O certo mesmo é que o presidente do país vem sendo bastante criticado por
seus apoiadores, em razão do seu recuo aos ataques, agressões e ameaças, em
seguida aos movimentos que reuniram milhares de pessoas, nas comemorações do 7
de Setembro, em São Paulo e Brasília, onde ele discursou em tom elevado da
temperatura contra ministros do Supremo.
O presidente do país, demonstrando desconforto entre os admiradores,
disse que “A bolsa subiu e o dólar foi lá para baixo. Cada um fala o que
quiser. O cara não lê a nota e reclama. Leia a nota, é bem curtinha, são 10
pequenos itens. Entenda, a gente vai acertando. O acúmulo de lixo, de
problemas, é 30, 40 anos. A gente está ganhando, a gente está ganhando”.
Nesse episódio, o presidente brasileiro mostrou a que ponto chegou a sua
competência, por necessitar que carta lida à nação precisasse ser escrita pelo seu
antecessor no cargo, depois de apelo feito a ele, para lidar com a crise
provocada pelos atos do 7 de Setembro, que se avolumava, em especial, ao meio
de conversas de bastidores, com propostas concretas sobre a enorme possibilidade
de impeachment dele.
Em que pese não constar pedido de desculpas pelos ataques e agressões, o
presidente do país acaba elogiando o ministro do Supremo, seu principal alvo nos
últimos tempos, tendo dito que não teve intenção de atacar instituições, embora
não tenha nada de verdade nessa afirmação, porque ele sempre muito direto e
claro com a finalidade de atingir a honra e moralidade de seus desafetos,
conforme mostram os fatos.
Como era de se esperar, a repercussão do recuo estratégico do presidente
do país teve enorme aceitação tanto no meio político como no âmbito do Supremo,
tendo gerado declarações de otimismo contido junto com cautela e ceticismo.
Isso se pode dizer, porque foi percebido, que a mudança do presidente do
país teve reflexo e repercutiu muito bem no mercado financeiro, que teve elevação
da Bolsa de Valores e queda do dólar.
Diferentemente aconteceu no meio dos seguidores do presidente do país,
quando muitas pessoas demonstraram decepção e desencanto, em especial entre aqueles
mais radicais, que defendiam o imediato impeachment de ministros do Supremo e
até intervenção militar, para a reorganização da administração do país.
Muitos bolsonaristas alegam que a decepção foi por terem saído para as
ruas, com risco de saúde, e isso não ter resultado em absolutamente nada,
frustrando as suas expectativas quanto à adoção de algumas medidas que eles
chamam de moralizadoras, sendo que muitas pessoas foram às redes sociais cobrar
explicações do presidente brasileiro.
No contexto ainda cheio de perplexidade, o presidente do país afirmou, a
propósito do comparecimento do povo às ruas, que “Foi excepcional o trabalho
de vocês. O retrato está no mundo todo e aqui também em Brasília. Alguns querem
imediatismo. Se você namorar e casar em uma semana vai dar errado teu casamento”.
O presidente do país precisa esclarecer, em dois sentidos, para a nação a
sua afirmação emblemática, segundo a qual, querendo justificar as críticas ao
seu recuo político, é dito que “a gente está ganhando”, diante da necessidade
de se dá transparência aos seus atos na vida pública.
Em primeiro lugar, entende-se claramente que, ao dizer que a gente está
ganhando, deixa explícito que o presidente defende sectários, membros de seita
liderada por ele, que, como mandatário do país, isso não pode existir no regime
republicano, em que, necessariamente, há vedação constitucional, para somente se
haver a possiblidade da afirmação de que os brasileiros estão ganhando.
Ou seja, fica evidente que o presidente se refere ao saldo da luta entre
“nós contra eles” e “a gente está ganhando” e isso é desastroso, em
termos do sentido de unidade nacional, onde o governante somente visa à
satisfação do bem comum de todos os brasileiros e jamais de partes deles,
repita-se, por se tratar de regime republicano de governo.
Por outro lado, o presidente do país tem o dever constitucional de
esclarecer o que realmente está se “ganhando”, porque isso pode significar que
a outra parte, evidentemente que não faz do grupo de “a gente”, deve
estar perdendo e isso destoa do sentimento de unicidade que se pretende para a
gestão pública, cujo governo democrático precisa ser absolutamente apartidário,
tendo a obrigação de acolher a todos e trabalhar igualmente para todos,
independentemente de ideologias políticas.
Por seu turno, em vídeo que circula nas redes sociais, um ministro do
governo procura tranquilizar os bolsonaristas que ficaram irritados com o recuo
estratégico do presidente do país, ao “beijar” a mão do ministro do Supremo, depois
de humilhá-lo em público, no maior vexame da história republicana, ao reafirmar
que o mandatário brasileiro é extremamente democrático e jamais pensou em golpe,
como muitas pessoas ficaram insinuando.
Com base nessa declaração
completamente desconectada da realidade, à vista dos fatos produzidos à saciedade
pelo presidente do país, se compreende perfeitamente a falta de sinceridade de muitos
políticos, que procuraram distorcer a verdade por interesses e conveniências.
No caso em comento, é
sabido que tudo já estava mais do que delineado para a adoção de alguma medida
golpista, que não foi efetivada por falta de apoio mínimo por parte dos correligionários
que seriam partícipes diretos nesse processo de exceção, a exemplo dos
presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, que disseram ao
presidente do país que não contassem com eles, fato este que inviabilizou as
manobras golpistas.
O presidente do país fez o maior
esforço para reunir o povo, em Brasília e São Paulo, dizendo que faria o que ele
decidisse e quisesse, ou seja, estava disposto a realizar a vontade do povo,
que socorreu ao apelo do mandatário, tendo sido bastante clara a sua vontade,
no sentido, em especial, do afastamento dos ministros do Supremo.
O presidente do país entendeu
com bastante nitidez o recado popular, tendo afirmado para a multidão, em
Brasília, que ia reunir, no dia seguinte, o Conselho da República, órgão que
tem competência para aconselhar o presidente do país a adotar o Estado de
Sítio, a par de esculachar, no mesmo evento, com palavras duras, um ministro da
corte e que sequer respeitaria mais decisões proferidas por ele, entre outras
demonstrações de que ele estava decidido a ir às últimas consequências,
inclusive para satisfazer a vontade do povo, com vistas ao arranjo do “jeitinho”
brasileiro para mandar para casa os ministros do Supremo, que terminou sendo o
principal alvo da reunião do povo nas ruas.
Depois de a temperatura
ter atingido o limite de superação, inclusive com ameaça, mais visível, de
impeachment do presidente do país, depois e em razão dos movimentos de rua, o
presidente do país resolve se transformar em verdadeiro cordeirinho, em relação
aos duros ataques aos ministros do Supremo, deixando para trás todo aquele
sentimento de empáfia e prepotência demonstrado no Dia da Independência, sem
ter a mínima consideração para esclarecer perante o povo a sua a brusca e
surpreendente decisão, que levou seu apoio ao presidente, de corpo presente, e
ele sentiu o peso do enorme carinho popular.
Não é que o presidente brasileiro
esteja errado em mudar de pensamento político para melhor, não, porque isso é
próprio dos verdadeiros estadistas, em reconhecer não somente erros do desempenho
no cargo, mas também de enxergar a real e urgente necessidade de se promover o aperfeiçoamento
da sua gestão, com vistas ao atingimento de melhores resultados em benefício
dos brasileiros.
O presidente da
República pode ter feito, agora, o que já deveria ter realizado desde o início
do seu governo, procurando cumprir rigorosamente a literatura das funções
constitucionais inerentes ao cargo para o qual ele foi eleito, com o devido respeito
institucional às autoridades da República, provendo os recursos às decisões judiciais
e tudo o mais procedendo em harmonia com os princípios constitucional e
democrático, em exata e precisa observância à salutar liturgia do seu dever constitucional.
Enfim, o mínimo que o
povo merece é respeito e que o governo diga sempre a verdade, não por meio de
emocionantes defesas e justificativas em forma emblemática, que não condiz com o
que aconteceu, por exemplo, na Explanada dos Ministérios, quando a conversa do
presidente foi outra bem diferente dos acontecimentos posteriores, que carecem
sim de absoluta transparência, porque o governo que se diz democrático deve
primar pela clareza de seus atos.
Brasília, em 11 de setembro de 2021
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