Os termos da carta garantem que os brasileiros “Estamos ao seu lado e
queremos ver você a frente desta grande transformação, pois há muito esta nação
não confia em uma pessoa como nós hoje confiamos. Já estamos em guerra, antes
velada, hoje escancarada e no momento estagnado com ambos os lados esperando
pela próxima jogada para seu contra-ataque. (...) Iremos ter novamente
as rédeas da nação. Somos soberanos e queremos isso, não tenha mais dúvidas ‘FAÇA
O QUE TEM QUE SER FEITO.’. Estamos ao seu lado e dispostos a lutar esta luta
por um país próspero, justo, livre, onde novamente os criminosos sejam tratados
como devem ser tratados, ondem nossos filhos tenham uma educação decente e que
façam ser homens e mulheres de bem e com a grande oportunidade de serem
prósperos no futuro. Sem ideologias, mas sim sabendo respeitar e serem
respeitados pelas suas diferenças e terem amor a sua família aos próximos e
amor a este país. Estamos ao seu lado e vamos à luta com você, acredite em seu
povo, pois seu povo já mostrou em 7 de setembro que acredita em você.”.
Infelizmente, os brasileiros
não passam de eternos iludidos e ingênuos nos seus patrióticos propósitos,
sempre sustentados em lindos argumentos, tendo por base especialmente a vontade
que o presidente do país se torne verdadeiro herói nacional, no sentido de
consertar, da noite para o dia, as mazelas que grassam no Brasil e infernizam a
vida da população, cada vez mais carente da prestação de serviços públicos de
qualidade.
O presidente brasileiro deixou
muito claro, nesse fatídico episódio de 7 de setembro, que ele somente enxerga
seus projetos políticos, tendo agora declarado que será candidato à reeleição,
embora ainda nem sequer se apoderou do trono destinado à chefia do Executivo,
para o qual foi eleito pela vontade soberana do povo, que não perde a esperança
de que ele resolva cair na real e descubra, finalmente, que não é mais
candidato, mas sim o verdadeiro presidente do Brasil e, já nessas condições,
precisa trabalhar com o propósito de cuidar exclusivamente da defesa dos interesses
dos brasileiros.
Pois bem, todos se lembram de que
o presidente do país implorou, com veemência, pelo apoio do povo e pediu que
isso fosse demonstrado nas ruas, sob a promessa de que ele faria o que o povo
quisesse, ou seja, realmente ele disse, ao que parece, da boca para fora: “Eu
faço o que o povo quiser”.
Conforme pretendido pelo
presidente do país, deu tudo certinho, nos exatos termos da vontade
presidencial e o povo ainda teve o cuidado de dizer, muito bem-dito e em bom e
claro português, o que realmente queria que ele fizesse.
A vontade do povo foi precisamente a de que o
presidente do país cuidasse, evidentemente aos costumes não constitucionais, da
vida de alguns ministros do Supremo, que vinham perturbando alguns “patriotas”
seguidores do presidente do país com violentas repressões, inclusive prisões, apenas
porque eles agrediam com palavrões, ameaças de morte e outras agressões nada
republicanas, com a evidência de ambiente nada civilizado, que tinham os apoio
e incentivo do mandatário da nação, que eram indevidos, em se tratando de querelas
estranhas ao interesse do Estado.
Pois bem, o recado do povo não
poderia ter sido mais cristalino, tendo o presidente o entendido direitinho e,
em razão disso, logo anunciou em discurso, de corpo presente em palanque, que
iria reunir, no dia seguinte ao Sete de Setembro, o colendo Conselho da
República, certamente para tratar e discutir das medidas a serem imediatamente aprovadas
por ele, sob o entendimento de que elas seriam realmente relevantes e na forma
exata dos anseios do povo, porque se não fossem assim, não se falaria nessa
hipótese, por não haver necessidade delas.
Embora com todas as ideias
miraculosas já maquinadas na cabeça, acontece que o engenhoso presidente brasileiro
se esqueceu de acertar previamente com os "russos" e isso foi o
suficiente para levar a vaca literalmente para o brejo, em muito pouco tempo, com
consequente e completo esquecimento do tal conselho, porque a reunião dele não
contou com o menor apoio político que viria do Congresso, para o que se
pretendia fazer sem antes combinar com ninguém.
Além desse forte revés, o presidente
do país recebeu, no mesmo dia, severo e claro alerta sobre o seu possível
afastamento do cargo, por meio do devido processo legal do impeachment, à vista
da truculência com que ele havia se referido ao Supremo e, em especial, a um
ministro, que foi chamado, em via pública, de “canalha”, tendo ainda a promessa
do mandatário de que não mais cumpriria decisão proferida por ele, fatos estes
que simplesmente caracterizariam crime de responsabilidade, diante de tão grave
agressão à instituição republicana e a integrante dela.
O certo é que o amor ao cargo
presidencial falou muito, muito mais alto do que aquela vontade inicial de
atendimento do anseio do povo, que teve a cara de promessa enganosa, que agora
precisa servir apenas como aprendizagem da política, como importante lição de que
não se pode confiar piamente no que alguns homens públicos dizem e prometem,
muito menos em palanque, como visto nesse decepcionante episódio.
Acontece que, como evidenciado no
resumo da ópera, o presidente do país, para o próprio bem, decidiu seguir os
conselhos de quem tem um pouco mais de juízo ou experiência política e
simplesmente deu “banana” para o povo e fez as pazes com os ministros do
Supremo, inclusive "beijando" as mãos deles, em sentido implícito de
pedido de perdão pelas ofensas, grosserias e agressões colecionadas ao longo do
tempo, que nem faziam o menor sentido, porque, em ambiente de pessoas
civilizadas e racionais, as demandas são sempre discutidas por meio do diálogo em
alto nível de conversa, tudo em harmonia com o ordenamento jurídico, onde se
prevalecem os argumentos e a verdade sobre os fatos demandados.
Ou seja, o presidente do país
decidiu da melhor maneira que realmente satisfizesse às suas conveniências
pessoais e políticas, tendo, ao final, mandado o recado muito claro para aquele
povo que foi enganado na sua ingenuidade de ter ido maciçamente para as ruas do
país, com muito sacrifício e ainda sob
risco da ameaça da Covid, tendo a certeza final de que, para o real sentimento
do presidente tupiniquim: “que o povo se exploda!”.
Resta se lamentar todo ocorrido,
ficando a certeza de que o povo precisa avaliar este momento, exatamente diante
das circunstâncias, para apenas exigir que o presidente do país seja coerente
com as suas promessas, de modo que elas sejam devidamente cumpridas, em
ambiente de mútua confiança e credibilidade entre o eleitor e seu representante
político, tendo em vista que a quebra da palavra, no caso de que “eu faço o que
o povo quiser”, termina ficando muito feio para quem não a concretiza, à vista
de que promessa é dívida.
Enfim, parece que seja importante
que os brasileiros somente devam reivindicar o que realmente seja factível, sem
que isso não interfira nos interesses e nas conveniências políticos do
mandatário brasileiro, porque já ficou muito claro que eles prevalecem sobre os
demais assuntos, inclusive nacionais e isso é da maior gravidade para a vida de
um povo.
Brasília, em 26 de setembro
de 2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário