O presidente da República brasileiro discursou na abertura da 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, Estados Unidos da América.
O
presidente brasileiro início o discurso com a firmeza habitual de atacar, em
especial, a imprensa nacional e internacional, de modo a firmar a sua clara vocação
de inimigo da liberdade de opinião, a dizer ao mundo que se sente incomodado
com as críticas dirigidas ao seu governo e a ele, mesmo que elas façam apenas parte
do necessário diálogo interno, em que compete a ele, se discordar delas, mostrar
a verdade sobre os fatos que o incomodam, procurando agir em contestação, por meio
de argumentos e diálogos válidos e esclarecedores, como fazem os verdadeiros
estadistas que privilegiam a dignidade do cargo que ocupam.
A
propósito, um site de notícias comparou as principais declarações do presidente
do Brasil com fatos considerados verdadeiros e verificou distorções nas suas afirmações,
conforme mostram as anotações a seguir.
“Estamos há dois anos e oito meses sem qualquer caso de
corrupção”: É evidente que essa afirmação pende de respaldo, porque foi ignorado
o fato a que se refere às investigações, em especial, relacionadas à compra de
vacinas contra a Covid-19, que são objeto dos trabalhos a cargo da Comissão
Parlamentar de Inquérito do Senado Federal, para apurar se houve negligência quanto
às medidas de combate à pandemia do coronavírus.
Ou seja, a CPI apura
denúncias de corrupção envolvendo a compra de vacinas contra a Covid-19 pelo
governo, que até pode resultar em nada, mas, ao que já foi apurado, é possível que
possa haver revelação da prática de atos irregulares, o que se recomendaria prudência
enquanto não se tenha o resultado das investigações.
A
propósito disso, há outro caso que diz respeito à aquisição de doses da vacina
Covaxin, por meio de contrato com a empresa Precisa Medicamentos, com possível
superfaturamento e tráfico de influência na negociação.
Existe
ainda suspeita de irregularidade referente ao pedido de propina, por agente público,
de US$ 1 por dose, em troca de assinatura de contrato de venda de vacinas da
AstraZeneca com o Ministério da Saúde.
Por
seu turno, não existe nada de verdade que o presidente do país seja tão honesto
como apregoado por ele próprio, senão ele jamais teria resolvido se juntar em
ilícita parceria com o mais do que famigerado Centrão, e ainda de forma
vexaminosa e humilhante, para os padrões da ética e da moralidade, na administração
pública, por ele propalada na campanha eleitoral, porque esse espúrio acordo
envolve a distribuição de cargos e emendas parlamentares, no contexto imundo e
fedorento, em termos de promiscuidade, que foi capaz de contaminar, de forma
indelével, a gestão dele.
Essa
forma inadmissível de procedimento é pura corrupção, que não aquela clássica de
se meter a mão na botija, mas se trata sim do desvio da finalidade pública, com
o envolvimento de recursos públicos, para a compra de apoio político no
Congresso Nacional, no sentido de se evitar a abertura de processo de
impeachment do presidente do país, somente, sem qualquer vinculação com o
interesse público, que jamais poderia se efetivar, os quais necessariamente se
vinculam os atos na gestão pública, em especial no que diz às funções
constitucionais da incumbência do presidente da República.
“Nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental
tão completa quanto a nossa”: No que se tem conhecimento, o atual governo federal,
na prática, incentivou o desmonte da legislação ambiental e enfraqueceu os
órgãos de controle, por meio de políticas ambientais facilitadoras do
agronegócio, fato este que tem sido objeto de inquérito de iniciativa do
Ministério Público Federal.
O
referido órgão alega que houve a desestruturação de áreas de controle em quatro
frentes, sendo que uma delas aconteceu com a fragilização normativa, tendo a
liderança do Ministério do Meio Ambiente, que teria contribuído para
enfraquecer o arcabouço da legislação ambiental, para facilitar a vida de
grandes agricultores e isso o governo não tem como negar, à vista do seu
fomento à agricultura, devidamente comprovado com excelentes colheitas.
Os
procuradores citam, por exemplo, a mudança de normas de proteção da Mata
Atlântica, por meio de mera portaria do Ministério do Meio Ambiente, deixando
de ser observada a legislação específica para o bioma, para cujo controle exige
a aplicação do Código Florestal, fato este que os procuradores definem como “decréscimo
de proteção”.
"Somente nos primeiros 7 meses desse ano, criamos
aproximadamente 1 milhão e 800 mil novos empregos": Embora essa informação esteja em
conformidade com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(Caged), divulgados pelo Ministério da Economia, importa se destacar que o governo,
em janeiro de 2020, alterou a metodologia desse cadastro e passou a levar em
consideração as informações do eSocial.
Diante
disso, houve a inclusão de mais profissionais na base de análise, como os
temporários e os bolsistas, por exemplo, o que diferencia da metodologia usada
até dezembro de 2019, cujo artifício contribuiu para alterar, de forma positiva,
os números de criação de empregos.
"No último 7 de setembro, data de nossa
Independência, milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às
ruas, na maior manifestação de nossa história": A afirmação tem sido contestada,
porque o ato com pautas antidemocráticas, exatamente por defenderem, em
especial, a extinção do Supremo Tribunal Federal, não teria sido a maior
manifestação da história do país, por haver registro de que o maior movimento de
protesto política teria ocorrido na cidade de São Paulo, em atos favoráveis ao
afastamento da então presidente da República, em 2016.
Esse
fato tem sim o peso de mostrar o apoio ao presente do país, porque o movimento populacional
socorreu apelo feito pelo mandatário, que alimentava o desejo de decretar atos
golpistas, que foram abortados em boa hora, principalmente por falta de apoio
político, exatamente pelo afastamento das principais lideranças do Congresso
Nacional, que negaram apoio aos possíveis atos de exceção.
“Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do
médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho
Federal de Medicina”: Na verdade, o governo adotou postura anticiência
durante a pandemia e recomendou o chamado “tratamento precoce” com a adoção de
medicamentos declarados de nenhuma eficácia contra a Covid-19, também não sendo
correta a afirmação de que ela se tratava de diretriz adotada pelo Conselho
Federal de Medicina, porque o referido conselho dá autonomia para os médicos
receitarem remédios fora das orientações de bula, que é o chamado uso “off label”,
o que é diferente de recomendação especifica do tratamento com determinado remédio.
Consta,
no site do CFM, a seguinte observação: “Deve
ser lembrado que a autonomia do médico e do paciente são garantias constitucionais,
invioláveis, que não podem ser desrespeitadas no caso de doença sem tratamento
farmacológico reconhecido —como é o caso da covid-19—, tendo respaldo na
Declaração Universal dos Direitos do Homem, além do reconhecimento pelas
competências legais do CFM, que permite o uso de medicações “off label”.
Por
sua vez, é preciso se ressaltar que o medicamento somente é considerado eficaz após
passar por estudos clínicos e metodológicos que atestem seus benefícios e
riscos, porquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou estudo, em
março do corrente ano, sobre medicamentos preventivos, no qual “faz uma recomendação forte contra o uso
de hidroxicloroquina”, tendo citada a análise de seis estudos/pesquisas
pertinentes.
Em
termos científicos, até o momento, não há estudos suficientes que comprovem o
benefício da ivermectina na prevenção ou tratamento em qualquer estágio da doença,
razão por que a OMS ter declarado que “não temos evidências persuasivas de
um mecanismo de ação da ivermectina na Covid-19” e, com base nisso, ela
recomenda que o medicamento não seja usado, exceto no contexto de um ensaio
clínico.
É
evidente que, na prática, tem-se conhecimento que muitos doentes foram curados
ou não pioraram em razão do uso desse medicamento, mas isso não seria capaz de
o presidente do Brasil se mostrar afrontoso às autoridades que cuidam da saúde
mundial, sendo de melhor tom que ele até reconhecesse as qualidades do remédio,
mas isso, por cautela, como nem médico é, que ficasse apenas com ele, à vista
de que a posição do principal órgão da saúde tem por base estudos científicos e
isso é fato, não competindo a mais ninguém tentar contestar ou mostrar o contrário,
quanto mais sem se dispor de nada para comprovar em contrário, salvo os casos
de cura colacionados, que são irrelevantes perante a ciência, que se baseia em
estudos precisamente com pessoas.
O
presidente brasileiro demonstrou insensibilidade e desprezo às vacinas,
chegando a dizer que era contra a obrigatoriedade da vacinação, em dissonância
com os demais os governos mundiais, que fizeram o máximo possível para a proteção
de seus povos contra a Covid-19.
Em termos
de discussão política, não é muito provável que não tenha pertinência a afirmação
do presidente do país de que o Brasil corria o risco de virar um país
socialista ou comunista, precisamente por falta de parâmetros, em forma de
fatos concretos ou até mesmo de indícios, eis que nunca, em especial nos
últimos tempos, até mesmo quando ele foi governado por partido socialista,
houve esse risco.
A verdade
é que o Brasil sempre esteve sob a égide da normalidade democrática, com os
auspícios da Constituição Federal, promulgada no final de 1988, quando, a
partir de então, o país tem as suas instituições constituídas legalmente funcionando
normalmente e sem nunca ter passado por qualquer abalo ou ameaça nesse sentido,
em que pese o atual presidente ter tentado, sem sucesso, decretar, recentemente,
medidas golpistas, com o apoio do povo, que foi às ruas movimento de protestos,
no último dia 7 de setembro, que foram abortadas por falta de respaldo
político, quando os principais congressistas o deixaram sozinho no barco que estava
prestes a afundar com ele sozinho dentro.
Também
inexiste consistência a afirmação do presidente brasileiro de que o governo dele
teria recuperado a credibilidade internacional do Brasil, quando os fatos
mostram que o isolamento do país tem muito a ver com a política ambiental que
contribuiu para a destruição das florestas brasileiras e isso motivou o isolamento
do país das grandes nações, cujos líderes, salvo um deles, não quiseram encontro
com o brasileiro, ou seja, no momento a credibilidade internacional do país é a
pior possível, conforme mostram os fatos, diante das brigas protagonizadas pelo
presidente tupiniquim, em passado recente, em face das questões ambientais
mundiais.
Esse fato
se evidencia em especial porque ninguém no mundo tem interesse em contatá-lo
nem o ouve mais, possivelmente em razão da sua postura isolacionista e negacionista,
além de sua deliberada posição de privilegiar políticas voltadas para a
destruição das nossas florestas, com destaque para a região amazônica, com a
finalidade da implantação de injustificáveis projetos referentes à ocupação da
região, com a exploração da agricultura rudimentar.
A vergonha
do Brasil é acentuada quando o presidente diz que preserva a floresta amazônica,
quando é sabido que o Inpe registra, mês após mês, a devastação ambiental na
região, a despeito de não haver medidas à altura para combatê-la.
O
presidente também disse que as demandas indígenas estão sendo protegidas, quando
a maioria dos silvícolas está sendo incomodada com a invasão e a exploração de suas
terras, quando é sabido que a luta deles é pela demarcação de suas propriedades,
que estão sendo invadidas e tomadas, na marra, por latifundiários, mineradores
e exploradores de suas riquezas.
Por
fim, o presidente brasileiro chegou a afirmar que as manifestações de Sete de
Setembro tiveram como objetivo defender a democracia, quando o seu propósito
não era exatamente com essa finalidade, porque a defesa da democracia não
deveria inserir a advocacia do fechamento do Supremo Tribunal Federal, inclusive
ele aproveitou o ensejo para chamar um ministro da corte de canalha, tendo afirmado
que não cumpriria mais as decisões adotadas por ele, em clara aversão ao
compromisso de posse, quando jurou cumprir a Constituição e as leis do país,
abrangendo também as decisões judiciais, conquanto deixar de cumprir decisão do
Supremo implica pisar sobre juramento de posse.
Para
que não fiquem dúvidas sobre o comportamento golpista do presidente do país, no
discurso do dia 7 de setembro ele anunciou que pretendia reunir o Conselho da
República no dia seguinte, naturalmente para tratar de possível decretação de
medidas fora das quatro linhas, ou seja, ao arrepio da Constituição, porque, se
as medidas pertinentes estivessem em conformidade com o ordenamento jurídico do
país, não precisaria do aconselhamento do mencionado órgão especial.
O
certo mesmo é que o presidente, não tendo apoio para a decretação das medidas
golpistas, preferiu acolher sugestão para a assinatura de “Declaração à Nação”,
onde ficava ali evidenciada a sua transformação de leão em gatinho, que jurava
se comportar em estrito respeito à liturgia do cargo presidencial, exatamente
por ter sido obrigado a perceber que ele tinha ido longe de mais com suas
injustificáveis e inúteis agressões a ministros e à própria corte, que, por
pouco, não penalizada com os arroubos do presidente sempre descontrolado e impulsivo.
O
presidente do país prometia fazer o que o povo quisesse, mas terminou mudando
de ideia, evidentemente para o bem do Brasil, embora tivesse ocorrido que ele não
teve coragem nem dignidade para explicar, que é do seu dever como homem
público, para quem lhe deu carta branca para agir, os reais motivos da sua
surpreendente mansuetude, tendo ficando muito feio para ele, que seria mais
elegante se ele tivesse dito que foi obrigado a mudar o seu comportamento
porque poderia perder o cargo e ainda correr o risco de ficar preso.
A
ideia que ficou e todos imaginavam assim era a de que a referida singela declaração
era realmente para valer, que fosse contribuir para mudar o comportamento do
mandatário brasileiro, mas uma vez mais vem ele aparecer no principal palco da
ONU, para demonstrar que não é da sua índole mudança radical, à vista do seu
sentimento negacionista, que tem dificuldade de encarar a real cátedra de
estadista, com a sensibilidade de tratar os assuntos sob a ótica somente do interesse
público, em plano da verdade, sem necessidade de agredir nem criticar ninguém, exatamente
porque isso não faz parte das suas funções presidenciais.
O
presidente brasileiro se comportou como verdadeiro candidato a cargo político,
ao afirmar, no principal palco político do mundo, o seu desejo de apresentar o
Brasil diferente somente dele e de seus seguidores, como se existisse outro Brasil
de seus adversários que somente pode existir em campanha eleitoral, quando há
declarados oponentes ao mesmo cargo, o que não é o caso, em se tratando de
pessoa que representa o país em evento especial de abertura de trabalho, onde
se exige o mais alto nível de seriedade no tratamento dos assuntos, com embargo
dos ressentimentos políticos, porque isso só mostra o nível do mandatário, que
não se incomoda de mostrar as mazelas internas para o mundo.
Afinal, o
presidente brasileiro se apresentou ao plenário da ONU não como o verdadeiro estadista,
aquele que tem apenas o compromisso de mostrar a verdadeira grandeza do Brasil,
com os seus valores representativos do seu povo, que vem se esforçando para
contribuir para o seu progresso, sem nada que sequer patenteasse uma nação
esgarçada por ferrenha disputa política e brigas com a imprensa, conforme ele
achou de suma importância que a roupa suja fosse mostrada no palco da ONU.
Ficou ali
a evidência do nível da principal autoridade do país, que, diante da relevância
dos ouvintes do discurso, certamente que mereciam, no mínimo, ser poupados de
tamanho vexame, principalmente porque é sabido que, em todas as nações há
igualmente sujeira, mas ela e lavada no próprio país, sem necessidade da sua disseminação
pelo mundo, como fez o mandatário brasileiro, por certo, por achar que isso
pega bem para autoridade do seu quilate, cujo ato pode ser definido como
vergonha internacional.
Por
último é de se lamentar profundamente que apaixonados apoiadores do presidente da
República tenham se vangloriado exatamente porque ele se apresentou no mais
importante cenário mundial da ONU para mandar recados duros, grosseiros, desaforados
e até mesmo verdadeiros e necessários, mas o uso dessa tribuna ganha relevo
justamente para a produção de efeitos contrários àqueles, no qual o estadista
competente e inteligente aproveita o ensejo para a elevação e a relevância dos salutares
princípios diplomáticos, onde, muitas vezes, ele é aplaudido de pé e
demoradamente, em razão de ter discursado em alto nível, na devida elegância à
altura da importância que precisa ser atribuída ao evento da maior
expressividade mundial.
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