O presidente da República divulgou, ontem, texto intitulado "Declaração à Nação" no qual ele afirma que nunca teve "intenção de agredir quaisquer dos poderes", sob a alegação de que "as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de 'esticar a corda', a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia".
Trata-se
de substancial mudança de comportamento do presidente do pais, que, em ato político
em São Paulo, no Dia da Independência, ele havia afirmado que não mais
cumpriria decisões de um ministro do Supremo, em termos afrontosos e de desprezo
à autoridade e à Constituição, bem assim: "Dizer a vocês que, qualquer
decisão do senhor Alexandre de Moraes, este presidente não mais cumprirá. A
paciência do nosso povo já se esgotou, ele tem tempo ainda de pedir o seu boné
e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais".
O
presidente do país declarou ao público de apoiadores, sob a forma de clara ameaça,
que "Ou o chefe desse poder enquadra o seu (ministro) ou esse
poder pode sofrer aquilo que nós não queremos".
Ao
que se sabe, a divulgação da "Declaração à Nação" foi por conta de
conselho ao presidente brasileiro por seu antecessor, que foi especialmente
buscado em São Paulo para importante conversa sobre a crise institucional, tendo
resultado na divulgação de "manifesto de pacificação", diante do que
se pode denominar da explosão da crise criada dentro do Palácio do Planalto,
que poderia se estender por longo tempo, causando sérios problemas, em
especial, para a economia nacional e a vida dos brasileiros.
No
texto, o presidente do país credita a crise institucional a "discordâncias"
em relação a decisões de um ministro do Supremo e afirma que as questões "devem
ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a
observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art. 5º da
Constituição Federal".
O
presidente do país afirmou que "Quero declarar que minhas palavras, por
vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre
visaram o bem comum".
O
curioso é que, nesse proveitoso encontro, o ex-presidente da República promoveu
importante contato telefônico entre o presidente brasileiro e o ministro considerado
inimigo dele, cuja conversa foi classificada como amena e teve caráter
institucional, segundo a afirmação de jornalista.
O
presidente do país pediu arrego ao seu antecessor, que conseguiu que ele
falasse com o ministro do Supremo, na tentativa da celebração da paz entre
ambos, que se trata de atitude bastante louvável e de valorização do estadista,
embora isso não limpa o seu filme perante a opinião pública, pelo tanto que ele
disse contra a honra e a dignidade do magistrado e isso não se apaga tão
facilmente, por meio de simples contato telefônico, mas sim com as reais
atitudes presidenciais, de agora em diante, que precisam ser de muita de muito
sinceridade e respeito princípios constitucional e democrático.
Ao
que tudo indica, com a mentalidade mais focada para os interesses nacionais,
deixando de lado a defesa de seus ambiciosos projetos políticos, que estavam
sendo prioritariamente cuidados por ele, nos últimos tempos, o presidente do
país reconhece que tenha feito ataques ao Supremo, mas ele afirma no texto à
nação que sempre esteve "disposto a manter diálogo" com os
demais poderes da República, em que pese os fatos mostrarem o contrário.
Por
fim, o presidente do país disse que "Sempre estive disposto a manter
diálogo permanente com os demais poderes pela manutenção da harmonia e
independência entre eles", declaração esta que distorce completamente da
verdade, se for levado em consideração que ele nunca se dispôs a conversar de
forma civilizada para a busca do entendimento, a exemplo do projeto do voto
auditável, que poderia ter tido final feliz se ele tivesse se dignado a dialogar
educadamente com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ao invés de ter
partido para agressões e muitas críticas, cujo resultado foi o malogro das
pretensões nesse sentido.
Antes
dessa declaração à nação, até então por falta de manifestação do presidente do
país, eu já havia começado a escrever no sentido de que, diante do estrondoso é
inquestionável apoio popular mostrado ao mundo e ainda tendo em vista a disposição
dele de reunir o Conselho da República (que não aconteceu), para possível decretação
do Estado de Sítio, só restava se imaginar que o mandatário brasileiro poderia adotar,
imediatamente, o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal,
que era o desejo manifestado por seus apoiadores, no último movimento das ruas,
de modo a se promover a imprescindível limpeza “democrática”, tão ansiada pelos
bravos seguidores dele.
Ou
seja, tendo por base o respaldo do povo, o presidente do pais poderia sim ter adotado
medidas drásticas, para a implantação das reformas estruturais do Estado e a
modernização do sistema eleitoral, com o enxugamento da máquina pública, ou
então, se nada disso acontecesse, somente restaria a ele renunciar ao cargo,
porque não têm o menor cabimento que o mandatário do país tenha recebido a
chave de ouro dos brasileiros, para a deliberação de importantes medidas, e simplesmente
nada fizesse e ainda tivesse a indelicadeza de permanecer no cargo, apenas no
exercício da pura e recreativa vaselinagem.
Vejam-se
que o movimento das ruas, em apoio ao presidente do país, contou com a presença
das pessoas mais esclarecidas sobre as questões nacionais, que levaram a ele
maciço apoio de suma importância, como forma de decidir, que é algo
simplesmente extraordinário e de muito peso político que a inteligência do
verdadeiro estadista não teria a menor dúvida para pôr em prática a revolução
que se fizesse necessária, tendo a cobertura do povo e das Forças Armadas, que
são os principais ingredientes para o governo agir, em termos golpistas, porque
à margem da Constituição.
Não
obstante, o presidente do país brinda a nação com mudança da estratégia inócua
de agressões e críticas a ministros e ao Supremo, que vinha adotando de forma
atabalhoada e em dissonância com os princípios da salutar administração, sob o
pálio da modernidade, da civilidade e da responsabilidade.
Sobre
a nota tela, ao dizer que nunca teve “intenção de agredir quaisquer dos
poderes”, o presidente brasileiro estar assumindo que é o maior mentiroso
da história republicana, porque os fatos mostram, com a maior clareza, que ele
levou a vida toda no governo agredindo, dia após dia, em verdadeiro massacre, ministros
e o próprio Supremo, com palavras duras e desconcertantes, de modo a atingir a
honra e a dignidade deles.
Se
o presidente do país quisesse fazer as pazes de verdade com os integrantes do
Supremo, ele precisaria assumir seus gravíssimos erros, dizendo que tinha
errado, sem pôr culpa em nada, e pedir desculpas, a par de retirar todas as
palavras sebosas e desrespeitosas que foram proferidas por ele contra a honra
de ministros daquela corte.
Por
seu turno, não é verdade que o presidente brasileiro, na prática e efetivamente,
sempre esteve “disposto a manter diálogo” com ninguém, pois ele se colocou
como sendo o suprassumo em tudo, como autoridade soberana que somente tivesse poder de mando o Executivo.
Do
mesmo modo, o presidente do país sempre aproveitou as decisões do Supremo,
absurdas ou não, para se vangloriar que não pode governar o país porque vem
sendo impedido por elas, quando a verdade diz que ele fazia questão de sequer
recorrer do conteúdo delas, exatamente para se passar de vítima e perseguido pela
corte, mas agora ele, reconhecendo o seu gravíssimo erro, declara que as
questões "devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas
de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais
previsto no Art. 5º da Constituição Federal.”.
A
referida decisão presidencial é da maior importância para a administração pública,
porque as sentenças proferidas pelo Supremo normalmente são causadas por atos
possivelmente suspeitos de irregularidades e estes podem ser devidamente
justificados e esclarecidos por meio dos recursos, na forma do direito
constitucional da ampla defesa e do contraditório, com a vantagem de mostrar,
se for o caso, a inconsistência das decisões, que eram aceitas, em muitos
casos, para o aproveitamento da prática da vitimização usada indevidamente pelo
Palácio do Planalto.
Enfim,
é sempre muito bom que venha um dia após o anterior, a possibilitar que o “leão”
que rugiu para pregar o desrespeito à Constituição, às decisões do Supremo e chamar
um ministro de “canalha”, dando a entender que era o começo do tenebroso golpe,
com a intenção de reunir Conselho da República, para a decretação do Estado de
Sítio, percebesse que, diante do risco que corria do impeachment do seu mandado,
em razão do vislumbrar do retrocesso constitucional à vista, com a ruptura
institucional, o poderoso animalzinho que estava sozinho no barco, porque ele contava
apenas com o apoio de seus seguidores, o que era insuficiente para a
permanência no poder.
Essa
terrível situação mostrava que o presidente tinha saído bem mais fraco depois
do apoio do povo, diante da possibilidade da decretação de atos antidemocráticos,
que não agradavam à classe política dominante, dando a certeza para ele de que foi
o contrário o resultado da convocação, não tendo valido de nada o seu esforço,
porque ele queria ter sido fortalecido no jogo de braço, para a garantia do seu
golpe, que tornou verdadeiro fracasso e a consagração de político derrotado por
suas atitudes impensadas e desastrosas, ante o reconhecimento por seu autor.
O
presidente poderia ter reconhecido, com grandeza, a sua fragorosa derrota, mas
não teve condições de fazê-lo com a própria capacidade, tendo socorrido de
texto escrito por seu antecessor no cargo, um pacificador que ele contou para recuar,
diga-se, de passagem, em boa hora, das suas reais e maléficas intenções golpistas.
Não
obstante, o presidente tem a dignidade de reconhecer seus erros e pedir
desculpas aos brasileiros e, o mais importante, ao ministro do Supremo, o seu
maior desafeto político, em especial, em face do questionamento de decisões adotadas
por ele.
Ao
contrário de seus idólatras seguidores, o presidente do país reconhece que
vinha prejudicando a vida dos brasileiros com as suas atitudes estabanadas,
agressivas e inconsequentes, que estavam também levando o Brasil ao abismo,
exatamente porque elas se distanciavam dos salutares princípios da sensatez, da
tolerância, da competência e da responsabilidade públicas.
No
geral, o presidente brasileiro aproveita o ensejo para juntar, na mesma mensagem,
que sequer foi feita por seu governo, mas sim por ex-mandatário brasileiro, um conjunto
de mentiras que revela a verdadeira personalidade de quem poderia e deve ser sincero,
pelo menos agora, para ter contado para os brasileiros a realidade do que
realmente aconteceu e quais as intenções consistentes nas bravatas insistentemente
produzidas em forma de críticas e agressões que somente geraram discordâncias e
prejuízos aos interesses dos brasileiros, uma vez que as suas palavras, segundo
ele, “decorreram do calor do momento e dos embates que sempre
visaram o bem comum", quando elas resultaram sim da vontade apenas de
mostrar autoridade e poder.
É
preciso sim que o mandatário brasileiro tenha a dignidade de assumir, como faz
agora, perante a nação, com coragem e despojamento, seus gravíssimos erros na
vida pública, embora somente depois do reconhecimento dos fracasso e insucesso
das suas perigosas e abusivas investidas contra a honra e a dignidade de
autoridades públicas, porque elas não condiziam com a conduta normal do
verdadeiro estadista, à vista da provocação do distanciamento de correligionários
e do apoio político ao governo, em que pese ainda sentir as graças de brasileiros,
como ficou provado com as manifestações de 7 de setembro, mas isso era insuficiente
para a sustentabilidade do governo, que se definhava a passos largos, no embalo
da derrocada da economia, em que tudo se encaminhava para a vala comum da
melancolia.
Conviria
sim que o presidente do país se conscientizasse em assumir, com a maior
transparência possível, que as suas atitudes não eram normais, sem necessidade
de se colocar culpa em absolutamente nada, como se o calor do momento tivesse o
condão de influenciar os arroubos de quem discursava com o propósito de somente
mostrar o poder presidencial, sem nenhum sentimento de humildade e apreço por
seus adversários, como normalmente fazem as pessoas sensatas, que pensam e
ponderam antes das suas atitudes, decisões e manifestações.
Os
brasileiros esperam que o presidente da República cumpra fielmente o que
escreveu na sua carta à nação, em especial no sentido de respeitar e observar
os princípios constitucionais pertinentes às suas funções e à liturgia do verdadeiro
estadista, que precisa sobretudo zelar pelo bem comum dos brasileiros.
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