um fio de perder a liberdade, sendo trucidados por repressão e impedidos do exercício dos direitos de individualidade, sendo necessário que todos sejam obrigados a lutar, desesperadamente, para se evitar que todos precisem se agarrar na fuselagem de avião, mesmo diante da existência de tantas aeronaves para a imediata da acomodação de mais de 200 milhões de pessoas, que seriam obrigadas, todas, ou ainda sob a condição de que, todas, indistintamente, seriam obrigadas a atravessar a fronteira brasileira, deixando o Brasil sem ninguém, porque, no dizer da mensagem, as famílias vão se perder no caminho, podendo ainda acontecer enorme desgraça da mendigagem do prato de comida.

Ou seja, a dramaticidade da mensagem é absolutamente admirável, o que mostra que a intelectualidade brasileira consegue se ridicularizar ao máximo, por força do sentimento à ideologia, não tendo o menor pudor nem critério de racionalidade para a defesa de suas ideias absurdas e malucas, como nesse caso, em que as duas pessoas se apresentam para o protagonismo de lamentável apelo sobre fatos absolutamente inexistentes.

É muito mais deprimente e deplorável ainda se perceber que ainda há quem dá crédito a algo sem a menor plausibilidade, notadamente porque a liberdade dos brasileiros nunca esteve tão escancarada, na atualidade, salvo se alguém esteja cerceado de exercê-la, sem o conhecimento da sociedade, que é alvo direto do seu salutar usufruto.    

Ou seja, como é que duas pessoas se submetem ao ridículo de fazerem vídeo somente para difundirem terrorismo no seio da sociedade, sob pretextos mais deprimentes que se pode imaginar, em especial porque não há absolutamente nada para justificar tamanhas aberração e palhaçada, senão para amedrontar ainda mais alguns imbecis fanáticos que aderiram a essa onda de se enxergar fantasmas em cada canto do país, ou mais precisamente em Brasília, possivelmente na Praça dos Três Poderes.

Esses intelectuais de mentes atrofiadas e os brasileiros insensíveis e fanatizados, certamente cegos pela ideologia, precisam se despertar, com urgência, dessa terrível letargia, para o sentir da exata e precisa liberdade, que pulula livremente, permitindo que as pessoas se expressem à vontade e exerçam abundantemente seus direitos de cidadania, evidentemente procurando respeitar, em reciprocidade, os direitos do seu próximo, na forma soberanamente prevista nas leis do Brasil.

Na verdade, a precisa defesa da liberdade, para a maioria dos brasileiros, diz muito mais pelo direito em ter comida no seu prato, sem essa tragicômica ideia de precisar se lutar por liberdade, porque ela já existe em abundância, mas não para aqueles que agridem fortemente os direitos humanos, com atitudes que ferem a dignidade das pessoas, cujos atos são considerados ofensivos e graves, como não poderia ser diferente em país sério e civilizado, tanto à cidadania como à legislação, sendo que existe precisamente para a proteção não só das autoridades, mas de forma isonômica para os brasileiros, que tiverem a sua honra agredida indevidamente, em especial por decorrência de ideologia doentia e prejudicial à sociedade.

Não há a menor dúvida de que compete ao homem lutar, com todas as forças, para a defesa da sua liberdade, porque a vida somente faz sentido ao ser humano se houver o livre pensamento e a amplidão das suas individualidades, à vista do tanto que já foi conquistado em termos do desenvolvimento da humanidade, que tem pago preço altíssimo para se viver plenamente livre, tudo no melhor das liberdades.

Agora, não se justifica fantasioso apelo para se lutar por causa absolutamente inexistente, como o que acontece neste exato momento, em que meia dúzia de brasileiros insensatos e irresponsáveis acham que tem direito de agredirem quem bem entendem e ainda se passarem de vítima do sistema, diante de justas e merecidas sanções, que são aplicadas no estrito rigor da lei, em respeito à necessidade justamente da preservação dos princípios que garantem a integridade das liberdades dos cidadãos, no sentido de que todos são iguais perante a lei, em direitos e obrigações, segundo reza a mãe jurídica das leis, no caso, a Constituição Federal.

Então, se na verdade nada existe em contrariedade à liberdade, por que razão pessoas insensatas ficam atacando algo inexistente, sem a mínima consistência ou justificativa para tanto, contra as decisões do Supremo, que foram adotadas em consequência de agressões e grosserias criminosas com insultos à honra de ministros, quando tudo se harmoniza com o previsto em lei, como forma justamente da preservação do direito de liberdade, que condiz com o respeito mútuo à dignidade humana?

Não é bom para a segurança jurídica, diante da defesa por autoridades de República que ficam condenando as decisões destinadas a se evitar a generalização e a banalização de agressões e abusos contra autoridades públicas, porque elas têm o dever de agir em contrário, no sentido de condenar a incitação às práticas de crimes, porque ofensivas à imagem de autoridades públicas, por meio de calúnia, difamação e danos morais, que são especificados em leis penais, por haver nisso ofensa à dignidade e à honra, em função não somente dos cargos por elas ocupados, mas também sob o aspecto do sentimento humano, que é princípio que exige respeito, em reciprocidade.

Agora, não faz o menor sentido que os desaforados apoiadores do presidente, que extrapolam seus direitos de cidadania e ignoram a obrigação de respeitar os direitos dos outros, como se eles estivessem acima da lei, possam se considerar inocentes e vítimas, em forma de perseguição.

Não se conhece, até o momento, um caso sequer que tenha sido tratado fora da curva, onde não tenha havido qualquer violação da lei, em termos de agressividade difamatória da honra, e mesmo assim a pessoa tenha ficado impedida da liberdade, em todas as suas formas legais, fato este que simplesmente não faz sentido a incitação à luta sem causa.

Fala-se tanto em falta de liberdade que o assunto já se transformou em verdadeira paranoia e o pior é que esse assombro vem sendo disseminado exatamente por pessoas que se imaginam inteligentes e racionais, embora elas têm o dever de compreender perfeitamente os verdadeiros sentido e importância do conjunto das liberdades, que têm serventia somente para a construção do bem.

Pois bem, não se tem conhecimento, como dito acima, de que alguma pessoa normal tenha perdido o direito à liberdade, no caso que esteja cumprindo religiosamente as suas obrigações cívicas, respeitando as regras básicas de cidadania e que prime pelo rito saudável do respeito aos princípios  da dignidade do ser humano, inclusive com relação, em especial, à liberdade de expressão.

Diante disso, causa espanto o apelo por alguma forma de luta, cujo sentido dela precisa ser melhor explicado por quem de direito para a sociedade, diante do fato de que, mesmo que toda população fosse para as ruas, de uma vez só, o presidente da República não tem competência constitucional para fazer absolutamente nada, no sentido de destituir dos cargos os ministros do Supremo, salvo sob o emprego de golpe que a sociedade abomina e desaprova, à vista do evidente ferimento às regras constitucionais.

É sabido que liberdade de expressão existe precisamente para facilitar o exercício inerente à elevação da cidadania e da civilidade, em ambiente onde as pessoas precisam conhecer os limites do término de seus direitos, que é exatamente quando, a partir de então, começa os direitos dos outros, não podendo haver extrapolação do sinal imaginário do término e do começo do direito das pessoas, o que vale dizer com essa simples regra que o princípio de que trata a liberdade de expressão não pode servir para respaldar os atrevimentos propalados contra ninguém, muito menos às autoridades que têm a incumbência de zelar pela aplicação das leis do país.

Diante do exposto, não se pode concordar com movimentos de incitação à desconstrução do poder de autoridades da República que tentam agir contra violadores dos princípios que existem exatamente para a proteção do direito da expressão livre e em sintonia com os bons costumes e as salutares condutas inerentes ao respeito aos direitos individuais, na melhor forma de evolução que se pretende para a humanidade, que precisa viver sob a égide da harmonia e da tolerância.                           

          Brasília, em 3 de setembro de 2021

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