As
lideranças políticas habilidosas são capazes de perceberem o sentimento de avaliação
do eleitorado, com vistas às necessárias estratégias de sustentação na vida
pública, de modo a se manter politicamente palatável e em condições de
competitividade no jogo político, que cada vez mais vem sendo disputado em
ambiente de verdadeira truculência, onde as melhores cartadas são capazes de cacifá-las
junto aos seus fiéis seguidores.
O
presidente do país demonstrou que não teve maiores habilidades nem vocação política
nem muito menos capacidade para ampliar a sua base de apoio, no curso do seu
governo, que foi direcionado apenas para o seu mais fiel eleitorado, não tendo demonstrado
interesse na disseminação de discurso com abrangência para o resto da sociedade,
como teria sido, em se tratando de governo, que deve ser indistintamente para
todos os brasileiros.
Ao
contrário disso, o presidente do país preferiu carregar a sua pauta com discurso
de radicalização, elegendo formas de agressões e críticas não somente ao
Supremo Tribunal Federal, mas a todos quanto se opuserem ao seu estilo de
governar, com sustentação em agendas conservadoras e negacionistas, tendo negligenciado
o foco na gestão propriamente do país de incumbência presidencial, ou seja, a
pauta do dia a dia foi passada para plano secundário, inclusive no que se
refere à economia.
Com
base nesse novo contexto político, o presidente do país conseguiu afastar de si
os eleitores do centro e os moderados, tendo ainda motivado o desembarque de
muitos conservadores, podendo agora contar somente com a base de apoio bem
menor e extremamente radical, ou seja, com isso, ele vai ficando com o poder
político distante da sustentação necessária para a reeleição, conforme mostram
os fatos.
Embora
seja bastante insignificante a quantidade de eleitores consultados, as pesquisas
mostram que a rejeição ao presidente do país só cresce, em percentuais
recordes, mostrando expressiva queda de popularidade, desde dezembro último e
com ela também acompanha a queda na aprovação do governo, em índices crescentes
e preocupantes.
A
popularidade do presidente do país vem sendo alimentada, de modo geral, por segmentos
de evangélicos e habitantes beneficiados pela explosão do agronegócio, que
conta com incentivo do governo, mais especificamente nas regiões Norte,
Centro-Oeste e Sul.
Há
a constatação de que a aprovação do presidente entre os evangélicos, que antes
era forte, vem se derretendo no dia a dia, possivelmente em razão do seu
discurso com viés de forte radicalização.
O
recente isolamento ao presidente foi dado com o afastamento de grandes
empresários e banqueiros no último Sete de Setembro, quando a Febraban e entidades
empresariais criticaram o clima de instabilidade institucional e as ameaças ao
Supremo, tornando-se caso inédito, em razão de se tratar de distanciamento de
peso do governo, porque eles são os maiores formadores do Produto Interno Bruto
- PIB.
Na
verdade, o recuo estratégico do presidente do país, por meio da chamada “carta
pacificadora” ajudou a distender um pouco o ambiente muito tenso, mas não foi
capaz de promover a reaproximação dele a um dos principais setores produtivos,
principalmente à vista da volta da inflação e da falta de rumo para a política
econômica.
Importante
apoiador político baiano resume a sua frustração com o presidente do pais, ao
afirmar que “Deixei de apoiar quando ele escanteou políticos limpos em
detrimento dos conchavos com figurões do Centrão, para blindar a própria
família. É uma frustração total. Estamos num País bagunçado, sem perspectivas e
com um clima de guerra civil.”.
Um
outro político disse que “A gente vê uma sucessão de erros que é muito mais
próxima de um governo Dilma do que se esperaria de um governo minimamente
liberal. E quando vem a pandemia, foi uma tragédia a negligência, o
superfaturamento das vacinas e toda uma gestão criminosa.”.
Um
político que foi candidato à Presidência da República afirmou que “Estamos
num ambiente político conturbado, com dólar, inflação e taxa de juros em alta,
e começamos a ter o preço de commodities caindo, especialmente o minério de
ferro. O presidente não consegue trazer empregos e mudar a vida das pessoas.
Ele acabou com a esperança. Excluindo-se o grupo que é muito fiel a ele, a
realidade está chegando às pessoas, mesmo que com algum atraso.”.
O
diretor do Instituto Paraná Pesquisas deu seu o diagnóstico para o atual
governo, dizendo que “O Bolsonaro cai muito nas avaliações por causa da
economia. Se a população estivesse com dinheiro no bolso, ele poderia continuar
a falar besteiras. Com o Lula tinha corrupção e a popularidade ia bem. Hoje, se
a economia continuar assim, acabou”.
Um
cientista político da PUC-RJ disse que “a economia começa a influenciar as
ações do presidente e justifica a queda dele nas pesquisas. O discurso
golpista é um problema para os próprios eleitores do presidente. Bolsonaro
recuou porque apenas uma minoria apoiaria um golpe. Não teria apoio nem entre
os eleitores dele. Seria um nocaute. Parou de esticar a corda porque está se
isolando cada vez mais”.
O
referido cientista vê outros fatores de desgaste do presidente, ao esclarecer
que “Hoje, a CPI da Covid já chega no presidente. O discurso dele está
desconstruído. Foi candidato outsider e se construiu no público antipetista,
mas hoje ele não se escora em nenhuma base contra a corrupção. O sujeito mais
simples deseja que a vida dele não piore. Por isso, o presidente passa a
encontrar nos benefícios sociais uma tábua de salvação. Ele está correndo para
subsidiar gás e eletricidade. Senão, vai perder todo o apoio do homem simples.
Sem resolver os problemas econômicos, ele não vai ser competitivo para 2022”.
Um
pastor da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito disse que “Os
evangélicos estão retirando o apoio primeiro pela pandemia. Morreram,
proporcionalmente, mais que a média brasileira porque aderiram ao negacionismo.
Ele foi difundido dizendo-se que se você tem fé, está imune. Isso foi crueldade
um crime contra uma população que emprestou a sua fé ao presidente.”.
O
mencionado religioso acredita que outro fator que pesa contra o presidente do
país é o financeiro, porque “Há aumento da miséria, e quem perde com isso
são os mais empobrecidos. A igreja evangélica é basicamente formada por negros,
mulheres e pobres. Foi o grupo que mais sofreu com as questões econômicas”.
Já
o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores demonstra
arrependimento, tendo alegado que “Fizemos campanha para o presidente,
colocamos faixa nos caminhões. Mas percebemos que tudo o que beneficia os
caminhoneiros não tem caráter de urgência, enquanto o que é bom para os grandes
empresários tem prioridade”.
Conforme
se pode deduzir das manifestações acima, parece possível que o presidente brasileiro
tem todo direito de governar o país da maneira escolhida por ele, porém, o
caminho até então enveredado por ele somente acertou em cheio para aqueles que
estão em sintonia fina com a linha da radicalização, da intolerância e da
insensibilidade às reais funções de estadista de verdade, que sabe que a única
maneira possível de se governar sem sobressalto é por meio do diálogo
democrático e construtivo, procurando auscultar indistintamente todos os
segmentos do país, desde os empresários até a população considerada excluída de
todos os processos, exatamente porque todos os anseios precisam ser avaliados, sopesados
e considerados no momento das tomadas de decisão.
O
certo mesmo é que a situação do presidente do país não chega a ser ainda mais
complicada, até o momento, porque o seu afastamento do cargo vem sendo blindado
pelo Centrão, à vista do espúrio acordo em troca da nomeação de cargos e da liberação
de emendas parlamentares.
Certamente
que não fosse o apoio do Centrão, que preside a Câmara dos Deputado e tem poder
para manter engavetados mais de 130 pedidos de impeachment, cujo processo já
estaria em tramitação há muito tempo, não fosse a compra da consciência de
congressistas para protegerem o presidente da República, fato este que mostra a
pequenez a que ele chegou, que se sustenta no cargo com o comprometimento de verbas
públicas, que são desviadas da sua finalidade originária para a garantia dessa
vergonhosa e indigna blindagem, que não tem nada relacionado com o interesse
público, fato este que caracteriza falcatrua com dinheiro público.
A
vida política do presidente do país não está tão segura assim, porque ele teve
que ceder para assegurar o bilionário orçamento secreto, que foi obrigado a entregar
ao Centrão, grupo marcado pelo arraigado fisiologismo, para assegurar fidelidade
ao questionável e irregular acordo, por meio do qual ele se torna cada vez mais
refém desse grupo de maquiavélicos aproveitadores.
Enfim,
não há desconhecer que a extrema direita ou a extrema esquerda derivam da vocação
ínsita da democracia, fato que, em si, se insere na vida normal da cidadania de
optar livremente por filosofia de vida, com o especial detalhe de que, em
princípio, a defesa dessa tese jamais deveria prevalecer como forma de governo
que tem por finalidade a satisfação apenas do interesse público.
Na
verdade, isso é bem diferente da ideologia filosófica e partidária, que termina
desaguando, como vem acontecendo com o atual governo, na forma do deplorável
sentimento do “nós contra eles”, que dissente do ideal de união nacional,
quando se entende que país nenhum consegue progredir com o seu povo dividido,
sob o entendimento de que cada qual deve remar para o lado que melhor satisfaz
os seus interesses.
Percebe-se,
com muita clareza, que o conjunto da ópera se resume em péssima e sombria sinalização
em rumo à incerta da reeleição, diante da posição assumida pelo presidente do
país, que se define à direita radical, onde tem muitos apoiadores, mas não o
suficiente para se contar vitória, porque a sua base de apoio se consolida com
a força da radicalização, que não garante a permanência no poder, salvo por milagre,
caso persista na defesa do posicionamento escolhido.
Brasília,
em 28 de setembro de 2021
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