Pela manhã, também do
dia 7 de setembro, na Esplanada dos Ministérios, o mandatário brasileiro fez ameaça
direta ao presidente do Supremo, mandando duro recado, nesse sentido: "Ou
o chefe desse Poder enquadra o seu (ministro) ou esse Poder pode sofrer
aquilo que nós não queremos. Nós todos aqui na Praça dos Três Poderes juramos
respeitar a nossa Constituição. Quem age fora dela se enquadra ou pede para
sair".
Diante disso, mais do
que imediatamente, em resposta ao mandatário do Brasil, o presidente do Supremo
afirmou que "ninguém fechará a Corte e que o desprezo a decisões
judiciais por parte de chefe de qualquer poder configura crime de
responsabilidade.”.
Aquele presidente
afirmou que “Este Supremo Tribunal Federal jamais aceitará ameaças à sua
independência nem intimidações ao exercício regular de suas funções. Ninguém
fechará esta Corte. Nós a manteremos de pé, com suor e perseverança. Ofender
a honra dos Ministros, incitar a população a propagar discursos de ódio contra
a instituição do Supremo Tribunal Federal e incentivar o descumprimento de
decisões judiciais são práticas antidemocráticas e ilícitas, que não podemos
tolerar em respeito ao juramento constitucional que fizemos ao assumir uma
cadeira na Corte. Se o desprezo às decisões judiciais ocorre por iniciativa do
chefe de qualquer dos poderes, essa atitude, além de representar atentado à
democracia, configura crime de responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso
Nacional.”.
O presidente do Supremo
disse que "Não tolerará ameaças à autoridade de suas decisões. Falsos
profetas do patriotismo, que ignoram que democracias verdadeiras não admitem
que se coloque o povo contra o povo, ou o povo contra as suas próprias
instituições. Todos sabemos que quem promove o discurso do 'nós contra eles'
não propaga democracia, mas a política do caos. Povo brasileiro, não caia na
tentação das narrativas fáceis e messiânicas, que criam falsos inimigos da
nação.”.
Por fim, o presidente da
Excelsa Corte de Justiça declarou que “o verdadeiro patriota não fecha os
olhos para os problemas reais e urgentes do Brasil. Pelo contrário, procura
enfrentá-los, tal como um incansável artesão, tecendo consensos mínimos entre
os grupos que naturalmente pensam diferentes. Num ambiente político maduro,
questionamentos às decisões judiciais devem ser realizados não através da
desobediência, não através da desordem, e não através do caos provocado, mas
decerto pelos recursos, que são as vias processuais próprias.”.
À toda evidência, o
discurso do presidente do país tem a formatação perfeito e acabada da ameaça à ruptura
da independência e da harmonia entre os poderes da República, ante às duras
críticas feitas ao Supremo, que se agrava quando ele diz ele não cumprirá mais
nenhuma decisão proferida por um ministro da corte, ou seja, seria o extremo do
cúmulo de autoridade da República passar a ignorar decisão judicial, fato que
configuraria, em tese, a prática de crime de responsabilidade pelo presidente
da República.
A verdade é que as únicas
críticas que deveriam ser produzidas, no âmbito da administração pública, são
aquelas onde o seu propósito seja para o aperfeiçoamento do cumprimento das atribuições
da incumbência dos poderes da República, que têm a importante missão
constitucional de, juntos, adotarem medidas necessárias à grandeza e ao
desenvolvimento do Brasil.
É evidente que o presidente
brasileiro sabe perfeitamente não somente as grandezas das suas funções de
chefe do Executivo, mas igualmente a importância dos seus deveres como
estadista, inclusive o conteúdo da norma cogente de que trata o artigo 85 da
Constituição, que estabelece, com muita clareza, que "São crimes de
responsabilidade os atos do Presidente que atentem contra a Constituição e,
especialmente, contra: o livre exercício do Poder Legislativo, do Judiciário,
do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação;
o cumprimento das leis e das decisões judiciais.".
A norma insculpida no
citado dispositivo significa dizer que, se ele realmente cumprir a palavra,
está optando a responder a processo de impeachment, o que seria bastante penoso,
em termos de desgaste político, ao invés de acatar a decisão e dela recorrer,
se quiser, porque isso demonstra espírito público elevado e conscientizado
sobre a responsabilidade pública do verdadeiro estadista, que precisa ser escravo
da letra escrita na Constituição, à vista do compromisso público, declarado no
ato de posse.
Aliás, a propósito, por
força do disposto no art. 83 da Constituição, o presidente da República, ao tomar
posse, em sessão do Congresso Nacional, sempre presta o compromisso, ex-vi do
parágrafo único desse artigo, nos seguintes termos: "Prometo manter,
defender e cumprir a Constituição da República, observar as suas leis, promover
o bem geral do Brasil, sustentar-lhe a união, a integridade e a independência".
As declarações do presidente
do país, ao dizer que não cumprirá mais decisão proferida por ministro, põe por
terra também as suas recentes afirmações no sentido de ele “joga nas quatro
linhas da Constituição”, dando azo para evidenciar estupenda incoerência,
ao dizer que segue a liturgia da Lei Maior, mas ao mesmo tempo alega que vai
deixar de acatar decisão judicial, quando isso está previsto como dever constitucional,
sob pena de ser obrigado a responder criminalmente e isso não bom para o
conceito do estadista, quando nega compromisso previsto na Constituição.
Diante da evolução natural
do homem, à vista das conquistas da modernidade e dos conhecimentos,
esperava-se que os governantes pudessem acompanhar esses salutares avanços, que
são a prova da maturidade histórica vinda em benefício do homem.
A negação da melhor qualidade
de relacionamento entre as instituições da República ficou patente com as declarações
do presidente brasileiro, que aproveitou o Dia da Pátria para expor seu sentimento
de ódio e intolerância, quando ele ganharia bastante simpatia como líder
nacional se dispondo à convergência, à união e à pacificação entre as autoridades
da República, tendo em conta a grandeza do Brasil, que perde o poder de integridade
e a força da luta para que, com as instituições fortalecidas, o Estado puder
ter melhores condições da prestação de mais serviços e de qualidade à população.
Ao contrário disso, o
presidente brasileiro aproveitou o Dia da Independência para declarar, de forma
egoística e prepotente, a independência do poder Executivo, procurando se
isolar dos demais poderes, inclusive se declarando imune à decisão de um
ministro, como se ele tivesse acima da Constituição e ainda como se somente ele
tivesse a importância para a resolução dos problemas nacionais, quando é sabido
que cada poder é estrategicamente importante para o desenvolvimento do Brasil,
no preciso cumprimento de seus deveres constitucionais.
O presidente da República
precisa se conscientizar de que tão importantes quanto à voz do povo são as
atitudes e as decisões das instituições que têm o poder e a força para se manterem acesas as luzes da liberdade e da independência do Brasil, conquistadas por nossos heróis, que são possíveis de discordâncias
políticas, administrativas e processuais, mas as demandas precisam ser tratadas e resolvidas,
sem desavenças nem críticas, apenas sob o prisma do respeito, da civilidade, da maturidade, da tolerância e da
humildade.
Brasília, em 9 de setembro de 2021
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